Começando 2013 e retomando o blog.
Em breve, novas postagens e novo visual.
Abraços,
Márcia Fernandes
Palavra de Músico
O músico como ser pensante.O músico como cidadão. Situação do músico no Brasil. Bibliografia,comentário,crítica,opinião,relato. Reflexões sobre a linguagem musical e sua presença no teatro, literatura,cinema e mídias diversas. Direito e liberdade de expressão.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Andre Midani: Do vinil ao download
"Menos de três meses após seu lançamento, meu livro foi retirado das livrarias por ordem judicial. Tendo gostado imensamente de ter escrito este livro e em virtude de muita gente ter me perguntado ”Cadê teu livro?... Decidi colocar gratuitamente nas prateleiras da Internet dois capítulos a cada quarta feira. Podem ler... Podem baixar... Podem fazer o que quiserem, se quiserem, quando quiserem.
Um grande abraço e espero que vocês gostem."
André Midani
http://www.andremidani.net/p/bio.html
Um grande abraço e espero que vocês gostem."
André Midani
http://www.andremidani.net/p/bio.html
Marcadores:
Andre Midani; industria cultural;
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
O Circo de Pulgas e a Tônica da Classe Dominante
O Circo de Pulgas deve ser originário da Romênia. Digo isso sem base alguma, talvez pensando no tempo em que a Romênia era um lugar distante e exótico. Ao menos para minha imaginação, na época em lí a respeito do Circo de Pulgas, adolescente.
Ainda sem fontes confiáveis, lembro-me de ler em algum lugar sobre como adestrar as pulgas: primeiro é necessário colocar uma certa quantidade delas num recipiente com tampa. Durante algum tempo elas pulam tentando escapar, porém, ao se chocarem contra a tampa, diminuem a altura do salto. Este treinamento faz com que, ao serem libertas, alcancem apenas a extensão do salto para o qual foram devidamente, e durante muito tempo, adestradas.
Analogamente, em nossa sociedade do controle, vivemos o momento da retirada da tampa. Vivemos uma Democracia! outro conceito que, sabe-se lá o que passa pela cabeça de cada um de nós, carece de fundamento. Somos livres! De quem? Quem nos controla?
Senão, vejamos um pouco do treinamento ao qual nos submetemos por aqui, por perto, não é preciso ir a algum lugar distante ou imaginário. Falo apenas dos comportamentos mais cotidianos, comuns a uma determinada classe social:
Se o atendimento médico público está ruim? Contrato um plano particular.
Escola pública péssima? Não só matriculo meus filhos na particular mas fundo uma escola particular : o melhor negócio há anos no Brasil, depois do tráfico de drogas, que é ilegal. E dos bancos. Mas a escola e os bancos são legais.
As casas, moradias estão sendo assaltadas? Segurança particular, condomínios, edifícios que mais parecem bunkers.
Transporte público? Nem pensar! Automóvel particular. Estacionar? Paga o flanelinha.
O cinema foi derrubado para virar igreja? Vou ao cinema do shopping. Virou estacionamento? Pago o estacionamento. De repente vou à igreja também.
A TV "aberta" está ruim? Assino a TV "fechada". O programa é medíocre? Mudo de canal.
A Universidade Pública está sendo desmantelada? Pago uma particular, quero meu diploma, ora!
Agora, para os músicos em especial: Tem que pagar a OMB pra poder tocar? Pago, ora, que se dane a Constituição. Quanto é o cachê, a caixinha?
A propósito, quem é que respeita a Constituição Brasileira, em outras palavras: A Carta de Princípios da Nação?
Então vem a preguiça, Macunaíma, que pregui...
Seguimos assim, a nação das Pulgas amestradas: pagando e votando nos candidatos indicados e fabricados pelas TVs "livres" de um país "livre", na internet "livre", na imprensa "livre". Libertas quae sera tamem e outras milongas mais.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
O músico que ouve
Outro dia assisti a um video-entrevista do Hermeto onde ele diz que há o músico que toca, o músico que ouve, o músico que faz entrevista, o músico que cozinha, o músico que cuida dos filhos, enfim, Hermeto defendendo a sua tese de que todos somos músicos e de que tudo é música. Extremamente confortante para alguém que, como eu, sempre desfrutou da convivência com excelentes músicos brasileiros.
Algo como: - Dize-me com quem andas e te direi quem és - traz à minha existencia um significado e um sabor maior. Longe de querer ser um "crítico musical", longe mesmo, bem longe, pois essa função está bastante e cada vez mais distorcida, a proximidade com a música e com os músicos fez de mim uma "apreciadora" com conteúdo suficiente para compreender e desenvolver um sentido pouco comum na atual realidade musical do Brasil: o de ouvinte.
Além da música criada pelos músicos posso ouvir também o que eles falam sobre suas composições, processos de criação, expectativas em relação a cada obra, suas frustrações diante da manipulação exercida pelos agentes do mercado na formação do "gosto musical", dificuldades para produzir, para estudar, para encontrar instrumentistas, intérpretes e orquestras à altura do que escrevem.
E esse último aspecto que me foi dito em conversa recente com uma grande artista brasileira que tenho o prazer de conhecer desde "a mais tenra idade" (compositora, flautista, arranjadora e produtora) ofereceu a minha "função de ouvinte" mais um dado para reflexão: imaginei o quanto deve ser angustiante para o compositor ouvir uma música dentro da sua cabeça e não encontrar músicos instrumentistas com formação e maturidade suficiente para interpretá-la.
E eu pensava nisso no exato momento em que desfrutava de uma posição especial: eu estava entre um piano e uma bateria tocados, eu enfatizo: tocados - porque por mestres, por dois músicos que dedicam toda a vida a criação musical. Minha satisfação ali, ouvindo aquele som sem a intermediação de amplificadores e mixers e surrounds, a bem dizer, um som acústico, numa brincadeira de "gente grande", teve um efeito cujas proporções eu nem pretendo avaliar. Satisfação, é a palavra, e basta.
Depois de ouvir a qualidade fica impossível escutar a quantidade.
Eu me considero uma ouvinte de qualidade e essa condição também exige dedicação e esforço constante. Além de tudo, lidar com a dificuldade de "reconhecer-se como tal querendo ser como o qual" exige uma boa dose de autocrítica. Um amigo muito querido e músico excelente costuma dizer que: "para ser Einstein não basta mostrar a língua".
Nenhuma infelicidade nisso, muito pelo contrário. Acredito que minha inteligência está em procurar pela excelência. Eu a encontro nos lugares certos, fora da mídia, acima da média.
Como público ouvinte procuro ir até o lugar onde a música de alta qualidade acontece, mesmo que seja na sala de visitas de algum amigo da adolescencia que continuou perseguindo essa trilha, eles abrem os caminhos e eu passo por lá. Eu me eduquei para isso.Não tenho nenhum problema ao fazê-lo pois sei que eles também precisam de mim e desejam meus ouvidos curiosos e preparados, faço a minha parte, sempre foi assim. A satisfação maior é confirmar que o som continua sendo bom, cada vez melhor, e que eu estou atenta.
Portanto, ouvintes, vão à luta! Procurem por eles porque eles estão procurando por nós.
Dedico essas palavras e pensamentos a todos nós e em especial a Léa Freire e Azael Rodrigues.
Algo como: - Dize-me com quem andas e te direi quem és - traz à minha existencia um significado e um sabor maior. Longe de querer ser um "crítico musical", longe mesmo, bem longe, pois essa função está bastante e cada vez mais distorcida, a proximidade com a música e com os músicos fez de mim uma "apreciadora" com conteúdo suficiente para compreender e desenvolver um sentido pouco comum na atual realidade musical do Brasil: o de ouvinte.
Além da música criada pelos músicos posso ouvir também o que eles falam sobre suas composições, processos de criação, expectativas em relação a cada obra, suas frustrações diante da manipulação exercida pelos agentes do mercado na formação do "gosto musical", dificuldades para produzir, para estudar, para encontrar instrumentistas, intérpretes e orquestras à altura do que escrevem.
E esse último aspecto que me foi dito em conversa recente com uma grande artista brasileira que tenho o prazer de conhecer desde "a mais tenra idade" (compositora, flautista, arranjadora e produtora) ofereceu a minha "função de ouvinte" mais um dado para reflexão: imaginei o quanto deve ser angustiante para o compositor ouvir uma música dentro da sua cabeça e não encontrar músicos instrumentistas com formação e maturidade suficiente para interpretá-la.
E eu pensava nisso no exato momento em que desfrutava de uma posição especial: eu estava entre um piano e uma bateria tocados, eu enfatizo: tocados - porque por mestres, por dois músicos que dedicam toda a vida a criação musical. Minha satisfação ali, ouvindo aquele som sem a intermediação de amplificadores e mixers e surrounds, a bem dizer, um som acústico, numa brincadeira de "gente grande", teve um efeito cujas proporções eu nem pretendo avaliar. Satisfação, é a palavra, e basta.
Depois de ouvir a qualidade fica impossível escutar a quantidade.
Eu me considero uma ouvinte de qualidade e essa condição também exige dedicação e esforço constante. Além de tudo, lidar com a dificuldade de "reconhecer-se como tal querendo ser como o qual" exige uma boa dose de autocrítica. Um amigo muito querido e músico excelente costuma dizer que: "para ser Einstein não basta mostrar a língua".
Nenhuma infelicidade nisso, muito pelo contrário. Acredito que minha inteligência está em procurar pela excelência. Eu a encontro nos lugares certos, fora da mídia, acima da média.
Como público ouvinte procuro ir até o lugar onde a música de alta qualidade acontece, mesmo que seja na sala de visitas de algum amigo da adolescencia que continuou perseguindo essa trilha, eles abrem os caminhos e eu passo por lá. Eu me eduquei para isso.Não tenho nenhum problema ao fazê-lo pois sei que eles também precisam de mim e desejam meus ouvidos curiosos e preparados, faço a minha parte, sempre foi assim. A satisfação maior é confirmar que o som continua sendo bom, cada vez melhor, e que eu estou atenta.
Portanto, ouvintes, vão à luta! Procurem por eles porque eles estão procurando por nós.
Dedico essas palavras e pensamentos a todos nós e em especial a Léa Freire e Azael Rodrigues.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
A Divina Increnca
Finalmente algo que justifica a primeira frase no cabeçalho deste blog: "O músico como ser pensante".
Há exatos 4 dias ouço quase que ininterruptamente (rítmica palavra) o CD a Divina Increnca.
A história toda é muito bem contada por Lucas Rodrigues de Campos no http://so0jornal.wordpress.com/jazz/divina-increnca/ :
"A Divina Increnca [DI] não foi só uma banda, nem um disco, foi além. Um conceito que extrai ao máximo o significado do título de um livro que encantou Azael, logo que este leu uma resenha na Folha de São Paulo escrita por um amigo dos tempos de universidade. Alexandre Marcondes Machado (1892 – 1933) encarnou Juó Bananére para registrar a italianada paulistana dos anos 20, as bellas figlia lá do Bó Ritiro, e (porque não?) para almejar a Gademia Baolista de Letras. Da vanguarda de 1922 para a segunda metade da década de 70: um estudo ao âmago do fazer música. Azael Rodrigues, baterista da banda define: “Divina Increnca era uma síntese do som do grupo. O nome é/era perfeito porque expressa a tensão dos contrários e faz essa brincadeira com o que é iconoclasta, o Divino”. Divina seria o som mais refinado, mais respeitoso para eruditos ranzinzas, e a “Increnca uma vontade de explorar, de tocar de forma jazzista”.
Azael Rodrigues passou pelos bancos do Depto. de Música da ECA. Digo "passou" porque ele, com toda a sua agilidade de grande baterista e pensador, nem siquer foi arranhado pelas garras da tutela do então diretor Olivier Toni: "Eu ficava me coçando querendo fazer alguma coisa, falando com todo mundo, mostrando meus temas no violão". De lá ele tirou o que de melhor havia: contato com as obras de Varèse, Ives, Cage, Cowell, a turma toda do dodecafonismo, eletro-acústica e etc, nas aulas do Willy Corrêa e a grande sacada humorística do Premeditando o Breque. Aulas e grupo que eu frequentava como ouvinte.
Azael Rodrigues e Felix Wagner fizeram a dupla Divina Increnca que mais tarde agregou Rodolfo Stroeter (deixo aos leitores o prazeroso trabalho de busca na web,qualquer Google resolve essa questão).
"Like a message in a botle"...sexta-feira, 26 de maio de 1978, ainda sem o Rodolfo, aparecem aqueles meninos no palco do Masp. No programa, papelzinho cor de rosa, mostraram a que vieram:
Passagem meteórica pela pequena aldeia conservadora e reacionária da grande cidade S.Paulo. Um verdadeiro luxo em meio ao lixo cultural do momento onde a inteligentzia paulistana só saía de casa depois de ler a coluna do JT que, diante da evidência, não teve como não indicar.
Além da música que tem ressoado da minha janela durante os últimos 4 dias, para total perplexidade dos moradores deste condomínio de classe média onde vivo, o que tem ocupado meu pensamento é a questão do envolvimento com o trabalho musical. Os garotos do A Divina, e em especial o Azael, tinham um compromisso visceral com o que criavam. Minha experiência pessoal passa por um tremendo insight que ocorreu num desses shows do a Divina quando ouví a bateria totalmente melódica e vibrante, mudança total de conceito, dialética, nada de esperar a bola da vez do solo, música viva o tempo todo. O incômodo, a encrenca é exatamente essa: lançado ao mar em 78, aquele papelzinho cor de rosa do Masp é muito mais que uma mensagem, é uma bomba na consciência cansada e acomodada da música que percorre os teatros e CDs de hoje: modismos bem comportados à espera de um público que reage à altura do que se apresenta: amortecidamente. Tudo muito bem acondicionado, direitinho, equilibradinho. Uma críticazinha aqui, outra alí. Uma carinha bonita estampada e bem vestida pela griffe da hora, uma vozinha educada, um mocinho meio rebelde, um espaçozinho light, legal...é isso aí, laiáraiá, e vamu que vamu...
Azael lembra-me outro dia do Itamar saindo de dentro de um enorme ovo no palco. Sodades de Zan Paolo.
Há exatos 4 dias ouço quase que ininterruptamente (rítmica palavra) o CD a Divina Increnca.
A história toda é muito bem contada por Lucas Rodrigues de Campos no http://so0jornal.wordpress.com/jazz/divina-increnca/ :
"A Divina Increnca [DI] não foi só uma banda, nem um disco, foi além. Um conceito que extrai ao máximo o significado do título de um livro que encantou Azael, logo que este leu uma resenha na Folha de São Paulo escrita por um amigo dos tempos de universidade. Alexandre Marcondes Machado (1892 – 1933) encarnou Juó Bananére para registrar a italianada paulistana dos anos 20, as bellas figlia lá do Bó Ritiro, e (porque não?) para almejar a Gademia Baolista de Letras. Da vanguarda de 1922 para a segunda metade da década de 70: um estudo ao âmago do fazer música. Azael Rodrigues, baterista da banda define: “Divina Increnca era uma síntese do som do grupo. O nome é/era perfeito porque expressa a tensão dos contrários e faz essa brincadeira com o que é iconoclasta, o Divino”. Divina seria o som mais refinado, mais respeitoso para eruditos ranzinzas, e a “Increnca uma vontade de explorar, de tocar de forma jazzista”.
Azael Rodrigues passou pelos bancos do Depto. de Música da ECA. Digo "passou" porque ele, com toda a sua agilidade de grande baterista e pensador, nem siquer foi arranhado pelas garras da tutela do então diretor Olivier Toni: "Eu ficava me coçando querendo fazer alguma coisa, falando com todo mundo, mostrando meus temas no violão". De lá ele tirou o que de melhor havia: contato com as obras de Varèse, Ives, Cage, Cowell, a turma toda do dodecafonismo, eletro-acústica e etc, nas aulas do Willy Corrêa e a grande sacada humorística do Premeditando o Breque. Aulas e grupo que eu frequentava como ouvinte.
Azael Rodrigues e Felix Wagner fizeram a dupla Divina Increnca que mais tarde agregou Rodolfo Stroeter (deixo aos leitores o prazeroso trabalho de busca na web,qualquer Google resolve essa questão).
"Like a message in a botle"...sexta-feira, 26 de maio de 1978, ainda sem o Rodolfo, aparecem aqueles meninos no palco do Masp. No programa, papelzinho cor de rosa, mostraram a que vieram:
Passagem meteórica pela pequena aldeia conservadora e reacionária da grande cidade S.Paulo. Um verdadeiro luxo em meio ao lixo cultural do momento onde a inteligentzia paulistana só saía de casa depois de ler a coluna do JT que, diante da evidência, não teve como não indicar.
O caminho percorrido pela a Divina Increnca era previsível, nas palavras de Azael: Leve, ele se apresenta, te envolve, dá o bote e se manda. Bem ao estilo da época onde a evasão e a ordem de dispersar não era privilégio das passeatas e como bem respondeu Tom Jobim à pergunta de um jornalista: "Qual é a saída para o músico brasileiro?" Tom respondeu: " O aeoporto". De 1978 a 81 lotaram teatros onde os deixavam tocar.
O inesperado foi o lançamento do CD, 26 anos mais tarde, mantendo a capa do Miécio Café, o poema do Juó Bananére, o trabalho cuidadoso em cima de cada criação musical e o delicioso e lúcido texto de Azael : "Crônica da busca da batida perfeita".Além da música que tem ressoado da minha janela durante os últimos 4 dias, para total perplexidade dos moradores deste condomínio de classe média onde vivo, o que tem ocupado meu pensamento é a questão do envolvimento com o trabalho musical. Os garotos do A Divina, e em especial o Azael, tinham um compromisso visceral com o que criavam. Minha experiência pessoal passa por um tremendo insight que ocorreu num desses shows do a Divina quando ouví a bateria totalmente melódica e vibrante, mudança total de conceito, dialética, nada de esperar a bola da vez do solo, música viva o tempo todo. O incômodo, a encrenca é exatamente essa: lançado ao mar em 78, aquele papelzinho cor de rosa do Masp é muito mais que uma mensagem, é uma bomba na consciência cansada e acomodada da música que percorre os teatros e CDs de hoje: modismos bem comportados à espera de um público que reage à altura do que se apresenta: amortecidamente. Tudo muito bem acondicionado, direitinho, equilibradinho. Uma críticazinha aqui, outra alí. Uma carinha bonita estampada e bem vestida pela griffe da hora, uma vozinha educada, um mocinho meio rebelde, um espaçozinho light, legal...é isso aí, laiáraiá, e vamu que vamu...
Azael lembra-me outro dia do Itamar saindo de dentro de um enorme ovo no palco. Sodades de Zan Paolo.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Brasil: Democracia Facial.Todos têm o direito de ser Cara de Pau!
O sr. Danilo de Santos Miranda, diretor do SESC, afirmou que não cumpre a Lei Estadual que desobriga a filiação do músico à OMB porque a lei é só estadual.
Da próxima vez que eu for aos SESCs de S.Paulo, fumarei um maço de cigarros, porque a lei antifumo é também só estadual. Se eu vier a falecer de enfizema pulmonar, pelo menos não morrerei de raiva.
Da próxima vez que eu for aos SESCs de S.Paulo, fumarei um maço de cigarros, porque a lei antifumo é também só estadual. Se eu vier a falecer de enfizema pulmonar, pelo menos não morrerei de raiva.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Daniel Zamalloa : Llaqtaypa Violincha
"The 20-page booklet that accompanies the CD contains lyrics, translations, explanatory notes, violin tunings, instrumental configurations, and the history of the violin in Peru, beginning with the arrival of the rabel - a precursor of the violin - in the 16th century."
http://www.cdbaby.com/cd/zamalloa
http://www.danielzamalloa.com/home.html
Daniel Zamalloa nasceu em Cusco e toca violino desde criança. É também exímio violonista, bandolinista, maestro, compositor e arranjador.
Além de excelente músico Daniel impressiona por sua generosidade e delicadeza que se revelam não só no cuidado com a sua arte mas também no trato com as pessoas que dele se aproximam. Foi o que pude constatar quando, em 1974, tive o imenso prazer de conhecê-lo. Já naquela época, há 36 anos atrás e portanto bastante distante da idade da razão, o que importava para ele era tocar o máximo de tempo possível. Compartilhei dessa imensa voracidade musical ao seu lado e tocávamos durante horas a fio num lindo pátio da casa de Vladimir Herrera em Cusco, outro grande personagem, poeta e escritor peruano, mas que, na época, ainda sonhava sê-lo.
Daniel me levou através de pequenas cidades e povoados incrustrados nas serras e vales de Cusco onde tocávamos em lugares que eu nem suspeitava pudessem existir. É difícil imaginar a música que fazíamos mas o fato é que este som ainda hoje é lembrado por pessoas que o compartilharam conosco como "momentos de um raro entrosamento e cumplicidade". É também assim que hoje me lembro deles, e dele.
Mas, então, esse encontro nada mais era do que algo efêmero e passageiro que ocorria na vida de dois jovens apaixonados. O que torna o momento valioso é a recordação e, através dela, a imagem, o que está além de e imerso na semelhança. Ano passado encontrei o site de Daniel Zamalloa na Internet, inúmeros vídeos no youtube, comentários sobre seus CDs. Com muita alegria reestabelecemos a comunicação. A profusão de detalhes que encontramos em nossas reminiscências foi muito bem qualificada por um querido amigo como "uma experiência proustiana".
Há sinais evidentes na música que ambos compomos atualmente daquilo que um dia compartilhamos: minhas melodias modais, suas harmonias caminhantes. Recebí dele tres CDs e uma canção de sua autoria: Alfamayo, que transpõe para a arte os momentos vividos em uma cabana de pedra e palha numa aldeia homônima de la sierra cusqueña. Dessa maneira a recordação adquire significado além do pessoal. O álbum de recordações é libertado, sai do armário, da sala de visitas.
Hoje Daniel Zamalloa vive na Califórnia e frequentemente retorna à sua cidade natal para documentar e gravar os músicos tradicionais peruanos. (E às vezes para alimentar filhotes de llama).
Neste CD de Daniel Zamalloa: Llaqtaypa Violincha - está registrado mais do que a dedicação laboriosa de um grande músico. A riqueza de detalhes na interpetação de cada ornamento delicado, a preocupação em definir cada característca regional revelam sabedoria e conhecimento adquiridos durante toda uma vida.
Nos demais CDs, a busca de novas configurações para o motivo regional, de extrema sutileza. Pretendo postá-los aqui, com a devida autorização do autor, mas há referências em seu site oficial.
O que intriga é o fato de que o Peru é um país que faz fronteira com o nosso, de que Cusco é muito próximo e de que quase nada sabemos de sua música, de suas semelhanças e diferenças, por exemplo, com a nossa rabeca do sul e do norte. De fato isso não é surpreendente, visto que somos todos títeres teleguiados pelas estratégias e leis de um mercado truculento onde o gosto e a afinidade carecem de significado. Aceitamos plácidamente nossa ignorância e como artistas nos comportamos como os turistas que cristalizaram o Peru no tempo dos Incas. Os novos músicos peruanos seguem trabalhando e compondo. A música Criolla peruana, de origem negra, tem grande circulação e expressão em outros países em que o público não permanece tão alheio. Neste exato momento acontece em Lima um Festival de percussão http://www.cajonfestival.com/ . (Há um grupo brasileiro participando: Trio Mano a Mano que tem o clarinetista Sergio Albach entre seus integrantes). E não há nem vestígio de divulgação. Será que não há afinidades ou interesse? A mídia brasileira acha que não. E os artistas brasileiros...
Transcrevo o que o poeta Vladimir Herrera comenta a esse respeito em nossa correspondência:
" - Es curioso cómo la separación histórica de Portugal y España viviendo de espaldas la hemos trasladado a nuestro continente. Da risa que fascistas como Franco y Salazar se ignoraran hasta el sarcasmo. Todo eso no podrá suceder en esta parte de américa del sur."
Que se cumpra a inspiração do poeta!
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Coral Luther King e Série "Cantador, só sei cantar"
No programa: tradicionais portuguesas, catiras, indígenas brasileiras, e outras tantas.Lembrando duas datas importantes: A Revolução dos Cravos (Portugal, 25 de abril de 1974) e o assassinato de Martin Luther King ( Memphis, Tennessee, 04 de abril de 1968)
quinta-feira, 11 de março de 2010
Vocacional: uma escola que deu certo
Pouca gente sabe que o Brasil teve uma das escolas públicas mais ousadas e ínovadoras da história, não só do Brasil, mas do ocidente. Não posso falar a respeito de outros lugares do mundo, mas Ocidente já está de bom tamanho.
Se demorei pra tocar no assunto neste espaço foi porque não sabia qual a melhor abordagem. E acabei optando por uma delas, a que realmente me liga ao Vocacional: a abordagem emocional e afetiva.
Não considero esse aspecto menor, muito pelo contrário: quem dentre a grande maioria, pode se lembrar da escola como de um lugar no mínimo aprazível? A grande maioria das pessoas se refere aos tempos escolares com saudades, mas dos amigos, dos ex-colegas, de um tempo de juventude ou infância. Raros, raríssimos são aqueles que podem dizer que têm saudades das aulas de matemática,do diretor, do professor de química, da prova de Português. E principalmente,das conversas com a orientadora pedagógica! Eu tenho muitas saudades da Evair, grande orientadora mesmo.
Em 1967, aos 11 anos de idade, entrei na 1ª série do Vocacional Osvaldo Aranha, mais conhecido como o "Vocacional do Brooklin". O bairro de classe média alta me intimidou um pouco, eu que recém havia mudado de um bairro da periferia de Osasco para a Vila Mariana, admirava a modernidade das habitações, as casas com grandes jardins...quem seriam os alunos daquela escola?
As aulas começavam às 7:15 da manhã. E duas vezes por semana terminavam às 16:30. Esses eram os melhores dias, dias da "Opção". Como diz a palavra, opção eram as aulas que o aluno escolhia para desenvolver: Artes Plásticas (AP), Artes Industriais (AI), Economia Doméstica (ED), Práticas Comerciais (PC). Essas 4 matérias faziam parte do currículo, mas o horário de Opção aprofundava esses conhecimentos.
Nesses dias almoçávamos na escola. As equipes de alunos se alternavam na preparação, limpeza e atendimento do refeitório. Aproveitávamos para aprender algumas receitas com os cozinheiros. Mas essa parte de cozinha ficava por conta de ED. E havia as aulas de "Projetos". Eu participava do Projeto de Flauta-doce e do Coral. Participei também de outros projetos, de Português, entre tantos outros. E nas opções passei por AI e AP, PC e ED, alternadamente, pois você podia participar de duas a cada ano ou semestre, não me lembro bem.
Do que me lembro bem é do 1º dia de aula. O páteo cheio de crianças procurando a sua fila. É, fila mesmo. O Vocacional não tinha esse problema de achar que fila é excesso de displina. O Vocacional trabalhava muito a questão da disciplina. Usávamos uniforme, brigávamos pelo comprimento das saias, pelas meias 3/4, pela mudança dos calções de ginástica, alunos eram suspensos, expulsos até, tudo isso existia.
Com um grande diferencial: alunos, professores, coordenadores, supervisores, participavam de todas as decisões. E se acaso um aluno se sentia excluído de alguma decisão, ele imediatamente organizava um grupo de discussões, levava o assunto para a sua equipe, geralmente escolhia um professor para ajudá-lo na sua argumentação, levava a questão para a Orientação Pedagógica, e começava uma tremenda briga cujos argumentos se fundamentavam no conteúdo moral desenvolvido pela própria escola, em salas de aula. Se o caso era grave,e não se achavam soluções, a coisa se expandia para assembléias que por vezes paralizavam as aulas até uma resolução. Fazíamos política. Os professores ficavam realmente preocupados com as colocações que fazíamos, e ao mesmo tempo muito satisfeitos porque eram resultantes do sistema de ensino. As contradições se aglomeravam diáriamente. Direitos, deveres e poderes eram o tema de cada momento. Tínhamos alí uma comunidade organizada, uma sociedade viva. Nada se cristalizava.
O Govêrno Estudantil, por exemplo, foi dissolvido pelos próprios alunos pois a estrutura em que ele se inspirou gerou os mesmos problemas do modêlo: Tínhamos um governador e deputados eleitos através do voto secreto. Nas reuniões da Câmara alguns deputados começaram a faltar, a dormir, uma certa inércia e pouca representatividade começou a tomar conta das sessões. Então fizemos (eu era deputada em 68, com 12 anos de idade)uma consulta pública apresentando o problema à comunidade escolar. Votou-se pela dissolução do GEGEVOA. Não sentíamos a necessidade de representantes, todos tinham voz.
Não éramos "autorizados" a falar. Éramos os donos da palavra, da escola. Tínhamos a compreensão da estrutura à qual pertencíamos. A linha divisória entre professor e aluno era bem definida, ao contrário dessa discussão estéril sobre o papel do professor e o do aluno. Muitos pedagogos atuais diriam que o Vocacional era uma escola conservadora. E era mesmo. Tínhamos princípios, regras, horários, comportamentos,compromisso. Compromisso com uma idéia. Tínhamos certeza de que aquela escola era única, mas que estava a caminho de se tornar a escola brasileira, pois estava dando certo.
O sistema de ensino coordenado pela educadora Maria Nilde Mascelani criou 6 Vocacionais: o do Brooklin, Batatais, Barretos, Rio Claro, Americana e São Caetano do Sul. Cada um tinha suas peculiaridades, adaptava-se ao meio. Aqueles que ficavam em zonas onde a atividade rural era predominante adequavam seus conteúdos e práticas ao meio. A escola era parte integrante da sociedade, interferia e era "interferida".
Foi considerado revolucionário demais pelas autarquias, pelos ruralistas, pelos reacionários, pelos militares, por aqueles que instauraram a ditadura no Brasil, pelo MEC-Usaid:
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_mec-usaid%20.htm
O Sistema de Ensino Vocacional não tem nada a ver com o conceito técnico que hoje se atribui a essa palavra: Vocacional. Vocacional é vocação, não é treinamento técnico. E tem muito menos a ver com essas aulas de malabarismo circense e Teatro que estão sendo promovidas pela Secretaria de Cultura de S.Paulo, apesar de que o pessoal do Teatro tem feito um trabalho louvável. O Sistema era integrado, não isolado, como esses projetos.
Vocação é tendência, afinidade, reconhecimento, integração. Mas o MEC-Usaid veio para transformar a educação para a economia e sistema do pensamento capitalista.
Segundo Aristóteles, o homem é um animal político. Porque vive em (κοινωνία) comunidade. Não se trata de "comunhão" no sentido religioso aplicado, até poderia ser, mas não pretendo esse caminho. Vivendo em comunidade, nossas ações nunca são ações isoladas, elas repercutem em toda a comunidade. Para melhor ou pior.
O que chamam hoje de "interdisciplinaridade" é algo que se aproxima do que o Vocacional chamava de "integração". Mais fácil de entender, não?
Não pensávamos em "displinas", mas em áreas de conhecimento.Todas as áreas de conhecimento possíveis de serem abordadas na escola se integravam através dos seus conteúdos.
É muito fácil compreender o Sistema de Ensino integrado que o Vocacional praticava, não é necessário ser pedagogo, aliás é melhor que não seja pedagogo mesmo, para entender. O "pedagogismo" é cheio de terminologias classificatórias que seccionam um todo. Já tentei explicar o Vocacional inúmeras vezes para pedagogos, e eles vão repetindo termos técnicos enquanto eu descrevo uma prática, um comportamento, uma atitude inteiramente comprometida com o todo. Como uma aula de anatomia, só falta quererem estudar o cérebro dos ex-alunos do Vocacional.
O que me intriga é ver como o Vocacional desapareceu da memória educacional deste país. É sem dúvida assunto de inúmeras teses, mas desconfio que além da evidente ação dos criminosos reacionários no sentido de apagar da história os registros dessa escola, parte dessa documentação foi tratada como "reserva de tese", algumas delas extremamente equivocadas, por sinal. Numa delas, afirma-se (velha arenga...) que o Vocacional seria totalmente inexequível nos dias de hoje como escola pública, pelo seu "alto custo". Ora, que desinformação absoluta! O prédio do Vocacional do Brooklin, que lá está até hoje, é muito mais modesto do que os CEUS de hoje em dia. Nem se compara, em termos de espaço e estrutura. Nosso maquinário e bancadas das oficinas de AI, nossa Cooperativa, nossa Cantina, Banco, nosso atelier de AP,eram adaptados utilizando a propria construção e dimensão das salas de aula. Quem imagina o Vocacional como essas escolas particulares de hoje, que mais se parecem com hospitais, está muito enganado.
Nossa área de música, por exemplo, era uma sala de aula com um piano e um contrabaixo,este doado pela família de um dos alunos. E carteiras, mesinhas que empurrávamos para os cantos da sala, para ter mais espaço. Eu me lembro até hoje da barulheira que fazíamos para arrumar e desarrumar as carteiras.
E me lembro também de um mutirão coordenado por AI para restauração das carteiras, sábado de manhã, a escola em peso,às 7:15, lixando e envernizando carteiras. Aprendemos as técnicas de lixar com uma madeirinha, de fazer uma boneca de algodão para o verniz. Uma festa.
O fato é que, naquele momento da história brasileira a organização e mobilização para atividades em grupo e coletivas era uma normalidade. Não era preciso criar uma coisa do tipo das que tem hoje: "amigos da escola". O dinheiro que gastaríamos pra comprar novas carteiras, previsto pela Secretaria de Educação, foi usado para outras necessidade da escola. Maria Nilde foi processada por "desvio de verba", por este incidente.
Em 1969 as escolas Vocacionais foram invadidas pelo glorioso exército brasileiro. Em minúsculas mesmo. Os professores foram presos, Maria Nilde foi presa, processada e tudo o mais que a gente sabe, não é... aquelas práticas que os sistemas totalitários gostam de utilizar. Os pais de alunos ficaram apavorados, seus filhos perderiam o ano escolar, além de tudo.
Não sei quem teve a idéia. Não importa. Nos mobilizamos: os alunos das séries mais avançadas davam aulas para os da imediatamente anterior, e assim, sucessivamente. Tínhamos cohecimento de todo o conteúdo que iria ser desenvolvido no bimestre e durante o ano, pois participávamos do planejamento, elaborávamos a proposta de estudo. Sabíamos quais os textos que seriam utilizados. Conhecíamos a didática. A escola era nossa.
Aí foi demais.Interventor na escola pra acabar com essa brincadeira. No Brooklin o interventor era o Pinheiro Machado. Depois eu conto o resto.
P.S.: Qiuando estava editando este texto, vi, com satisfação, que o GVive está seguindo o Blog! O GVive está realizando um intenso e imenso trabalho de recuperação da memória dos Vocacionais.
Aguarde o próximo artigo sobre o Vocacional:"A minúscula esfera de competência do Sr. Pinheiro Machado"
Se demorei pra tocar no assunto neste espaço foi porque não sabia qual a melhor abordagem. E acabei optando por uma delas, a que realmente me liga ao Vocacional: a abordagem emocional e afetiva.
Não considero esse aspecto menor, muito pelo contrário: quem dentre a grande maioria, pode se lembrar da escola como de um lugar no mínimo aprazível? A grande maioria das pessoas se refere aos tempos escolares com saudades, mas dos amigos, dos ex-colegas, de um tempo de juventude ou infância. Raros, raríssimos são aqueles que podem dizer que têm saudades das aulas de matemática,do diretor, do professor de química, da prova de Português. E principalmente,das conversas com a orientadora pedagógica! Eu tenho muitas saudades da Evair, grande orientadora mesmo.
Em 1967, aos 11 anos de idade, entrei na 1ª série do Vocacional Osvaldo Aranha, mais conhecido como o "Vocacional do Brooklin". O bairro de classe média alta me intimidou um pouco, eu que recém havia mudado de um bairro da periferia de Osasco para a Vila Mariana, admirava a modernidade das habitações, as casas com grandes jardins...quem seriam os alunos daquela escola?
As aulas começavam às 7:15 da manhã. E duas vezes por semana terminavam às 16:30. Esses eram os melhores dias, dias da "Opção". Como diz a palavra, opção eram as aulas que o aluno escolhia para desenvolver: Artes Plásticas (AP), Artes Industriais (AI), Economia Doméstica (ED), Práticas Comerciais (PC). Essas 4 matérias faziam parte do currículo, mas o horário de Opção aprofundava esses conhecimentos.
Nesses dias almoçávamos na escola. As equipes de alunos se alternavam na preparação, limpeza e atendimento do refeitório. Aproveitávamos para aprender algumas receitas com os cozinheiros. Mas essa parte de cozinha ficava por conta de ED. E havia as aulas de "Projetos". Eu participava do Projeto de Flauta-doce e do Coral. Participei também de outros projetos, de Português, entre tantos outros. E nas opções passei por AI e AP, PC e ED, alternadamente, pois você podia participar de duas a cada ano ou semestre, não me lembro bem.
Do que me lembro bem é do 1º dia de aula. O páteo cheio de crianças procurando a sua fila. É, fila mesmo. O Vocacional não tinha esse problema de achar que fila é excesso de displina. O Vocacional trabalhava muito a questão da disciplina. Usávamos uniforme, brigávamos pelo comprimento das saias, pelas meias 3/4, pela mudança dos calções de ginástica, alunos eram suspensos, expulsos até, tudo isso existia.
Com um grande diferencial: alunos, professores, coordenadores, supervisores, participavam de todas as decisões. E se acaso um aluno se sentia excluído de alguma decisão, ele imediatamente organizava um grupo de discussões, levava o assunto para a sua equipe, geralmente escolhia um professor para ajudá-lo na sua argumentação, levava a questão para a Orientação Pedagógica, e começava uma tremenda briga cujos argumentos se fundamentavam no conteúdo moral desenvolvido pela própria escola, em salas de aula. Se o caso era grave,e não se achavam soluções, a coisa se expandia para assembléias que por vezes paralizavam as aulas até uma resolução. Fazíamos política. Os professores ficavam realmente preocupados com as colocações que fazíamos, e ao mesmo tempo muito satisfeitos porque eram resultantes do sistema de ensino. As contradições se aglomeravam diáriamente. Direitos, deveres e poderes eram o tema de cada momento. Tínhamos alí uma comunidade organizada, uma sociedade viva. Nada se cristalizava.
O Govêrno Estudantil, por exemplo, foi dissolvido pelos próprios alunos pois a estrutura em que ele se inspirou gerou os mesmos problemas do modêlo: Tínhamos um governador e deputados eleitos através do voto secreto. Nas reuniões da Câmara alguns deputados começaram a faltar, a dormir, uma certa inércia e pouca representatividade começou a tomar conta das sessões. Então fizemos (eu era deputada em 68, com 12 anos de idade)uma consulta pública apresentando o problema à comunidade escolar. Votou-se pela dissolução do GEGEVOA. Não sentíamos a necessidade de representantes, todos tinham voz.
Não éramos "autorizados" a falar. Éramos os donos da palavra, da escola. Tínhamos a compreensão da estrutura à qual pertencíamos. A linha divisória entre professor e aluno era bem definida, ao contrário dessa discussão estéril sobre o papel do professor e o do aluno. Muitos pedagogos atuais diriam que o Vocacional era uma escola conservadora. E era mesmo. Tínhamos princípios, regras, horários, comportamentos,compromisso. Compromisso com uma idéia. Tínhamos certeza de que aquela escola era única, mas que estava a caminho de se tornar a escola brasileira, pois estava dando certo.
O sistema de ensino coordenado pela educadora Maria Nilde Mascelani criou 6 Vocacionais: o do Brooklin, Batatais, Barretos, Rio Claro, Americana e São Caetano do Sul. Cada um tinha suas peculiaridades, adaptava-se ao meio. Aqueles que ficavam em zonas onde a atividade rural era predominante adequavam seus conteúdos e práticas ao meio. A escola era parte integrante da sociedade, interferia e era "interferida".
Foi considerado revolucionário demais pelas autarquias, pelos ruralistas, pelos reacionários, pelos militares, por aqueles que instauraram a ditadura no Brasil, pelo MEC-Usaid:
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_mec-usaid%20.htm
O Sistema de Ensino Vocacional não tem nada a ver com o conceito técnico que hoje se atribui a essa palavra: Vocacional. Vocacional é vocação, não é treinamento técnico. E tem muito menos a ver com essas aulas de malabarismo circense e Teatro que estão sendo promovidas pela Secretaria de Cultura de S.Paulo, apesar de que o pessoal do Teatro tem feito um trabalho louvável. O Sistema era integrado, não isolado, como esses projetos.
Vocação é tendência, afinidade, reconhecimento, integração. Mas o MEC-Usaid veio para transformar a educação para a economia e sistema do pensamento capitalista.
Segundo Aristóteles, o homem é um animal político. Porque vive em (κοινωνία) comunidade. Não se trata de "comunhão" no sentido religioso aplicado, até poderia ser, mas não pretendo esse caminho. Vivendo em comunidade, nossas ações nunca são ações isoladas, elas repercutem em toda a comunidade. Para melhor ou pior.
O que chamam hoje de "interdisciplinaridade" é algo que se aproxima do que o Vocacional chamava de "integração". Mais fácil de entender, não?
Não pensávamos em "displinas", mas em áreas de conhecimento.Todas as áreas de conhecimento possíveis de serem abordadas na escola se integravam através dos seus conteúdos.
É muito fácil compreender o Sistema de Ensino integrado que o Vocacional praticava, não é necessário ser pedagogo, aliás é melhor que não seja pedagogo mesmo, para entender. O "pedagogismo" é cheio de terminologias classificatórias que seccionam um todo. Já tentei explicar o Vocacional inúmeras vezes para pedagogos, e eles vão repetindo termos técnicos enquanto eu descrevo uma prática, um comportamento, uma atitude inteiramente comprometida com o todo. Como uma aula de anatomia, só falta quererem estudar o cérebro dos ex-alunos do Vocacional.
O que me intriga é ver como o Vocacional desapareceu da memória educacional deste país. É sem dúvida assunto de inúmeras teses, mas desconfio que além da evidente ação dos criminosos reacionários no sentido de apagar da história os registros dessa escola, parte dessa documentação foi tratada como "reserva de tese", algumas delas extremamente equivocadas, por sinal. Numa delas, afirma-se (velha arenga...) que o Vocacional seria totalmente inexequível nos dias de hoje como escola pública, pelo seu "alto custo". Ora, que desinformação absoluta! O prédio do Vocacional do Brooklin, que lá está até hoje, é muito mais modesto do que os CEUS de hoje em dia. Nem se compara, em termos de espaço e estrutura. Nosso maquinário e bancadas das oficinas de AI, nossa Cooperativa, nossa Cantina, Banco, nosso atelier de AP,eram adaptados utilizando a propria construção e dimensão das salas de aula. Quem imagina o Vocacional como essas escolas particulares de hoje, que mais se parecem com hospitais, está muito enganado.
Nossa área de música, por exemplo, era uma sala de aula com um piano e um contrabaixo,este doado pela família de um dos alunos. E carteiras, mesinhas que empurrávamos para os cantos da sala, para ter mais espaço. Eu me lembro até hoje da barulheira que fazíamos para arrumar e desarrumar as carteiras.
E me lembro também de um mutirão coordenado por AI para restauração das carteiras, sábado de manhã, a escola em peso,às 7:15, lixando e envernizando carteiras. Aprendemos as técnicas de lixar com uma madeirinha, de fazer uma boneca de algodão para o verniz. Uma festa.
O fato é que, naquele momento da história brasileira a organização e mobilização para atividades em grupo e coletivas era uma normalidade. Não era preciso criar uma coisa do tipo das que tem hoje: "amigos da escola". O dinheiro que gastaríamos pra comprar novas carteiras, previsto pela Secretaria de Educação, foi usado para outras necessidade da escola. Maria Nilde foi processada por "desvio de verba", por este incidente.
Em 1969 as escolas Vocacionais foram invadidas pelo glorioso exército brasileiro. Em minúsculas mesmo. Os professores foram presos, Maria Nilde foi presa, processada e tudo o mais que a gente sabe, não é... aquelas práticas que os sistemas totalitários gostam de utilizar. Os pais de alunos ficaram apavorados, seus filhos perderiam o ano escolar, além de tudo.
Não sei quem teve a idéia. Não importa. Nos mobilizamos: os alunos das séries mais avançadas davam aulas para os da imediatamente anterior, e assim, sucessivamente. Tínhamos cohecimento de todo o conteúdo que iria ser desenvolvido no bimestre e durante o ano, pois participávamos do planejamento, elaborávamos a proposta de estudo. Sabíamos quais os textos que seriam utilizados. Conhecíamos a didática. A escola era nossa.
Aí foi demais.Interventor na escola pra acabar com essa brincadeira. No Brooklin o interventor era o Pinheiro Machado. Depois eu conto o resto.
P.S.: Qiuando estava editando este texto, vi, com satisfação, que o GVive está seguindo o Blog! O GVive está realizando um intenso e imenso trabalho de recuperação da memória dos Vocacionais.
Aguarde o próximo artigo sobre o Vocacional:"A minúscula esfera de competência do Sr. Pinheiro Machado"
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Canto Coral: Aquele garoto virou mestre
Em termos técnicos, não tenho muito a dizer sobre o Canto Coral. Genéricamente todo mundo sabe o que é um coral: A palavra Coral na acepção de grupo de cantores é comumente usada como sinônimo de Coro: um grupo de pessoas que se reúne para cantar sob a regência de um maestro pode ser denominado como tal. Aquí neste artigo, para nossos fins não me aventuro a definir o gênero, suas origens e desenvolvimento.
O termo Coral foi também históricamnte associado ao protestantismo cujos cantos litúrgicos elaborados por adeptos da igreja luterana, ao contrário do coro gregoriano monofônico católico que neste sentido propunha igualar os homens (mas não as mulheres) perante Deus, desenvolve o Coral enquanto forma musical escrita para várias vozes, ou se utiliza disso. Na verdade, a história é muito maior e tem origens e desenvolvimento vasto mas como não me considero autoridade no assunto, fico por aqui. Há até incrições rupestres que indicam o canto coletivo enquanto atividade, portanto, o caminho é longo.
O que me interessa neste momento é refletir um pouco sobre alguns outros aspectos dessa formação de conjunto musical e seu comportamento em S.Paulo.
Interessante notar que, por princípio, o Coral pressupõe um coletivo artístico envolvendo certa organização: naipes distintos para executar cada voz e um regente, é o básico. Há várias modalidades como coral infantil, feminino, etc. mas o Coral ao qual me refiro é aquele mais tradicionalmente conhecido: sopranos, contraltos, tenores e baixos, às vezes com barítonos e outras subdivisões.
O Coral passou a ser visto, eu diria mal visto, no Brasil dos últimos 20 anos. Não só mal visto como mal ouvido, mal cantado, mal dirigido e talvez isso tenha ocorrido na ordem exatamente inversa deste parágrafo.
Voltando ao aspecto coletivo da idéia não posso deixar de perceber que depois dos anos 60 e 70 muitos outros coletivos perderam sua característica em função do culto à personalidade, ao solista, ao protagonista, à individualidade a qualquer preço, ao auto-conhecimento, à auto-ajuda, ao autor, e fomos bombardeados com um arrasador desfile de egos. Em todos os campos. É claro que muito ganhamos através da manifestação de inúmeras personalidades individuais, mas muito mais perdemos em termos sociais, éticos e estéticos quando essas personalidades atribuem ao coletivo a função de simples expectador e consumidor do seu incrível talento.
Voltando ao Coral:
. há uma certa independência de vozes que, porém não têm sentido quando executadas isoladamente. Melhor dizendo: adquirem um sentido maior quando executadas no conjunto das vozes pois foram escritas para terem sentido no conjunto.
. qualquer pessoa pode cantar num coral. Não se requer daquele que canta nenhum tipo de virtuosismo, apenas princípios básicos da linguagem musical, perfeitamente passíveis de aprendizado e com resultado estético extremamente satisfatório quando bem orientado. A única coisa que se exige do integrante é que tenha voz. Óbviamente, quanto mais esse cantor se aprimorar, isso se refletirá no resultado final. O solista é solicitado para execução de determinadas peças e nesta função é necessária maior profundidade mas no conjunto, o próprio solista tem que fazer um enorme exercício na procura de adaptação ao timbre do naipe, ele não pode se destacar fora do momento certo, caso contrário "mata" a obra.
. não pense porém, o incauto, que esta qualquer pessoa irá cantarolar melodias fáceis, muito pelo contrário: o repertório exige o desenvolvimento da sensibilidade musical, técnica e estética. A boa notícia é que fica mais fácil e agradável em grupo. O grupo envolve outro tipo de relação também com a música.
. A figura do maestro ou regente, que em geral é também o diretor artístico, é fundamental e reconhecida enquanto responsável pela concepção artística da obra. No Brasil há uma confusão de têrmos que não sei se originária da língua ou do conceito mas como uma não anda sem o outro, vale a pena citar: Regente, Maestro, Diretor. Como são termos herdados, acabam se equivalendo, mas "no meio", percebe-se uma certa hierarquia quando se trata de distinguir o Maestro da Orquestra e o regente do coro, aqui em maíusculas e minúsculas propositalmente. Pura questão de preconceito cujas causas podem ser atribuídas ao próprio descaso e despreparo de alguns muitos que passaram a exercer esta função.
Durante os anos 60 e 70 participei de vários corais da cidade de S.Paulo e este foi um dado de extrema importância para o meu aprendizado musical. À existência de tantos grupos correspondia um aumento qualitativo tanto dos cantores quanto dos maestros.
Era muito comum participar, às 3ªs e 5ªs, de um Coral regido pelo Maestro Schnorremberg e às 4ªs e 6ªs de outro, com o Maestro Klaus-Dieter Wolff.
http://www.revista.brasil-europa.eu/116/1968-Vespro-Monteverdi.htm
E de quebra cantar no Madrigal da Pro Arte de S.Paulo e formar mais um outro com os Maestros iniciantes que precisavam de um Coral para seu aprendizado. Além de outras formações, como sextetos, octetos, criados para que pudéssemos ler peças ainda por nós desconhecidas ou contemporâneas.
Em outras palavras ocorria, por parte da juventude uma apropriação dessa cultura musical amplamente apoiada pelos então maestros que abriam esse caminho. Não existia internet, portanto as obras eram conseguidas através de cópias "xerox" de partituras colhidas por eles em seus estudos na Europa e na América do Sul, e que se espalhavam rápidamente entre os interessados: nós, os amadores, uma outra característica bastante importante a se salientar nessa formação. Aos muitos Concêrto sempre comparecia um grande público que lotava os teatros. Corais de outros países da América latina, como um coral do Chile de que agora me lembro com carinho, vinham somar e multiplicar esse entusiasmo.
Paulatinamente, isso foi se acabando. Coral virou qualquer coisa, menos o que realmente deveria ser. Assunto para outro "post". Cantar virou qualquer coisa. Com o tempo abandonei a área, mas ouvia falar de um ou de outro coral que seguia trabalhando mas ao mesmo tempo assumindo posturas bastante distanciadas deste clima.
No teatro, algo muito semelhante acontecia. Do ponto de vista musical, percebia uma enorme dificuldade dos atores para cantar e a interpretação desaparecia no momento em que começava o canto. Os próprios músicos de bandas pop passaram a não abrir mais a boca para cantar, só o vocalista.
Não posso deixar de dizer que durante minhas atividades junto ao teatro, já totalmente afastada do tenebroso cenário do canto coral que se instalou em S.Paulo, tive a felicidade de conhecer o Maestro William Guedes e seu excelente trabalho que me reacendeu a velha chama do "nem tudo está perdido", tanto nas poucas e gratificantes vezes que pude acompanhar, à flauta, o Coral que dirige, como nos diversos espetáculos sob sua direção musical, sempre recheados de arranjos vocais bem elaborados e executados. Parece que, tateando na escuridão deste cenário, o Maestro William Guedes encontrou um caminho, e dos bons.
Ainda na década de 60 um jovem amigo cantor e estudante de regência convidou alguns de seus amigos a formarem um pequeno coral para que ele pudesse praticar e dar continuidade aos seus estudos. Seu nome: Martinho Lutero, e nossa simpatia ao movimento antirracista nos EUA levou-nos a batizar o grupo de "Coral Luther King".
A média de idade deste grupo, incluindo o Maestro, era de 15 anos. Adolescentes de classe média e média-baixa, recém saídos da infância.
Passados 39 anos (em 2009) eu me reencontro com esse Maestro e seu Coral cantando nada mais que a Missa Luba! O Coral Luther King, que hoje compõe a Rede Cultural Luther King, é um raro exemplo de Coletivo que permaneceu durante 40 anos comprometido com a excelêcia não só musical mas de relacionamente entre seus integrantes.
http://www.lutherking.art.br/lutherking/
Imediatamente aderí ao grupo.
Vejo neste Coral os mesmos princípios que fizeram daquelas décadas a escola mais completa de aprendizado musical e de convívio em função da arte. A qualidade do trabalho desenvolvido por este Maestro e seu grupo vem sendo apreciada através dos Concertos que realiza e da escola de formação de novos cantores: Fábrica do som, que fundamenta e garante a continuidade do trabalho. Admirável o trabalho coordenado pelos integrantes da equipe artística que tive o prazer de conhecer. Entre eles,refletindo e transmitindo esse compromisso apaixonado, Sira Milani, excelente musicista e cantora, há mais de 15 anos trata de tudo e de todos com uma dedicação exemplar. E o que significa "atitude exemplar"? Simplesmente um comportamento que está em desuso: Comprometimento com uma idéia, seriedade, prazer e coragem para realizar aquilo em que acreditamos.
Dia 20 de fevereiro passado iniciamos uma série de Concêrtos para inaugurar um espaço e caracterizá-lo como sala destinada à concertos corais: o Anfiteatro do Auditório Ibirapuera.
Convidamos o Collegium Musicum, como um cumprimento a nossos irmãos mais velhos: eles têm 48 anos, enquanto nós, 40, para este primeiro concerto de uma série de dez, e esperávamos receber um tímido público levemente interessado no assunto. Para nossa surpresa compareceram mais de 500 pessoas que permaneceram em estado de tremenda atenção, aplaudindo entusiásticamente cada peça com alegria e receptividade.
Algo me diz que nem tudo o que se apronta na juventude deva ser negado na maturidade. Sempre acreditei que o adolescente é o sujeito mais comprometido com a verdade, ainda que nem sempre ela assim possa ser reconhecida. Não é à toa que sobre a juventude a sociedade exerce uma constante e ferrenha repressão, acabando por transformar idéias maravilhosas e ousadia em cartão de ponto e resignação.
Não é o caso do Maestro Martinho Lutero que converteu sua ousadia em sabedoria quando saiu a correr o mundo em busca de conhecimento e formação humanística e musical, mas garantiu o elo de transmissão desse conhecimento para as novas gerações do seu país de origem.
E então, aquele garoto virou Mestre.
Convido a todos a conhecerem um pouco sobre o trabalho desta Rêde:
http://www.lutherking.art.br/lutherking/
ref: http://www.revista.brasil-europa.eu/116/1968-Vespro-Monteverdi.htm
O termo Coral foi também históricamnte associado ao protestantismo cujos cantos litúrgicos elaborados por adeptos da igreja luterana, ao contrário do coro gregoriano monofônico católico que neste sentido propunha igualar os homens (mas não as mulheres) perante Deus, desenvolve o Coral enquanto forma musical escrita para várias vozes, ou se utiliza disso. Na verdade, a história é muito maior e tem origens e desenvolvimento vasto mas como não me considero autoridade no assunto, fico por aqui. Há até incrições rupestres que indicam o canto coletivo enquanto atividade, portanto, o caminho é longo.
O que me interessa neste momento é refletir um pouco sobre alguns outros aspectos dessa formação de conjunto musical e seu comportamento em S.Paulo.
Interessante notar que, por princípio, o Coral pressupõe um coletivo artístico envolvendo certa organização: naipes distintos para executar cada voz e um regente, é o básico. Há várias modalidades como coral infantil, feminino, etc. mas o Coral ao qual me refiro é aquele mais tradicionalmente conhecido: sopranos, contraltos, tenores e baixos, às vezes com barítonos e outras subdivisões.
O Coral passou a ser visto, eu diria mal visto, no Brasil dos últimos 20 anos. Não só mal visto como mal ouvido, mal cantado, mal dirigido e talvez isso tenha ocorrido na ordem exatamente inversa deste parágrafo.
Voltando ao aspecto coletivo da idéia não posso deixar de perceber que depois dos anos 60 e 70 muitos outros coletivos perderam sua característica em função do culto à personalidade, ao solista, ao protagonista, à individualidade a qualquer preço, ao auto-conhecimento, à auto-ajuda, ao autor, e fomos bombardeados com um arrasador desfile de egos. Em todos os campos. É claro que muito ganhamos através da manifestação de inúmeras personalidades individuais, mas muito mais perdemos em termos sociais, éticos e estéticos quando essas personalidades atribuem ao coletivo a função de simples expectador e consumidor do seu incrível talento.
Voltando ao Coral:
. há uma certa independência de vozes que, porém não têm sentido quando executadas isoladamente. Melhor dizendo: adquirem um sentido maior quando executadas no conjunto das vozes pois foram escritas para terem sentido no conjunto.
. qualquer pessoa pode cantar num coral. Não se requer daquele que canta nenhum tipo de virtuosismo, apenas princípios básicos da linguagem musical, perfeitamente passíveis de aprendizado e com resultado estético extremamente satisfatório quando bem orientado. A única coisa que se exige do integrante é que tenha voz. Óbviamente, quanto mais esse cantor se aprimorar, isso se refletirá no resultado final. O solista é solicitado para execução de determinadas peças e nesta função é necessária maior profundidade mas no conjunto, o próprio solista tem que fazer um enorme exercício na procura de adaptação ao timbre do naipe, ele não pode se destacar fora do momento certo, caso contrário "mata" a obra.
. não pense porém, o incauto, que esta qualquer pessoa irá cantarolar melodias fáceis, muito pelo contrário: o repertório exige o desenvolvimento da sensibilidade musical, técnica e estética. A boa notícia é que fica mais fácil e agradável em grupo. O grupo envolve outro tipo de relação também com a música.
. A figura do maestro ou regente, que em geral é também o diretor artístico, é fundamental e reconhecida enquanto responsável pela concepção artística da obra. No Brasil há uma confusão de têrmos que não sei se originária da língua ou do conceito mas como uma não anda sem o outro, vale a pena citar: Regente, Maestro, Diretor. Como são termos herdados, acabam se equivalendo, mas "no meio", percebe-se uma certa hierarquia quando se trata de distinguir o Maestro da Orquestra e o regente do coro, aqui em maíusculas e minúsculas propositalmente. Pura questão de preconceito cujas causas podem ser atribuídas ao próprio descaso e despreparo de alguns muitos que passaram a exercer esta função.
Durante os anos 60 e 70 participei de vários corais da cidade de S.Paulo e este foi um dado de extrema importância para o meu aprendizado musical. À existência de tantos grupos correspondia um aumento qualitativo tanto dos cantores quanto dos maestros.
Era muito comum participar, às 3ªs e 5ªs, de um Coral regido pelo Maestro Schnorremberg e às 4ªs e 6ªs de outro, com o Maestro Klaus-Dieter Wolff.
http://www.revista.brasil-europa.eu/116/1968-Vespro-Monteverdi.htm
E de quebra cantar no Madrigal da Pro Arte de S.Paulo e formar mais um outro com os Maestros iniciantes que precisavam de um Coral para seu aprendizado. Além de outras formações, como sextetos, octetos, criados para que pudéssemos ler peças ainda por nós desconhecidas ou contemporâneas.
Em outras palavras ocorria, por parte da juventude uma apropriação dessa cultura musical amplamente apoiada pelos então maestros que abriam esse caminho. Não existia internet, portanto as obras eram conseguidas através de cópias "xerox" de partituras colhidas por eles em seus estudos na Europa e na América do Sul, e que se espalhavam rápidamente entre os interessados: nós, os amadores, uma outra característica bastante importante a se salientar nessa formação. Aos muitos Concêrto sempre comparecia um grande público que lotava os teatros. Corais de outros países da América latina, como um coral do Chile de que agora me lembro com carinho, vinham somar e multiplicar esse entusiasmo.
Paulatinamente, isso foi se acabando. Coral virou qualquer coisa, menos o que realmente deveria ser. Assunto para outro "post". Cantar virou qualquer coisa. Com o tempo abandonei a área, mas ouvia falar de um ou de outro coral que seguia trabalhando mas ao mesmo tempo assumindo posturas bastante distanciadas deste clima.
No teatro, algo muito semelhante acontecia. Do ponto de vista musical, percebia uma enorme dificuldade dos atores para cantar e a interpretação desaparecia no momento em que começava o canto. Os próprios músicos de bandas pop passaram a não abrir mais a boca para cantar, só o vocalista.
Não posso deixar de dizer que durante minhas atividades junto ao teatro, já totalmente afastada do tenebroso cenário do canto coral que se instalou em S.Paulo, tive a felicidade de conhecer o Maestro William Guedes e seu excelente trabalho que me reacendeu a velha chama do "nem tudo está perdido", tanto nas poucas e gratificantes vezes que pude acompanhar, à flauta, o Coral que dirige, como nos diversos espetáculos sob sua direção musical, sempre recheados de arranjos vocais bem elaborados e executados. Parece que, tateando na escuridão deste cenário, o Maestro William Guedes encontrou um caminho, e dos bons.
Ainda na década de 60 um jovem amigo cantor e estudante de regência convidou alguns de seus amigos a formarem um pequeno coral para que ele pudesse praticar e dar continuidade aos seus estudos. Seu nome: Martinho Lutero, e nossa simpatia ao movimento antirracista nos EUA levou-nos a batizar o grupo de "Coral Luther King".
A média de idade deste grupo, incluindo o Maestro, era de 15 anos. Adolescentes de classe média e média-baixa, recém saídos da infância.
Passados 39 anos (em 2009) eu me reencontro com esse Maestro e seu Coral cantando nada mais que a Missa Luba! O Coral Luther King, que hoje compõe a Rede Cultural Luther King, é um raro exemplo de Coletivo que permaneceu durante 40 anos comprometido com a excelêcia não só musical mas de relacionamente entre seus integrantes.
http://www.lutherking.art.br/lutherking/
Imediatamente aderí ao grupo.
Vejo neste Coral os mesmos princípios que fizeram daquelas décadas a escola mais completa de aprendizado musical e de convívio em função da arte. A qualidade do trabalho desenvolvido por este Maestro e seu grupo vem sendo apreciada através dos Concertos que realiza e da escola de formação de novos cantores: Fábrica do som, que fundamenta e garante a continuidade do trabalho. Admirável o trabalho coordenado pelos integrantes da equipe artística que tive o prazer de conhecer. Entre eles,refletindo e transmitindo esse compromisso apaixonado, Sira Milani, excelente musicista e cantora, há mais de 15 anos trata de tudo e de todos com uma dedicação exemplar. E o que significa "atitude exemplar"? Simplesmente um comportamento que está em desuso: Comprometimento com uma idéia, seriedade, prazer e coragem para realizar aquilo em que acreditamos.
Dia 20 de fevereiro passado iniciamos uma série de Concêrtos para inaugurar um espaço e caracterizá-lo como sala destinada à concertos corais: o Anfiteatro do Auditório Ibirapuera.
Convidamos o Collegium Musicum, como um cumprimento a nossos irmãos mais velhos: eles têm 48 anos, enquanto nós, 40, para este primeiro concerto de uma série de dez, e esperávamos receber um tímido público levemente interessado no assunto. Para nossa surpresa compareceram mais de 500 pessoas que permaneceram em estado de tremenda atenção, aplaudindo entusiásticamente cada peça com alegria e receptividade.
Algo me diz que nem tudo o que se apronta na juventude deva ser negado na maturidade. Sempre acreditei que o adolescente é o sujeito mais comprometido com a verdade, ainda que nem sempre ela assim possa ser reconhecida. Não é à toa que sobre a juventude a sociedade exerce uma constante e ferrenha repressão, acabando por transformar idéias maravilhosas e ousadia em cartão de ponto e resignação.
Não é o caso do Maestro Martinho Lutero que converteu sua ousadia em sabedoria quando saiu a correr o mundo em busca de conhecimento e formação humanística e musical, mas garantiu o elo de transmissão desse conhecimento para as novas gerações do seu país de origem.
E então, aquele garoto virou Mestre.
Convido a todos a conhecerem um pouco sobre o trabalho desta Rêde:
http://www.lutherking.art.br/lutherking/
ref: http://www.revista.brasil-europa.eu/116/1968-Vespro-Monteverdi.htm
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Em 1974, no melhor estilo anos 70, peguei uma mochila, um cobertor xadrez e algumas roupas e fui, com mais duas amigas, da Estação da Luz para o Peru.
Trem da Morte, Bolívia e finalmente, Cusco. Na verdade este "finalmente" se deu 4 meses depois em Lima quando Pachamama, através de um terremoto de 6 graus, me avisou que já era hora de voltar.
Certa vez o maestro Paulo Herculano, sempre brilhante e provocativo, referiu-se a mim como: - a minha aluna hippie - qualificação por mim negada imediata e veementemente. Ele então argumentou: - Ora, alguém que tem Machu Picchu e Arembepe no currículo só pode ser um pouco hippie - Só me restou dar boas risadas.
Não temos a menor idéia de como irão nos qualificar daqui há 36 anos.O fato é que as classificações surgem depois, como referência histórica para melhor (ou pior) compreendermos uma época, um movimento ou comportamentos.
Em julho de 1974, nenhuma dessas idéias ocupava meus pensamentos. Não tínhamos nenhuma indicação ou plano de viagem, apenas o destino que poderia ser mudado, alongado até a Colômbia ou Galápagos, ou Amazônia.
Uma das amigas era Virgínia Fonseca. Essa é uma pequena homenagem que faço a ela.Ontem ela partiu pra muito, muito longe. Esta foto foi tirada em Lima,1974.Ela não largava do meu cobertor xadrez...Saudades.
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Virginia Fonseca;Peru
domingo, 29 de novembro de 2009
Em 5 de dezembro de 2008 Caderno 2 do Estadão:
Entre 1972 e 1978, Wanderléa registrou quatro álbuns com os quais tentava se afastar da imagem da ''Ternurinha'' da jovem guarda.
"Há muita coisa legal pra gravar. É que não me deixaram. Agora não tem mais pressão de gravadora e não preciso provar mais nada", diz a cantora.
Alguém que assina o musical codinome "lallasmello" postou um comentário no meu perfil do youtube:
"Comentários toscos os seus em relação à Wanderlea...precisa se informar mais antes de emitir juizos.Cada artista tem suas peculiaridades...isso me lembrou muito a crítica purista e anti-democrática da década de 70."
E ainda lallas: "A guerrilheira Marcia Fernandes está com inveja da wandeka...aguardemos o cd da loira cantando só chorinhos."
Realmente tôsco.
É impressionante como pessoas que não conseguem nem ajudar um cego a atravessar a rua arrotam a palavra Democracia como se ela fizesse parte do seu cardápio conceitual.
Uma pequena introdução pra refletir um pouco,
"A sociedade civil moderna, que segue ao Estado moderno, funda-se no individualismo e é incapaz de fazer do homem um ser social. Impondo aos indivíduos relações competitivas e conflitivas, a sociedade civil os torna seres isolados. Seus "atos políticos" – como é o caso do sufrágio e da representação – apenas aprofundam esse individualismo, restando aos homens viver em uma situação de atomismo que os separa até mesmo de si próprios. Não há outra conseqüência senão o encontro entre o estranhamento (Entfremdung) e a alienação (Entäusserung). É aqui que a verdadeira democracia se revela como enigma resolvido e apresenta-se como aquilo que pode interromper essa seqüência: a verdadeira democracia pressupõe a comunidade, que, por sua vez, transforma os indivíduos isolados em seres sociais justamente por meio do caráter político que assumem quaisquer de suas atividades, mesmo enquanto atividades individuais. Como na Grécia antiga, a separação entre o mundo privado e o mundo público se desfaz em nome da democracia verdadeira. Este desfazimento, contudo, não teria mais o custo da liberdade. Essa, afinal, a verdadeira unidade entre o político e o social a ser propiciada pela democracia."(Rev. bras. Ci. Soc. vol.22 no.63 São Paulo Feb. 2007)
Em primeiro lugar os leitores, e nessa categoria me refiro a todos os que lêem um texto crítico, deveriam deixar um pouco de lado o seu hábito de tecer considerações em relação a atitudes e posturas públicas, no caso a expressão artística veiculada,como a uma fofoca entre vizinhos do quarteirão.
Algumas pessoas me escreveram dizendo das qualidades pessoais da cantora, de como ela teve dificuldades na vida, de como sua família é legal.
Ora, a cidadã Wanderléa Charlup Boere Salim não está sendo avaliada, julgada ou invejada por mim, como diz o Lalá. O que está sim, sendo criticado por mim é o valor estético de sua performance enquanto cantora e a sua postura política, carona que ela mesma menciona quando tenta se justificar, e não eu) exercida durante os anos 70 através da personagem Ternurinha, imagem por ela assumida e praticada e da qual ela mesma diz vir tentando, há anos, se afastar. Coisa que a tal "democracia", até mesmo a do quarteirão, autoriza. Minha condição (também muito batalhada em minha vida, e minha família também é muito legal...) de musicista e pesquisadora, me autoriza a crítica, seja na democracia ou na ditadura.
Há uma tendência generalizada de anistia, de perdão, de recuperar os perseguidos pela ditadura ou pelas patrulhas ideológicas de esquerda. O que se esquece é que os perseguidos de então ou de hoje continuam sendo os mesmos. Muito se engana quem pensa que a Jovem Guarda representava a voz dos perseguidos, muito pelo contrário, o que se estabelecia naquele momento era uma nova fase da guerra comercial entre gravadoras disputando um mercado que se revelou altamente lucrativo. E hoje quando a propria cantora afirma que:
"É que não me deixaram. Agora não tem mais pressão de gravadora e não preciso provar mais nada"
E quem disse que o "so ponho beebop no meu samba" representa a voz dos perseguidos, ora ainda bem que botaram um pouco de swing no pedaço, a começar pelo proprio Jackson.
As classes populares que então ouviam Agostinho dos Santos, Altemar Dutra e Nelson Ned, entre outros, não eram o público da Jovem Guarda.O pessoal das Escolas de Samba, não ouvia Jovem Guarda. Mas a classe média meio esvaziada e pronta para ser treinada no consumo do que estivesse na prateleira, de Rita Pavone a Beatles, não importa (TV, Rádio) uma "juvenilidade" que surgia à reboque daquela outra juventude (já com seus 20 anos de idade) que associava à canção brasileira um caráter "político". Esta outra, dita politizada, já estava se dirigindo para a militância, para os movimentos de esquerda, etc. O público ao qual se destinava a jogada comercial da Jovem Guarda tinha entre 11 e 18 anos, não era politizada coisa nenhuma. Nem teve chance de saber o que era isso! Che Guevara para nós era um guerrilheiro bonito, ditadura era um regime lá, coisa lá de cima, dos militares. É esse pessoal agora que vem falar de democracia! Um dia pintaram a cara de verde e amarelo, para saudar os "90 milhões em ação, prá frente Brasil" e mais tarde para derrubar o Collor, porque alguém mandou dizer que o legal agora era ser democrata. Geração manipulada, de cabo a rabo, pela crescente expansão do sistema de consumo.A meninada queria se divertir, mas os brinquedinhos eram muito ruins.
Tanto melhor que a cantora se declare como alguém a quem "não deixaram" escolher seu repertório, confirmando o caráter político da empresa na qual teve um papel de protagonista. Melhor ainda que faça aulas de canto, como fizeram questão de me informar, o que também confirma o fato de que o "novo" repertório exige uma preparação técnica um pouco melhor do que o anterior.
Impossível colocar fora da discussão todos os artistas da época a quem também "não deixaram" entrar na tão almejada indústria fonográfica.
E caso interesse, não sou guerilheira, mas guerreira. A minha batalha se dá em campo aberto.
Prossigo, mais tarde.
Entre 1972 e 1978, Wanderléa registrou quatro álbuns com os quais tentava se afastar da imagem da ''Ternurinha'' da jovem guarda.
"Há muita coisa legal pra gravar. É que não me deixaram. Agora não tem mais pressão de gravadora e não preciso provar mais nada", diz a cantora.
Alguém que assina o musical codinome "lallasmello" postou um comentário no meu perfil do youtube:
"Comentários toscos os seus em relação à Wanderlea...precisa se informar mais antes de emitir juizos.Cada artista tem suas peculiaridades...isso me lembrou muito a crítica purista e anti-democrática da década de 70."
E ainda lallas: "A guerrilheira Marcia Fernandes está com inveja da wandeka...aguardemos o cd da loira cantando só chorinhos."
Realmente tôsco.
É impressionante como pessoas que não conseguem nem ajudar um cego a atravessar a rua arrotam a palavra Democracia como se ela fizesse parte do seu cardápio conceitual.
Uma pequena introdução pra refletir um pouco,
"A sociedade civil moderna, que segue ao Estado moderno, funda-se no individualismo e é incapaz de fazer do homem um ser social. Impondo aos indivíduos relações competitivas e conflitivas, a sociedade civil os torna seres isolados. Seus "atos políticos" – como é o caso do sufrágio e da representação – apenas aprofundam esse individualismo, restando aos homens viver em uma situação de atomismo que os separa até mesmo de si próprios. Não há outra conseqüência senão o encontro entre o estranhamento (Entfremdung) e a alienação (Entäusserung). É aqui que a verdadeira democracia se revela como enigma resolvido e apresenta-se como aquilo que pode interromper essa seqüência: a verdadeira democracia pressupõe a comunidade, que, por sua vez, transforma os indivíduos isolados em seres sociais justamente por meio do caráter político que assumem quaisquer de suas atividades, mesmo enquanto atividades individuais. Como na Grécia antiga, a separação entre o mundo privado e o mundo público se desfaz em nome da democracia verdadeira. Este desfazimento, contudo, não teria mais o custo da liberdade. Essa, afinal, a verdadeira unidade entre o político e o social a ser propiciada pela democracia."(Rev. bras. Ci. Soc. vol.22 no.63 São Paulo Feb. 2007)
Em primeiro lugar os leitores, e nessa categoria me refiro a todos os que lêem um texto crítico, deveriam deixar um pouco de lado o seu hábito de tecer considerações em relação a atitudes e posturas públicas, no caso a expressão artística veiculada,como a uma fofoca entre vizinhos do quarteirão.
Algumas pessoas me escreveram dizendo das qualidades pessoais da cantora, de como ela teve dificuldades na vida, de como sua família é legal.
Ora, a cidadã Wanderléa Charlup Boere Salim não está sendo avaliada, julgada ou invejada por mim, como diz o Lalá. O que está sim, sendo criticado por mim é o valor estético de sua performance enquanto cantora e a sua postura política, carona que ela mesma menciona quando tenta se justificar, e não eu) exercida durante os anos 70 através da personagem Ternurinha, imagem por ela assumida e praticada e da qual ela mesma diz vir tentando, há anos, se afastar. Coisa que a tal "democracia", até mesmo a do quarteirão, autoriza. Minha condição (também muito batalhada em minha vida, e minha família também é muito legal...) de musicista e pesquisadora, me autoriza a crítica, seja na democracia ou na ditadura.
Há uma tendência generalizada de anistia, de perdão, de recuperar os perseguidos pela ditadura ou pelas patrulhas ideológicas de esquerda. O que se esquece é que os perseguidos de então ou de hoje continuam sendo os mesmos. Muito se engana quem pensa que a Jovem Guarda representava a voz dos perseguidos, muito pelo contrário, o que se estabelecia naquele momento era uma nova fase da guerra comercial entre gravadoras disputando um mercado que se revelou altamente lucrativo. E hoje quando a propria cantora afirma que:
"É que não me deixaram. Agora não tem mais pressão de gravadora e não preciso provar mais nada"
E quem disse que o "so ponho beebop no meu samba" representa a voz dos perseguidos, ora ainda bem que botaram um pouco de swing no pedaço, a começar pelo proprio Jackson.
As classes populares que então ouviam Agostinho dos Santos, Altemar Dutra e Nelson Ned, entre outros, não eram o público da Jovem Guarda.O pessoal das Escolas de Samba, não ouvia Jovem Guarda. Mas a classe média meio esvaziada e pronta para ser treinada no consumo do que estivesse na prateleira, de Rita Pavone a Beatles, não importa (TV, Rádio) uma "juvenilidade" que surgia à reboque daquela outra juventude (já com seus 20 anos de idade) que associava à canção brasileira um caráter "político". Esta outra, dita politizada, já estava se dirigindo para a militância, para os movimentos de esquerda, etc. O público ao qual se destinava a jogada comercial da Jovem Guarda tinha entre 11 e 18 anos, não era politizada coisa nenhuma. Nem teve chance de saber o que era isso! Che Guevara para nós era um guerrilheiro bonito, ditadura era um regime lá, coisa lá de cima, dos militares. É esse pessoal agora que vem falar de democracia! Um dia pintaram a cara de verde e amarelo, para saudar os "90 milhões em ação, prá frente Brasil" e mais tarde para derrubar o Collor, porque alguém mandou dizer que o legal agora era ser democrata. Geração manipulada, de cabo a rabo, pela crescente expansão do sistema de consumo.A meninada queria se divertir, mas os brinquedinhos eram muito ruins.
Tanto melhor que a cantora se declare como alguém a quem "não deixaram" escolher seu repertório, confirmando o caráter político da empresa na qual teve um papel de protagonista. Melhor ainda que faça aulas de canto, como fizeram questão de me informar, o que também confirma o fato de que o "novo" repertório exige uma preparação técnica um pouco melhor do que o anterior.
Impossível colocar fora da discussão todos os artistas da época a quem também "não deixaram" entrar na tão almejada indústria fonográfica.
E caso interesse, não sou guerilheira, mas guerreira. A minha batalha se dá em campo aberto.
Prossigo, mais tarde.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
DO PORTO AO BOTEQUIM - UM CHAMADO AO BOM COMBATE
Copiei, porque não poderia dizer melhor,de:
www.hisbrasileiras.blogspot.com
BLOG DE Luiz Antonio Simas
"terça-feira, 3 de novembro de 2009
DO PORTO AO BOTEQUIM - UM CHAMADO AO BOM COMBATE
Ando cabreiro com algumas coisas que estão acontecendo nas ruas cariocas. Aqui perto de casa, por exemplo, as notícias não são das melhores. Um botequim que costumo frequentar, o Bar do Chico, inventou uma reforma meio mandrake, que incluiu pizza no cardápio, visual moderninho, garçom de gravata e, é claro, aumento dos preços dos produtos. Botequim, já não é mais. Periga virar um playground de bêbados com rodízio de pizza depois das seis da tarde.
A reforma da Zona Portuária do Rio de Janeiro também está começando a cheirar mal [sinto um futum de bota-abaixo no ar, com o espectro do Pereira Passos circundando a Guanabara]. Os projetos que vi até agora parecem querer transformar a velha Praça Mauá numa mistura entre dois monstrengos desalmados: Puerto Madero, na Argentina, e a falecida Lapa, aqui mesmo.
Puerto Madero é quase a Barra da Tijuca platina - uma área com ambientes contemporâneos [seja lá o que for esse diabo], com uma concepção de assepsia urbana que abriga restaurantes caros, decorados de formas mequetrefes e cheios de novos ricos. Uma reforma sem caráter, eis o que me pareceu. Duvido que o fantasma de Carlos Gardel caminhe naquelas plagas.
A Lapa, por sua vez, agoniza. Virou valhacouto de adultescentes, simulacro de berço do samba, com bares que vendem bebidas por preços proibitivos e que visualmente lembram a lanchonete da entrada do Memorial do Carmo, no cemitério vertical do Caju - um lugar mais digno para se beber, diga-se.
O Nova Capela [cada vez mais Nova e menos Capela ] hoje é atração turística para uns basbaques que encaram uma ida ao velho bar como uma espécie de safari no Quênia e saem dizendo que foi uma experiência inesquecível. O Bar Brasil resiste com bravura, mas até quando?
Eu quero saber o seguinte: O poder público está escutandoos moradores da Zona Portuária? A ideia é fazer da Praça Mauá um centro financeiro que mande pro lixo a história fabulosa da região? Que venha a revitalização, mas revitalizar é criar um um marco zero de gosto duvidoso, com mais de cinquenta andares, ou recuperar a grandeza da tradição e da memória do cais e de sua gente?
Como estou encafifado com esses troços, reli dia desses um arrazoado que escrevi faz tempo sobre a agonia dos nossos botequins de fé e a necessidade quase quixotesca de se lutar pela preservação de um certo modo de vivenciar a cidade e o bar. São aquelas reflexões que, em boa parte, retomo nesse texto.
Faço isso porque esse combate me parece mais urgente do que nunca. As reformas na região do porto, misturadas ao balacobaco das obras para preparar a cidade para as Olimpíadas de 2016, me fazem ficar com um olho no cavalo, que é bonito, e outro na bosta do bicho, que fede pácas.
Vivemos, e isso não é novidade alguma, tempos de uniformização dos costumes, fruto deste tal de mundo globalizado. Em cada canto desse mundaréu, ligado por redes transnacionais de telecomunicações, as pessoas assistem aos mesmos filmes, vestem as mesmas roupas, ouvem as mesmas músicas, falam o mesmo idioma, cultuam os mesmos ídolos e se comunicam em cento e quarenta toques virtuais.
Nessa espécie de culto profano, em que a vida cotidiana é regida pelos rituais em louvor ao mercado que não é o de Madureira, o bicho pega e as ideias morrem, como outro dia morreu de morte matada o acento em ideia, sem choro nem vela e sem a dignidade de um samba do Noel.
Eu, que trabalho com adolescentes e adultos jovens, percebo que as crenças e projeções de futuro da rapaziada foram substituídas pelo pânico cotidiano - do assalto e das doenças, no âmbito pessoal, às catastrofes ambientais, na esfera coletiva. Cria-se uma lógica perversa : Como posso morrer de bala perdida, pegar gripe suína ou sucumbir ao aquecimento global, preciso viver intensamente o dia de hoje.
Ocorre que essa valorização extremada do tempo presente é acompanhada pela morte das utopias coletivas de projeção do futuro. Não há mais futuro a ser planejado. Somos guiados pelos ritos do mercado e abandonamos o mundo do pensamento, onde se projetam perspectivas e são moldadas as diferenças.
Restam hoje, talvez, duas tristes utopias individuais, em meio ao fracasso dos sonhos coletivos - a de que seremos capazes de consumir o produto tal, cheio de salamaleques, e a de que poderemos ter o corpo perfeito.
Transformam-se , nesse tempos depressivos, os shoppings centers e as acadêmias de ginástica nos espaços de exercício dessas utopias tortas, onde podemos comprar produtos e moldar o corpo aos padrões da cultura contemporânea - o corpo-máquina dos atletas ou o corpo-esquálido das modelos. É a procura da felicidade que não tem, como na esquecida e sábia canção natalina. E tome de caixinhas de Prozac no sapatinho na janela.
É aí, e eu queria falar disso desde o início, que localizo na minha cidade de São Sebastião o espaço de resistência a esses padrões uniformes do mundo global - o botequim. Ele, o velho buteco, o pé-sujo, é a ágora carioca. O botequim é o país onde não há grifes, não há o corpo-máquina, o corpo-em-si-mesmo, a vitrine, o mercado pairando como um deus a exigir que se cumpram seus rituais.
O buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da festa do novo amor, da comemoração do gol, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar. É a República de fato dos homens comuns - cenário não habitado pelos personagens de novelas do Manoel Carlos.
É nessa perspectiva que vejo a luta pela preservação da cultura do buteco como algo com uma dimensão muito mais ampla que o simples exercício de combate aos bares de grife que , como praga, pululam pela cidade e se espalham como metástase urbana.
A luta pelo buteco é a possibilidade de manter viva a crença na praça popular, espaço de geração de ideias e utopias - sem viadagens intelectuais, mas fundadas na sabedoria dos que têm pouco e precisam inventar a vida - que possam nos regenerar da falência de uma (des)humanidade que limita-se a sonhar com o tênis novo e o corpo moldado, não como conquista da saúde, mas como simples egolatria incrementada com bombas e anabolizantes cavalares.
O botequim é, portanto, e não abro mão do hífen, o anti-shopping center, a anti-globalização, a recusa mais veemente ao corpo-máquina dos atletas olímpicos ou ao corpo pau-de-virar tripa das anoréxicas - corpos que se confundem na doença comum desse mundo desencantado: Metáforas da morte.
Ali, no velho buteco, entre garrafas vazias, chinelos de dedo, copos americanos, pratos feitos e petiscos gordurosos, no mar de barrigas indecentes, onde São Jorge é o protetor e mercado é só a feira da esquina, a vida resiste aos desmandos da uniformização e o Homem é restituído ao que há de mais valente e humano na sua trajetória - a capacidade de sonhar seus delírios, festejar e afogar suas dores nas ampolas geladas feito cu de foca. É onde a alma da cidade grita a resistência : Laroiê !
Esse combate, amigos, é muito mais significativo do que imaginam os arautos modernosos e seus programadores visuais.
Botequim tem alma, é entidade, feito os trapiches e sobrados do cais do porto em noite de lua cheia.
Abraços"
Postado por Luiz Antonio Simas às 14:35
www.hisbrasileiras.blogspot.com
BLOG DE Luiz Antonio Simas
"terça-feira, 3 de novembro de 2009
DO PORTO AO BOTEQUIM - UM CHAMADO AO BOM COMBATE
Ando cabreiro com algumas coisas que estão acontecendo nas ruas cariocas. Aqui perto de casa, por exemplo, as notícias não são das melhores. Um botequim que costumo frequentar, o Bar do Chico, inventou uma reforma meio mandrake, que incluiu pizza no cardápio, visual moderninho, garçom de gravata e, é claro, aumento dos preços dos produtos. Botequim, já não é mais. Periga virar um playground de bêbados com rodízio de pizza depois das seis da tarde.
A reforma da Zona Portuária do Rio de Janeiro também está começando a cheirar mal [sinto um futum de bota-abaixo no ar, com o espectro do Pereira Passos circundando a Guanabara]. Os projetos que vi até agora parecem querer transformar a velha Praça Mauá numa mistura entre dois monstrengos desalmados: Puerto Madero, na Argentina, e a falecida Lapa, aqui mesmo.
Puerto Madero é quase a Barra da Tijuca platina - uma área com ambientes contemporâneos [seja lá o que for esse diabo], com uma concepção de assepsia urbana que abriga restaurantes caros, decorados de formas mequetrefes e cheios de novos ricos. Uma reforma sem caráter, eis o que me pareceu. Duvido que o fantasma de Carlos Gardel caminhe naquelas plagas.
A Lapa, por sua vez, agoniza. Virou valhacouto de adultescentes, simulacro de berço do samba, com bares que vendem bebidas por preços proibitivos e que visualmente lembram a lanchonete da entrada do Memorial do Carmo, no cemitério vertical do Caju - um lugar mais digno para se beber, diga-se.
O Nova Capela [cada vez mais Nova e menos Capela ] hoje é atração turística para uns basbaques que encaram uma ida ao velho bar como uma espécie de safari no Quênia e saem dizendo que foi uma experiência inesquecível. O Bar Brasil resiste com bravura, mas até quando?
Eu quero saber o seguinte: O poder público está escutandoos moradores da Zona Portuária? A ideia é fazer da Praça Mauá um centro financeiro que mande pro lixo a história fabulosa da região? Que venha a revitalização, mas revitalizar é criar um um marco zero de gosto duvidoso, com mais de cinquenta andares, ou recuperar a grandeza da tradição e da memória do cais e de sua gente?
Como estou encafifado com esses troços, reli dia desses um arrazoado que escrevi faz tempo sobre a agonia dos nossos botequins de fé e a necessidade quase quixotesca de se lutar pela preservação de um certo modo de vivenciar a cidade e o bar. São aquelas reflexões que, em boa parte, retomo nesse texto.
Faço isso porque esse combate me parece mais urgente do que nunca. As reformas na região do porto, misturadas ao balacobaco das obras para preparar a cidade para as Olimpíadas de 2016, me fazem ficar com um olho no cavalo, que é bonito, e outro na bosta do bicho, que fede pácas.
Vivemos, e isso não é novidade alguma, tempos de uniformização dos costumes, fruto deste tal de mundo globalizado. Em cada canto desse mundaréu, ligado por redes transnacionais de telecomunicações, as pessoas assistem aos mesmos filmes, vestem as mesmas roupas, ouvem as mesmas músicas, falam o mesmo idioma, cultuam os mesmos ídolos e se comunicam em cento e quarenta toques virtuais.
Nessa espécie de culto profano, em que a vida cotidiana é regida pelos rituais em louvor ao mercado que não é o de Madureira, o bicho pega e as ideias morrem, como outro dia morreu de morte matada o acento em ideia, sem choro nem vela e sem a dignidade de um samba do Noel.
Eu, que trabalho com adolescentes e adultos jovens, percebo que as crenças e projeções de futuro da rapaziada foram substituídas pelo pânico cotidiano - do assalto e das doenças, no âmbito pessoal, às catastrofes ambientais, na esfera coletiva. Cria-se uma lógica perversa : Como posso morrer de bala perdida, pegar gripe suína ou sucumbir ao aquecimento global, preciso viver intensamente o dia de hoje.
Ocorre que essa valorização extremada do tempo presente é acompanhada pela morte das utopias coletivas de projeção do futuro. Não há mais futuro a ser planejado. Somos guiados pelos ritos do mercado e abandonamos o mundo do pensamento, onde se projetam perspectivas e são moldadas as diferenças.
Restam hoje, talvez, duas tristes utopias individuais, em meio ao fracasso dos sonhos coletivos - a de que seremos capazes de consumir o produto tal, cheio de salamaleques, e a de que poderemos ter o corpo perfeito.
Transformam-se , nesse tempos depressivos, os shoppings centers e as acadêmias de ginástica nos espaços de exercício dessas utopias tortas, onde podemos comprar produtos e moldar o corpo aos padrões da cultura contemporânea - o corpo-máquina dos atletas ou o corpo-esquálido das modelos. É a procura da felicidade que não tem, como na esquecida e sábia canção natalina. E tome de caixinhas de Prozac no sapatinho na janela.
É aí, e eu queria falar disso desde o início, que localizo na minha cidade de São Sebastião o espaço de resistência a esses padrões uniformes do mundo global - o botequim. Ele, o velho buteco, o pé-sujo, é a ágora carioca. O botequim é o país onde não há grifes, não há o corpo-máquina, o corpo-em-si-mesmo, a vitrine, o mercado pairando como um deus a exigir que se cumpram seus rituais.
O buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da festa do novo amor, da comemoração do gol, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar. É a República de fato dos homens comuns - cenário não habitado pelos personagens de novelas do Manoel Carlos.
É nessa perspectiva que vejo a luta pela preservação da cultura do buteco como algo com uma dimensão muito mais ampla que o simples exercício de combate aos bares de grife que , como praga, pululam pela cidade e se espalham como metástase urbana.
A luta pelo buteco é a possibilidade de manter viva a crença na praça popular, espaço de geração de ideias e utopias - sem viadagens intelectuais, mas fundadas na sabedoria dos que têm pouco e precisam inventar a vida - que possam nos regenerar da falência de uma (des)humanidade que limita-se a sonhar com o tênis novo e o corpo moldado, não como conquista da saúde, mas como simples egolatria incrementada com bombas e anabolizantes cavalares.
O botequim é, portanto, e não abro mão do hífen, o anti-shopping center, a anti-globalização, a recusa mais veemente ao corpo-máquina dos atletas olímpicos ou ao corpo pau-de-virar tripa das anoréxicas - corpos que se confundem na doença comum desse mundo desencantado: Metáforas da morte.
Ali, no velho buteco, entre garrafas vazias, chinelos de dedo, copos americanos, pratos feitos e petiscos gordurosos, no mar de barrigas indecentes, onde São Jorge é o protetor e mercado é só a feira da esquina, a vida resiste aos desmandos da uniformização e o Homem é restituído ao que há de mais valente e humano na sua trajetória - a capacidade de sonhar seus delírios, festejar e afogar suas dores nas ampolas geladas feito cu de foca. É onde a alma da cidade grita a resistência : Laroiê !
Esse combate, amigos, é muito mais significativo do que imaginam os arautos modernosos e seus programadores visuais.
Botequim tem alma, é entidade, feito os trapiches e sobrados do cais do porto em noite de lua cheia.
Abraços"
Postado por Luiz Antonio Simas às 14:35
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Mercedes
Copiado do blog do Edu Goldenberg (Buteco do Edu), postado por alguén que assina: helion
http://www.conicet.gov.ar/NOTICIAS/portal/noticia.php?n=4878&t=4
06-10-2009 | La Nación
Qué simboliza "la Negra"
Por Alejandro Grimson
La conmoción por la muerte de Mercedes Sosa es también una invitación a la reflexión. Sabemos que "la Negra" fue quizás la voz más impresionante de la historia musical argentina reciente, combinando simplicidad y sofisticación de una manera excepcional.
Sobre esa base artística se imprimen en su nombre, en su cuerpo y en su muerte otros significados culturales que es importante considerar.
Primero, "la Negra" no era negra en el sentido en que esta palabra se usa en otros países, como Brasil y Estados Unidos. "La Negra" era indígena en su ascendencia y en su despliegue musical. Era parte de ese país que no existe en el imaginario tradicional que reza que "aquí no hay negros ni indios". Quizás una de las personas más visibles y, además, más exitosas de esa porción invisibilizada de argentinos.
Al mismo tiempo, como muchos otros indígenas y mestizos, "la Negra" se abría a sus contemporáneos incluyendo en su repertorio a lo tradicional y lo moderno, al folklore y el rock nacional, a las músicas de América latina, con fronteras lábiles y porosas.
Desde esa calidad musical internacionalmente reconocida, Mercedes mantuvo y desplegó un compromiso ético y político con dos peculiaridades. Persistió firme en sus convicciones ideológicas respecto de la igualdad entre los seres humanos, en su oposición a todos los autoritarismos, en su convicción de estar junto a los más necesitados, social y culturalmente hablando. Desarrolló esa posición sin fundamentalismos, con claridad y con afecto.
Prohibida por la dictadura, transitando desde el mundo de nuestro folklore a las más diversas músicas populares contemporáneas, con una trayectoria que transmite paz y firmeza de convicciones, obteniendo reconocimiento internacional siendo plenamente ella misma, "la Negra" se convirtió en un símbolo nacional.
Al igual que cualquier país, los argentinos tenemos diversos símbolos. Cabe interrogarnos qué simboliza hoy Mercedes Sosa. Quisiéramos sugerir que en contraposición al relato tradicional del "granero del mundo" y de que descenderíamos de los barcos, "la Negra" muestra que se puede ser exitoso, conmovedor, reconocido, persistente, siendo lo que uno es y no lo que desearía ser.
Además, muestra que cambiar y ser abierto no implica, como muchas veces se supone, perder identidad.
"La negra" prueba que las convicciones instaladas acerca de quiénes somos no sólo ocultan a muchas negras y negros y mestizos. También puede abrir la imaginación para pensar que no era necesario fabricar esas ilusiones discriminatorias para construirnos como comunidad nacional.
Su muerte nos invita a buscar y reconocer a las personas de carne y hueso que viven en nuestro heterogéneo país, encontrar las cualidades que ellos tienen y que han vivido ocultas por las pretensiones europeístas, proyectando un sentido nuevo, más complejo, acerca de los sentidos de lo nacional y lo latinoamericano, tan imbricados en su figura y su voz.
El autor es antropólogo, profesor de la Universidad Nacional de San Martín y del Instituto de Altos Estudios Sociales, e investigador del Conicet.
6 de Outubro de 2009 23:12
http://www.conicet.gov.ar/NOTICIAS/portal/noticia.php?n=4878&t=4
06-10-2009 | La Nación
Qué simboliza "la Negra"
Por Alejandro Grimson
La conmoción por la muerte de Mercedes Sosa es también una invitación a la reflexión. Sabemos que "la Negra" fue quizás la voz más impresionante de la historia musical argentina reciente, combinando simplicidad y sofisticación de una manera excepcional.
Sobre esa base artística se imprimen en su nombre, en su cuerpo y en su muerte otros significados culturales que es importante considerar.
Primero, "la Negra" no era negra en el sentido en que esta palabra se usa en otros países, como Brasil y Estados Unidos. "La Negra" era indígena en su ascendencia y en su despliegue musical. Era parte de ese país que no existe en el imaginario tradicional que reza que "aquí no hay negros ni indios". Quizás una de las personas más visibles y, además, más exitosas de esa porción invisibilizada de argentinos.
Al mismo tiempo, como muchos otros indígenas y mestizos, "la Negra" se abría a sus contemporáneos incluyendo en su repertorio a lo tradicional y lo moderno, al folklore y el rock nacional, a las músicas de América latina, con fronteras lábiles y porosas.
Desde esa calidad musical internacionalmente reconocida, Mercedes mantuvo y desplegó un compromiso ético y político con dos peculiaridades. Persistió firme en sus convicciones ideológicas respecto de la igualdad entre los seres humanos, en su oposición a todos los autoritarismos, en su convicción de estar junto a los más necesitados, social y culturalmente hablando. Desarrolló esa posición sin fundamentalismos, con claridad y con afecto.
Prohibida por la dictadura, transitando desde el mundo de nuestro folklore a las más diversas músicas populares contemporáneas, con una trayectoria que transmite paz y firmeza de convicciones, obteniendo reconocimiento internacional siendo plenamente ella misma, "la Negra" se convirtió en un símbolo nacional.
Al igual que cualquier país, los argentinos tenemos diversos símbolos. Cabe interrogarnos qué simboliza hoy Mercedes Sosa. Quisiéramos sugerir que en contraposición al relato tradicional del "granero del mundo" y de que descenderíamos de los barcos, "la Negra" muestra que se puede ser exitoso, conmovedor, reconocido, persistente, siendo lo que uno es y no lo que desearía ser.
Además, muestra que cambiar y ser abierto no implica, como muchas veces se supone, perder identidad.
"La negra" prueba que las convicciones instaladas acerca de quiénes somos no sólo ocultan a muchas negras y negros y mestizos. También puede abrir la imaginación para pensar que no era necesario fabricar esas ilusiones discriminatorias para construirnos como comunidad nacional.
Su muerte nos invita a buscar y reconocer a las personas de carne y hueso que viven en nuestro heterogéneo país, encontrar las cualidades que ellos tienen y que han vivido ocultas por las pretensiones europeístas, proyectando un sentido nuevo, más complejo, acerca de los sentidos de lo nacional y lo latinoamericano, tan imbricados en su figura y su voz.
El autor es antropólogo, profesor de la Universidad Nacional de San Martín y del Instituto de Altos Estudios Sociales, e investigador del Conicet.
6 de Outubro de 2009 23:12
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Jovem Guarda no Meu Samba
O Brasil é bom. O Brasil perdoa. Todo mundo pode dizer e fazer de tudo, ações contraditórias, irresponsabilidades históricas, injustiças, ah, gente, sei lá, nem sei. O Brasil é tão legal... Não é assim, com todo mundo, né? Também, tá pensando o que? Mas tem alguns que podem. Eu fico feliz por isso. Daqui de cima ou de dentro dos meus 54 anos, e sempre na obrigatória posição de observadora, já que não faço parte da turma, contemplo a alegria da moçada! Vejamos: E hoje, así, no más, me deparo com dois vídeos da Wanderléa, http://www.youtube.com/watch?v=q0BMax7UNzo
http://www.youtube.com/watch?v=a_wl0uvApfs
vejam bem, a Minha Maninha Wanderléa, a Ternurinha, cantando Brasileirinho (W.Azevedo) e Chiclete com Banana (Jackson do Pandeiro) entre outras (Adeus América, de Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa é indicada no vídeo como de Rosa Passos! Nem tinha nascido ainda...) Que estranha simbiose! Vale a pena assistir. Ela, de oncinha e estilo tigresa tenta ser acompanhada por um dos melhores grupos musicais de samba e choro de S.Paulo no programa Sr. Brasil. O Sr. Brasil, sempre muito cordial, faz as honras da casa. Enquanto Ternurinha erra a letra,faz trejeitinhos no meio do palco, ao fundo o, assinalo, excelente grupo musical, um pouco tenso talvez pela concentração que o disparate exige, mantém a linha tentando salvar a canção das garras da moça que, entre pequenos guinchos, caras e bôcas, desempenha o seu mais recente papel.
Então fui me informar e fiquei sabendo por exemplo, segundo o texto veiculado pela produção da estrela, que: "É tempo de nova estação para Wanderléa, que retorna ao disco com repertório inédito após mais de uma década, no CD Nova Estação.O repertório traz desde um sucesso de Jackson do Pandeiro (Chiclete com banana) a uma balada de Arnaldo Antunes (Se tudo pode acontecer) passando por Martinho da Vila (Choro Chorão), Chico Buarque (Mil perdões), Geraldo Azevedo (Dia Branco), Rodgers & Hart (My Funny Valentine), Thomas Roth (Nova Estação), sem esquecer Roberto & Erasmo Carlos (Samba da preguiça e Todos estão Surdos. Em 1963,na gravadora CBS conhece Roberto e Erasmo Carlos, com quem passa a apresentar, em 1965, o programa Jovem Guarda (TV Record/São Paulo), uma das maiores audiências da TV brasileira e que Wanderléa considera a mais importante experiência na sua vitoriosa carreira de quatro décadas. Com o fim do programa,ela segue firme como estrela do pop brasileiro em discos históricos como Wanderléa Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975), Vamos que eu já vou (1977) e Mais que a paixão (1978)." Isso é o que eles dizem, a verdade histórica que eles inventaram.
É sabido, creio, que Wanderléa é uma das cantoras (sic) mais desentoadas da história da música brasileira. Apresenta visíveis e audíveis dificuldades rítmicas e melódicas, pra não falar das harmônicas, o que já seria pedir demais. Pertencente ao nefasto Movimento(sic) denominado Jovem Guarda que era capitaneado pelo Rei (sic, eu já estou com soluços) Roberto Carlos, Wanderléa representava a sensualidade (sic) e a doçura (sic), o modelo feminino da juventude brasileira que não precisava se incomodar com a ditadura. Uma "garota gostosa", de classe média (reacionária) e sem problemas, a não ser "pedir ao sr. juiz que pare agora! o casamento que vai ser pra mim todo o meu tormento". O programa Jovem Guarda vendia essa imagem: tres jovens legais, dois meninos e uma menina que só queriam nos dar alegria através da música (sic) e de sua saudável amizade. E, claro, vendendo produtos de péssima qualidade, assim como suas canções, da marca "Calhambeque". Umas saiazinhas, cintos e chapéus de uma estampa riscadinha, horríveis, assinados pelo Rei, que naquela época acho que ainda não havia alcançado esse posto. As roupas eram tão feias e tão ruins que o projeto naufragou. Roberto Carlos, como todos sabem, foi reconhecido como grande astro pelos nossos pavões reais, que na época estavam sendo perseguidos(sic) Caetano e Gil. Representante máximo da Cultura de Massa no mercado do disco no Brasil, fenômeno da indústria fonográfica que enriqueceu não só a ele mas a diversos produtores de carater variavel...O Roberto Carlos é legal... Erasmo Carlos, sempre totalmente fora de si, O Tremendão, já exibia umas olheiras enormes que deviam dar muito trabalho pra equipe de maquiagem do programa vespertino. Fazia um tipo meio cafajestão (faz parte do perfil do Brasil cordial), mas no fundo, era legal, bonzinho e tudo. Aquele homenzarrão cantando: "Eu queria ser, o seu caderninho" que Mostrar tudotem um verso impagável: "inclusive, na escola eu iria com você entrar"...Inclusive, é legal. Ah! e tem "A carta", legal também, rimando e com direito à excelente cacofonia: Que tu tiveste só entusiasmo,(...) do sempre, sempre seu, Erasmo". Em comoventes interpretações de extrema carência artística, os rapazes assumiam ares de rebeldia, no melhor estilo "gang" de bairro classe média. Agora, proponho um jogo: Vamos colocar juntas as expressões que estão grifadas no texto acima, e mate a charada: Se tudo pode acontecer; Mil perdões;Dia branco;Samba da Preguiça; Se todos estão surdos; Se não deu ainda, continuemos: 1963-1965 (o que foi que aconteceu mesmo nessa época?);Jovem Guarda; TV brasileira;Vitoriosa carreira de quatro décadas;Estrela do pop brasileiro em discos históricos (que discos históricos? Por acaso alguém conhece esses discos?); Feito gente. O que é mais legal ainda é o recado que envio ao excelente grupo de amigos e instrumentistas, artistas de seriedade e inegável valor, por favor, abram os olhos e os ouvidos: "Só ponho Jovem Guarda no meu samba quando o iêêiê pegar no tamborim"
http://www.youtube.com/watch?v=a_wl0uvApfs
vejam bem, a Minha Maninha Wanderléa, a Ternurinha, cantando Brasileirinho (W.Azevedo) e Chiclete com Banana (Jackson do Pandeiro) entre outras (Adeus América, de Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa é indicada no vídeo como de Rosa Passos! Nem tinha nascido ainda...) Que estranha simbiose! Vale a pena assistir. Ela, de oncinha e estilo tigresa tenta ser acompanhada por um dos melhores grupos musicais de samba e choro de S.Paulo no programa Sr. Brasil. O Sr. Brasil, sempre muito cordial, faz as honras da casa. Enquanto Ternurinha erra a letra,faz trejeitinhos no meio do palco, ao fundo o, assinalo, excelente grupo musical, um pouco tenso talvez pela concentração que o disparate exige, mantém a linha tentando salvar a canção das garras da moça que, entre pequenos guinchos, caras e bôcas, desempenha o seu mais recente papel.
Então fui me informar e fiquei sabendo por exemplo, segundo o texto veiculado pela produção da estrela, que: "É tempo de nova estação para Wanderléa, que retorna ao disco com repertório inédito após mais de uma década, no CD Nova Estação.O repertório traz desde um sucesso de Jackson do Pandeiro (Chiclete com banana) a uma balada de Arnaldo Antunes (Se tudo pode acontecer) passando por Martinho da Vila (Choro Chorão), Chico Buarque (Mil perdões), Geraldo Azevedo (Dia Branco), Rodgers & Hart (My Funny Valentine), Thomas Roth (Nova Estação), sem esquecer Roberto & Erasmo Carlos (Samba da preguiça e Todos estão Surdos. Em 1963,na gravadora CBS conhece Roberto e Erasmo Carlos, com quem passa a apresentar, em 1965, o programa Jovem Guarda (TV Record/São Paulo), uma das maiores audiências da TV brasileira e que Wanderléa considera a mais importante experiência na sua vitoriosa carreira de quatro décadas. Com o fim do programa,ela segue firme como estrela do pop brasileiro em discos históricos como Wanderléa Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975), Vamos que eu já vou (1977) e Mais que a paixão (1978)." Isso é o que eles dizem, a verdade histórica que eles inventaram.
É sabido, creio, que Wanderléa é uma das cantoras (sic) mais desentoadas da história da música brasileira. Apresenta visíveis e audíveis dificuldades rítmicas e melódicas, pra não falar das harmônicas, o que já seria pedir demais. Pertencente ao nefasto Movimento(sic) denominado Jovem Guarda que era capitaneado pelo Rei (sic, eu já estou com soluços) Roberto Carlos, Wanderléa representava a sensualidade (sic) e a doçura (sic), o modelo feminino da juventude brasileira que não precisava se incomodar com a ditadura. Uma "garota gostosa", de classe média (reacionária) e sem problemas, a não ser "pedir ao sr. juiz que pare agora! o casamento que vai ser pra mim todo o meu tormento". O programa Jovem Guarda vendia essa imagem: tres jovens legais, dois meninos e uma menina que só queriam nos dar alegria através da música (sic) e de sua saudável amizade. E, claro, vendendo produtos de péssima qualidade, assim como suas canções, da marca "Calhambeque". Umas saiazinhas, cintos e chapéus de uma estampa riscadinha, horríveis, assinados pelo Rei, que naquela época acho que ainda não havia alcançado esse posto. As roupas eram tão feias e tão ruins que o projeto naufragou. Roberto Carlos, como todos sabem, foi reconhecido como grande astro pelos nossos pavões reais, que na época estavam sendo perseguidos(sic) Caetano e Gil. Representante máximo da Cultura de Massa no mercado do disco no Brasil, fenômeno da indústria fonográfica que enriqueceu não só a ele mas a diversos produtores de carater variavel...O Roberto Carlos é legal... Erasmo Carlos, sempre totalmente fora de si, O Tremendão, já exibia umas olheiras enormes que deviam dar muito trabalho pra equipe de maquiagem do programa vespertino. Fazia um tipo meio cafajestão (faz parte do perfil do Brasil cordial), mas no fundo, era legal, bonzinho e tudo. Aquele homenzarrão cantando: "Eu queria ser, o seu caderninho" que Mostrar tudotem um verso impagável: "inclusive, na escola eu iria com você entrar"...Inclusive, é legal. Ah! e tem "A carta", legal também, rimando e com direito à excelente cacofonia: Que tu tiveste só entusiasmo,(...) do sempre, sempre seu, Erasmo". Em comoventes interpretações de extrema carência artística, os rapazes assumiam ares de rebeldia, no melhor estilo "gang" de bairro classe média. Agora, proponho um jogo: Vamos colocar juntas as expressões que estão grifadas no texto acima, e mate a charada: Se tudo pode acontecer; Mil perdões;Dia branco;Samba da Preguiça; Se todos estão surdos; Se não deu ainda, continuemos: 1963-1965 (o que foi que aconteceu mesmo nessa época?);Jovem Guarda; TV brasileira;Vitoriosa carreira de quatro décadas;Estrela do pop brasileiro em discos históricos (que discos históricos? Por acaso alguém conhece esses discos?); Feito gente. O que é mais legal ainda é o recado que envio ao excelente grupo de amigos e instrumentistas, artistas de seriedade e inegável valor, por favor, abram os olhos e os ouvidos: "Só ponho Jovem Guarda no meu samba quando o iêêiê pegar no tamborim"
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Homem Cordial em ação!
Sem dúvida as raízes do Brasil são a base sólida de uma árvore que continua produzindo tantos frutos podres. Sob sua frondrosa sombra vicejam ervas daninhas e flores carnívoras. Para os leigos em biologia e botânica, como eu, um esclarecimento:
"A dieta das plantas popularmente chamadas carnívoras é bem variada. Elas comem organismos aquáticos microscópicos, moluscos (lesmas e caramujos), insetos, aranhas, centopéias e de vez em quando animais pequenos como sapos."(fonte: Google...rsrsrs)
Acabo de engolir um sapo!
Senão, vejamos:
Numa luta totalmente desproporcional e talvez sofrendo das mesmas alucinações de D. Quixote, cavaleiro a quem admiro e respeito, perguntei ao São SESC, divindade extremamente cultuada nessas terras de ninguém (ou de Alguém), porque motivo o SESC ainda continua exigindo a carteira da OMB para que os músicos possam usufruir do privilégio de tocar em suas unidades culturais. Modestamente, argumentei , ao menos em S. Paulo onde vigora a lei 12.457, ela deveria ser cumprida.
O SESC respondeu:
" Márcia: esclarecemos que a Lei Estadual somente isenta o músico da apresentação da carteira de inscrição na OMB durante a apresentação do espetáculo. Portanto, o SESC SP não solicita ao artista a apresentação da carteira da OMB durante o show e sim no momento da contratação. Obrigado"
Rárárárárá!!!!
Ou muito me engano, ou entendí que o músico tem que apresentar a carteira , mas só na hora de assinar o contrato? E não durante o show? Ora, se o show só ocorre depois da assinatura do contrato, me parece que o SESC está afirmando que exige, sim, a apresentação da malfadada carteira, que por sua vez é o objeto que prova que você pertence ou não a essa entidade(OMB)!
Em primeiro lugar, o SESC está mal informado. À lei de 2007 foi incorporado um artigo, em março de 2009, que desobriga também a filiação. Exatamente para eliminar esse tipo de resposta evasiva (tenho outras palavras, mas são piores do que esta) ao qual as entidades, sabe-se lá por qual motivo, que ignoro mas desconfio, recorrem com o intuito de apoiar a existência hegemônica e o poder arbitrário exercido pela OMB durante mais de 40 anos, com truculência, ameaças e perseguições típicas de regimes ditatoriais.
E mesmo se esse artigo não houvesse sido incorporado, qualquer pessoa de mediana inteligência percebe que está implícita na "não apresentação da carteira" a reinvidicação da inutilidade legal da mesma enquanto documento de comprovação profissional.
O Homem Cordial foi um termo sábiamente utilizado por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro "Raízes do Brasil", considerado um dos mais importantes clássicos da historiografia, antropologia e sociologia brasileiras, para qualificar procedimentos dessa natureza. Tenho certeza que o sr. Danilo Santos de Miranda, sociólogo, diretor do Departamento Regional do SESC no Estado de São Paulo, a quem também admiro e respeito, conhece a obra.
Ao vincular a contratação do músico ao registro na OMB, o SESC, além de descumprir uma lei estadual, está ferindo um dos artigos da Constituição Brasileira de 1988 que garante o direito e a liberdade do cidadão em não ser constrangido a se filiar a qualquer tipo de entidade ou organização para o exercício de sua profissão, desde que não ofereça riscos e danos irreversíveis à coletividade. Não sou eu, em minha estropiada armadura quixotesca quem inventou essa frase, mas a Carta Magna da República Federativa do Brasil.
O que causa danos irreversíveis à coletividade é a insistência de entidades que se valem de um poder adquirido sobre a arrecadação de impostos públicos na decisão do que é lei ou não.
Também tenho certeza absoluta de que estou me oferecendo em holocausto ao comprar essa briga, pois "O Homem Cordial" não perdoa aqueles que o contestam. O SESC jamais me incluirá em suas programações, se um dia tiver conhecimento desse artigo.
Alguém duvida?
"A dieta das plantas popularmente chamadas carnívoras é bem variada. Elas comem organismos aquáticos microscópicos, moluscos (lesmas e caramujos), insetos, aranhas, centopéias e de vez em quando animais pequenos como sapos."(fonte: Google...rsrsrs)
Acabo de engolir um sapo!
Senão, vejamos:
Numa luta totalmente desproporcional e talvez sofrendo das mesmas alucinações de D. Quixote, cavaleiro a quem admiro e respeito, perguntei ao São SESC, divindade extremamente cultuada nessas terras de ninguém (ou de Alguém), porque motivo o SESC ainda continua exigindo a carteira da OMB para que os músicos possam usufruir do privilégio de tocar em suas unidades culturais. Modestamente, argumentei , ao menos em S. Paulo onde vigora a lei 12.457, ela deveria ser cumprida.
O SESC respondeu:
" Márcia: esclarecemos que a Lei Estadual somente isenta o músico da apresentação da carteira de inscrição na OMB durante a apresentação do espetáculo. Portanto, o SESC SP não solicita ao artista a apresentação da carteira da OMB durante o show e sim no momento da contratação. Obrigado"
Rárárárárá!!!!
Ou muito me engano, ou entendí que o músico tem que apresentar a carteira , mas só na hora de assinar o contrato? E não durante o show? Ora, se o show só ocorre depois da assinatura do contrato, me parece que o SESC está afirmando que exige, sim, a apresentação da malfadada carteira, que por sua vez é o objeto que prova que você pertence ou não a essa entidade(OMB)!
Em primeiro lugar, o SESC está mal informado. À lei de 2007 foi incorporado um artigo, em março de 2009, que desobriga também a filiação. Exatamente para eliminar esse tipo de resposta evasiva (tenho outras palavras, mas são piores do que esta) ao qual as entidades, sabe-se lá por qual motivo, que ignoro mas desconfio, recorrem com o intuito de apoiar a existência hegemônica e o poder arbitrário exercido pela OMB durante mais de 40 anos, com truculência, ameaças e perseguições típicas de regimes ditatoriais.
E mesmo se esse artigo não houvesse sido incorporado, qualquer pessoa de mediana inteligência percebe que está implícita na "não apresentação da carteira" a reinvidicação da inutilidade legal da mesma enquanto documento de comprovação profissional.
O Homem Cordial foi um termo sábiamente utilizado por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro "Raízes do Brasil", considerado um dos mais importantes clássicos da historiografia, antropologia e sociologia brasileiras, para qualificar procedimentos dessa natureza. Tenho certeza que o sr. Danilo Santos de Miranda, sociólogo, diretor do Departamento Regional do SESC no Estado de São Paulo, a quem também admiro e respeito, conhece a obra.
Ao vincular a contratação do músico ao registro na OMB, o SESC, além de descumprir uma lei estadual, está ferindo um dos artigos da Constituição Brasileira de 1988 que garante o direito e a liberdade do cidadão em não ser constrangido a se filiar a qualquer tipo de entidade ou organização para o exercício de sua profissão, desde que não ofereça riscos e danos irreversíveis à coletividade. Não sou eu, em minha estropiada armadura quixotesca quem inventou essa frase, mas a Carta Magna da República Federativa do Brasil.
O que causa danos irreversíveis à coletividade é a insistência de entidades que se valem de um poder adquirido sobre a arrecadação de impostos públicos na decisão do que é lei ou não.
Também tenho certeza absoluta de que estou me oferecendo em holocausto ao comprar essa briga, pois "O Homem Cordial" não perdoa aqueles que o contestam. O SESC jamais me incluirá em suas programações, se um dia tiver conhecimento desse artigo.
Alguém duvida?
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
sábado, 1 de agosto de 2009
Adoniran Barbosa por Antonio Candido
Na contracapa do LP: "Adoniran Barbosa" (Odeon,1975; Dir. Musical de José Briamonte), encontrei este belo texto do mestre Antonio Candido, que transcrevo na íntegra:
" Adoniran Barbosa é um grande compositor e poeta popular, expressivo como poucos; mas não é Adoniran nem Barbosa, e sim João Rubinato, que adotou o nome de um amigo do Correio e o sobrenome de um compositor admirado. A idéia foi excelente, porque um artista inventa antes demais nada a sua própria personalidade; e porque, ao fazer isto, ele exprimiu a realidade tão paulista do italiano recoberto pela terra e do brasileiro das raízes européias. Adoniran é um paulista de cerne que exprime a sua terra com a força da imaginação alimentada pelas heranças necessárias de fora.
Já tenho lido que ele usa uma língua misturada de italiano e português. Não concordo. Da mistura, que é o sal da nossa terra, Adoniran colheu a flor e produziu uma obra radicalmente brasileira, em que as melhores cadências do samba e da canção, alimentadas inclusive pelo terreno fértil das Escolas, se alia com naturalidade às deformações normais de português brasileiro, onde Ernesto vira Arnesto, em cuja casa nós fumo e não encontremo ninguém, exatamente como por todo esse país. Em São Paulo, hoje, o italiano está na filigrana.
A fidelidade à música e à fala do povo permitiram a Adoniran exprimir a sua Cidade de modo completo e perfeito. São Paulo muda muito, e ninguém é capaz de dizer aonde irá. Mas a cidade que nossa geração conheceu (Adoniran é de 1910) foi a que se sobrepôs à velha cidadezinha caipira, entre 1900 e 1950; e que desde então vem cedendo lugar a uma outra, transformada em vasta aglomeração de gente vinda de toda parte. A nossa cidade, que substituiu a São Paulo estudantil e provinciana, foi a dos mestres-de-obra italianos e portugueses, dos arquitetos de inspiração neo-clássica, floral e neo-colonial, em camadas sucessivas. São Paulo dos palacetes franco-libaneses do Ipiranga, das vilas uniformes do Brás, das casas meio francesas de Higienópolis, da salada da Avenida Paulista. São Paulo da 25 de março dos sírios, da Caetano Pinto dos espanhóis, das Rapaziadas do Brás, na qual se apurou um novo modo cantante de falar português, como língua geral na convergência dos dialetos peninsulares e do baixo-contínuo vernáculo. Esta cidade que está acabando, que já acabou com a garoa, os bondes, o trem da Cantareira, o Triângulo, as Cantinas do Bexiga, Adoniran não a deixará acabar, porque graças a ele ela ficará, misturada vivamente com a nova mas, como o quarto do poeta, também "intacta, boiando no ar."
A sua poesia e a sua música são ao mesmo tempo brasileiras em geral e paulistanas em particular. Sobretudo quando entram (quase sempre discretamente) as indicações de lugar, para nos porem no Alto da Mooca, na Casa Verde, na Avenida São João, na 23 de Maio, no Brás genérico, no recente metrô, no antes remoto Jaçanã. Quando não há esta indicação, a lembrança de outras composições, a atmosfera lírica cheia de espaço que é a de Adoniran, nos fazem sentir por onde se perdeu Inês ou onde o desastrado Papai Noel da chaminé estreita foi comprar Bala Mistura: nalgum lugar de São Paulo. Sem falar que o único poema em italiano deste disco nos põe no seu âmago, sem necessidade de localização.
Com os seus firmes 65 anos de magro, Adoniran é o homem da São Paulo entre as duas guerras, se prolongando na que surgiu como jibóia fuliginosa dos vales e morros para devorá-la. Lírico e sarcástico, malicioso e logo emocionado, com o encanto insinuante da sua anti-voz rouca, o chapeuzinho de aba quebrada sobre a permanência do laço de borboleta dos outros tempos, ele é a voz da Cidade. Talvez a borboleta seja mágica; talvez seja a mariposa que senta no prato das lâmpadas e se transforma na carne noturna das mulheres perdidas. Talvez João Rubinato não exista, porque quem existe é o mágico Adoniran Barbosa, vindo dos carreadores de café para inventar no plano da arte a permanência da sua cidade e depois fugir, com ela e conosco, para a terra da poesia, ao apito fantasmal do trenzinho perdido da Cantareira." (Antonio Candido, 1975)
" Adoniran Barbosa é um grande compositor e poeta popular, expressivo como poucos; mas não é Adoniran nem Barbosa, e sim João Rubinato, que adotou o nome de um amigo do Correio e o sobrenome de um compositor admirado. A idéia foi excelente, porque um artista inventa antes demais nada a sua própria personalidade; e porque, ao fazer isto, ele exprimiu a realidade tão paulista do italiano recoberto pela terra e do brasileiro das raízes européias. Adoniran é um paulista de cerne que exprime a sua terra com a força da imaginação alimentada pelas heranças necessárias de fora.
Já tenho lido que ele usa uma língua misturada de italiano e português. Não concordo. Da mistura, que é o sal da nossa terra, Adoniran colheu a flor e produziu uma obra radicalmente brasileira, em que as melhores cadências do samba e da canção, alimentadas inclusive pelo terreno fértil das Escolas, se alia com naturalidade às deformações normais de português brasileiro, onde Ernesto vira Arnesto, em cuja casa nós fumo e não encontremo ninguém, exatamente como por todo esse país. Em São Paulo, hoje, o italiano está na filigrana.
A fidelidade à música e à fala do povo permitiram a Adoniran exprimir a sua Cidade de modo completo e perfeito. São Paulo muda muito, e ninguém é capaz de dizer aonde irá. Mas a cidade que nossa geração conheceu (Adoniran é de 1910) foi a que se sobrepôs à velha cidadezinha caipira, entre 1900 e 1950; e que desde então vem cedendo lugar a uma outra, transformada em vasta aglomeração de gente vinda de toda parte. A nossa cidade, que substituiu a São Paulo estudantil e provinciana, foi a dos mestres-de-obra italianos e portugueses, dos arquitetos de inspiração neo-clássica, floral e neo-colonial, em camadas sucessivas. São Paulo dos palacetes franco-libaneses do Ipiranga, das vilas uniformes do Brás, das casas meio francesas de Higienópolis, da salada da Avenida Paulista. São Paulo da 25 de março dos sírios, da Caetano Pinto dos espanhóis, das Rapaziadas do Brás, na qual se apurou um novo modo cantante de falar português, como língua geral na convergência dos dialetos peninsulares e do baixo-contínuo vernáculo. Esta cidade que está acabando, que já acabou com a garoa, os bondes, o trem da Cantareira, o Triângulo, as Cantinas do Bexiga, Adoniran não a deixará acabar, porque graças a ele ela ficará, misturada vivamente com a nova mas, como o quarto do poeta, também "intacta, boiando no ar."
A sua poesia e a sua música são ao mesmo tempo brasileiras em geral e paulistanas em particular. Sobretudo quando entram (quase sempre discretamente) as indicações de lugar, para nos porem no Alto da Mooca, na Casa Verde, na Avenida São João, na 23 de Maio, no Brás genérico, no recente metrô, no antes remoto Jaçanã. Quando não há esta indicação, a lembrança de outras composições, a atmosfera lírica cheia de espaço que é a de Adoniran, nos fazem sentir por onde se perdeu Inês ou onde o desastrado Papai Noel da chaminé estreita foi comprar Bala Mistura: nalgum lugar de São Paulo. Sem falar que o único poema em italiano deste disco nos põe no seu âmago, sem necessidade de localização.
Com os seus firmes 65 anos de magro, Adoniran é o homem da São Paulo entre as duas guerras, se prolongando na que surgiu como jibóia fuliginosa dos vales e morros para devorá-la. Lírico e sarcástico, malicioso e logo emocionado, com o encanto insinuante da sua anti-voz rouca, o chapeuzinho de aba quebrada sobre a permanência do laço de borboleta dos outros tempos, ele é a voz da Cidade. Talvez a borboleta seja mágica; talvez seja a mariposa que senta no prato das lâmpadas e se transforma na carne noturna das mulheres perdidas. Talvez João Rubinato não exista, porque quem existe é o mágico Adoniran Barbosa, vindo dos carreadores de café para inventar no plano da arte a permanência da sua cidade e depois fugir, com ela e conosco, para a terra da poesia, ao apito fantasmal do trenzinho perdido da Cantareira." (Antonio Candido, 1975)
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Veja só, que maravilha!
"A procuradora-geral da República, Deborah Duprat, ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra dispositivos da lei que regulamenta a profissão de músico.
Para Duprat, as regras questionadas não foram recepcionadas pela Constituição Federal e são "flagrantemente incompatíveis" com a liberdade de expressão da atividade artística e com a liberdade profissional.
A ação proposta pela procuradora-geral é uma arguição de descumprimento de preceito fundamental, instrumento jurídico próprio para evitar ou reparar uma violação de algum preceito fundamental da Constituição Federal.
Ao todo, a procuradora-geral contesta 22 artigos da lei que criou, em 1960, a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), estabeleceu requisitos para o exercício da profissão de músico e instituiu o poder de polícia sobre essa atividade artística.
O artigo 16 da lei determina que somente pode exercer a profissão de músico quem estiver regularmente registrado no Ministério da Educação e Cultura e no Conselho Regional dos Músicos com jurisdição na região de atividade do artista.
A procuradora-geral lembra que, ao anular a obrigatoriedade do diploma de jornalista, o STF afirmou que as restrições à liberdade profissional somente seriam válidas em relação às "profissões que, de alguma forma, poderiam trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas".
Ela questiona que tipo de interesse justificaria a restrição à liberdade profissional do músico e a qual risco social estaria envolvido nesta profissão. Segundo Duprat, "se um profissional for um mau músico, nenhum dano significativo ele causará a sociedade".
Duprat ressalta ainda que um dos campos mais relevantes da liberdade de expressão é o das manifestações artísticas, inclusive a música. Assim, essa liberdade é violada com a exigência de que músicos profissionais se filiem à Ordem dos Músicos do Brasil."
Da mesma maneira, é indiscutível a ofensa à liberdade de expressão consubstanciada na atribuição a órgão estatal do poder de disciplinar, fiscalizar e punir pessoas em razão do exercício de sua atividade artística", afirmou a procuradora.A procuradora-geral pede a suspensão dos dispositivos até o julgamento final da ação.
Ela alega que "essas normas criam inadmissíveis embaraços aos músicos profissionais, dificultando o exercício da sua profissão e cerceando o seu direito à livre expressão artística", além de privar "toda a sociedade do acesso à obra destes artistas".
Para Duprat, as regras questionadas não foram recepcionadas pela Constituição Federal e são "flagrantemente incompatíveis" com a liberdade de expressão da atividade artística e com a liberdade profissional.
A ação proposta pela procuradora-geral é uma arguição de descumprimento de preceito fundamental, instrumento jurídico próprio para evitar ou reparar uma violação de algum preceito fundamental da Constituição Federal.
Ao todo, a procuradora-geral contesta 22 artigos da lei que criou, em 1960, a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), estabeleceu requisitos para o exercício da profissão de músico e instituiu o poder de polícia sobre essa atividade artística.
O artigo 16 da lei determina que somente pode exercer a profissão de músico quem estiver regularmente registrado no Ministério da Educação e Cultura e no Conselho Regional dos Músicos com jurisdição na região de atividade do artista.
A procuradora-geral lembra que, ao anular a obrigatoriedade do diploma de jornalista, o STF afirmou que as restrições à liberdade profissional somente seriam válidas em relação às "profissões que, de alguma forma, poderiam trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas".
Ela questiona que tipo de interesse justificaria a restrição à liberdade profissional do músico e a qual risco social estaria envolvido nesta profissão. Segundo Duprat, "se um profissional for um mau músico, nenhum dano significativo ele causará a sociedade".
Duprat ressalta ainda que um dos campos mais relevantes da liberdade de expressão é o das manifestações artísticas, inclusive a música. Assim, essa liberdade é violada com a exigência de que músicos profissionais se filiem à Ordem dos Músicos do Brasil."
Da mesma maneira, é indiscutível a ofensa à liberdade de expressão consubstanciada na atribuição a órgão estatal do poder de disciplinar, fiscalizar e punir pessoas em razão do exercício de sua atividade artística", afirmou a procuradora.A procuradora-geral pede a suspensão dos dispositivos até o julgamento final da ação.
Ela alega que "essas normas criam inadmissíveis embaraços aos músicos profissionais, dificultando o exercício da sua profissão e cerceando o seu direito à livre expressão artística", além de privar "toda a sociedade do acesso à obra destes artistas".
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Reflexões
Estava observando minha foto ao mudar o visual do blog e tive a impressão de que, apesar do sorriso, a flauta aparece mais como ferramenta do que instrumento. E descobrí que é esta foto ainda a mais adequada como apresentação do blog , pois se também quero fazer uso da palavra...digo de outro modo: não dá pra chupar cana e assobiar.
Muita vontade eu tenho de tocar, e o faço. Mas, do jeito que a coisa anda, tenho usado este espaço e a flauta, muito mais para distribuir pauladas (ou flautadas) do que pra falar de música ou compartilhar de assuntos mais amenos, ou ao menos, propriamente musicais.
Outro dia me disseram que eu deveria fazer crítica musical, Deus meu! Dito por um amigo, vejam só! Acho que não existe ofício mais árduo do que este, só de pensar sinto calafrios...Imaginar-me dizendo coisas que penso sobre o que ouço e, o que é pior: tendo que ouvir e ir aos shows e concertos que se anunciam, identificando tendências que a mídia indica como real expressão cultural mas que de fato é apenas a produção de uma certa fatia da população, pressupondo um gôsto musical. Porque infelizmente é isso que tem caracterizado a crítica musical na imprensa brasileira: - o que é que está vendendo ? Uma espécie de jabá temporário, até o próximo artigo.
Pois é, prefiro fazer a crítica da crítica. Por exemplo, Nelson Motta. Ele se anuncia como um decobridor de talentos, arauto dos novos valores. Corro até lá, consulto seu blog ou site, e o que aparece? Rita Lee e Ed Motta. Ótimos os dois mas, tenha dó, tenho autógrafos de ambos datados de quando eu tinha 16 anos de idade...
E o que será que está acontecendo com o Arrigo Barnabé, por exemplo, outro ícone da vanguarda, que agora afirma que descobriu o Lupicínio Rodrigues ?
Pô, Arrigo, na época em que você lançou Clara Crocodilo, ai de mim se dissesse que já gostava de Lupicínio! Mas que bom que ele se livrou desse compromisso com a vanguarda, bandeira tirânica por demais.
Ah, e tem as novas cantoras. Não sei bem quem são, mas cantam Samba, Partido Alto e Bossa Nova. Salvo exceções, o jeito pop com que caracterizam suas interpretações, me faz correr pro colo de Aracy de Almeida, Clara Nunes, Elis Regina. E depois o Nelson Motta ainda diz que o massacre imperialista na cultura brasileira foi apenas uma "paranóia do perfeito idiota latinoamericano", aff...ele diz isso lá no site dele.
Mas aqui estou eu fazendo crítica, deixa as meninas em paz...afinal, pra que tanto saudosismo?
Já pensou se a gente percebesse que só ouve bossa nova porque a novela da globo deixou? Ou que o Tom Zé só virou gênio de uns tempos pra cá porque descobriram ele lá? E que a música indiana não é aquela gritaria na TV e que o Ravi da novela não é o Ravy Shankar?
Dizem que a internet vai resolver tudo isso, mas não é assim tão simples. Os grandes manipuladores da opinião adoram novas ferramentas.
Eu continuo a dar pauladas, digo, flautadas, com meu velho tacape: "É a cabeça, irmão!", aliás, Walter Franco (Nossa!)
Muita vontade eu tenho de tocar, e o faço. Mas, do jeito que a coisa anda, tenho usado este espaço e a flauta, muito mais para distribuir pauladas (ou flautadas) do que pra falar de música ou compartilhar de assuntos mais amenos, ou ao menos, propriamente musicais.
Outro dia me disseram que eu deveria fazer crítica musical, Deus meu! Dito por um amigo, vejam só! Acho que não existe ofício mais árduo do que este, só de pensar sinto calafrios...Imaginar-me dizendo coisas que penso sobre o que ouço e, o que é pior: tendo que ouvir e ir aos shows e concertos que se anunciam, identificando tendências que a mídia indica como real expressão cultural mas que de fato é apenas a produção de uma certa fatia da população, pressupondo um gôsto musical. Porque infelizmente é isso que tem caracterizado a crítica musical na imprensa brasileira: - o que é que está vendendo ? Uma espécie de jabá temporário, até o próximo artigo.
Pois é, prefiro fazer a crítica da crítica. Por exemplo, Nelson Motta. Ele se anuncia como um decobridor de talentos, arauto dos novos valores. Corro até lá, consulto seu blog ou site, e o que aparece? Rita Lee e Ed Motta. Ótimos os dois mas, tenha dó, tenho autógrafos de ambos datados de quando eu tinha 16 anos de idade...
E o que será que está acontecendo com o Arrigo Barnabé, por exemplo, outro ícone da vanguarda, que agora afirma que descobriu o Lupicínio Rodrigues ?
Pô, Arrigo, na época em que você lançou Clara Crocodilo, ai de mim se dissesse que já gostava de Lupicínio! Mas que bom que ele se livrou desse compromisso com a vanguarda, bandeira tirânica por demais.
Ah, e tem as novas cantoras. Não sei bem quem são, mas cantam Samba, Partido Alto e Bossa Nova. Salvo exceções, o jeito pop com que caracterizam suas interpretações, me faz correr pro colo de Aracy de Almeida, Clara Nunes, Elis Regina. E depois o Nelson Motta ainda diz que o massacre imperialista na cultura brasileira foi apenas uma "paranóia do perfeito idiota latinoamericano", aff...ele diz isso lá no site dele.
Mas aqui estou eu fazendo crítica, deixa as meninas em paz...afinal, pra que tanto saudosismo?
Já pensou se a gente percebesse que só ouve bossa nova porque a novela da globo deixou? Ou que o Tom Zé só virou gênio de uns tempos pra cá porque descobriram ele lá? E que a música indiana não é aquela gritaria na TV e que o Ravi da novela não é o Ravy Shankar?
Dizem que a internet vai resolver tudo isso, mas não é assim tão simples. Os grandes manipuladores da opinião adoram novas ferramentas.
Eu continuo a dar pauladas, digo, flautadas, com meu velho tacape: "É a cabeça, irmão!", aliás, Walter Franco (Nossa!)
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Boas Novas! CPT não exige mais a OMB
Resposta da Cooperativa Paulista de Teatro ao meu tópico: Ouvidos Moucos:
" Quando entrou em contato pela primeira vez, discutimos entre os membros do Conselho Administrativo, assim como com os advogados da Cooperativa, a questão do registro na OMB.
Sabemos que essa questão não está judicialmente fechada e a Cooperativa busca trabalhar dentro da legalidade. Isso quer dizer que todos os seus associados devem ser profissionais.
Não é mais exigência da Cooperativa de Teatro que o músico, ao se associar à entidade, tenha registro na OMB. Caso, não tenha, poderá comprovar sua atividade profissional através de currículo, portifólio ou com o material que achar adequado.
Quanto a outras entidades, como o Sesc que você citou, não temos como responder.
Por favor, caso tenha alguma notícia diferente sobre os nossos procedimentos, me informe.
Obrigada,
Maysa Lepique"
Minha contra resposta:
Informo que apesar da lei ser datada de 2007, todos os grupos de Teatro exigem do músico sua associação à CPT para que possam receber e participar de processos de incentivo, como a Lei do Fomento, por exemplo. Isso viabiliza a regulamentação de seus pagamentos, visto que a OMB nunca intermediou essa e outras questões, sem ao menos fornecer nota contratual, entre outros direitos.Qualquer músico, em igual situação pode confirmar o mesmo.
A exigência está claramente disposta no site da CPT no tópico "Como se associar", tanto em grupo como individualmente:
"Caso o interessado não tenha cadastro no CCM e INSS e não possua DRT ou OMB, seu pedido de ingresso será negado."
Não está escrito ou , mas e .
Durante todo o ano de 2007 e 2008 eu trabalhei com grupos de teatro filiados à CPT que justificaram, irregularmente, meu pagamento como "despesas de produção", o que me prejudicou em termos de direito trabalhista. Fui convidada e não pude participar de vários projetos ligados à Lei de Incentivo ao Teatro, por não ter a OMB, pois sem ela não pude me filiar à CPT.
Atuo na área de teatro e música desde 1974, tendo trabalhado sob a direção de Jorge de Andrade, Arutin, Abujamra, Sofredinni, Paulo Herculano, Carlos Castilho, Ilo Krugli, entre outros.
Tenho CCM e INSS e me filiei à OMB em 1975, da qual fiz questão de me desligar depois de um ano.
Devo considerar porém, que uma certa confusão se estabeleceu a partir do momento em que vários músicos entraram na justiça com uma liminar, mas esta foi uma medida temporária utilizada enquanto a OMB entrava com um recurso junto ao Supremo, que perdeu também nesta instância. E até hoje algumas entidades pedem, ao invés da OMB, a liminar.
Ora, a lei foi promulgada, basta cumprí-la, e não trocar seis por meia dúzia, exigindo a liminar!
Todos os processos movidos contra a OMB foram ganhos, isso pode ser comprovado junto a diferentes órgãos que não vem ao caso citar, porém muitos músicos, acomodados ou intimidados, preferem se filiar à OMB exatamente porque as instituições , projetos culturais, escolas de música, grupos e companhias teatrais, etc, continuam com a exigencia.
Portanto, não sou eu quem quer trabalhar na ilegalidade, muito pelo contrário.
A minha insistência junto à CPT se dá, reafirmo, por reconhecer a seriedade que sempre caracterizou esta entidade. E folgo em saber que o que venho reinvindicando há mais de 20 anos está sendo, enfim, praticado pela CPT: um currículum pode, e deve, comprovar o profissionalismo de um artista.
Basta agora que os grupos de teatro associados à CPT sejam informados sobre essa louvável iniciativa.
Informo também que essa questão está sim, judicialmente fechada, mas a OMB tenta por meios criminosos confundir a opinião pública a fim de interromper a torrente de processos movidos por outros Estados da União.
Atenciosamente,
Márcia Fernandes
" Quando entrou em contato pela primeira vez, discutimos entre os membros do Conselho Administrativo, assim como com os advogados da Cooperativa, a questão do registro na OMB.
Sabemos que essa questão não está judicialmente fechada e a Cooperativa busca trabalhar dentro da legalidade. Isso quer dizer que todos os seus associados devem ser profissionais.
Não é mais exigência da Cooperativa de Teatro que o músico, ao se associar à entidade, tenha registro na OMB. Caso, não tenha, poderá comprovar sua atividade profissional através de currículo, portifólio ou com o material que achar adequado.
Quanto a outras entidades, como o Sesc que você citou, não temos como responder.
Por favor, caso tenha alguma notícia diferente sobre os nossos procedimentos, me informe.
Obrigada,
Maysa Lepique"
Minha contra resposta:
Informo que apesar da lei ser datada de 2007, todos os grupos de Teatro exigem do músico sua associação à CPT para que possam receber e participar de processos de incentivo, como a Lei do Fomento, por exemplo. Isso viabiliza a regulamentação de seus pagamentos, visto que a OMB nunca intermediou essa e outras questões, sem ao menos fornecer nota contratual, entre outros direitos.Qualquer músico, em igual situação pode confirmar o mesmo.
A exigência está claramente disposta no site da CPT no tópico "Como se associar", tanto em grupo como individualmente:
"Caso o interessado não tenha cadastro no CCM e INSS e não possua DRT ou OMB, seu pedido de ingresso será negado."
Não está escrito ou , mas e .
Durante todo o ano de 2007 e 2008 eu trabalhei com grupos de teatro filiados à CPT que justificaram, irregularmente, meu pagamento como "despesas de produção", o que me prejudicou em termos de direito trabalhista. Fui convidada e não pude participar de vários projetos ligados à Lei de Incentivo ao Teatro, por não ter a OMB, pois sem ela não pude me filiar à CPT.
Atuo na área de teatro e música desde 1974, tendo trabalhado sob a direção de Jorge de Andrade, Arutin, Abujamra, Sofredinni, Paulo Herculano, Carlos Castilho, Ilo Krugli, entre outros.
Tenho CCM e INSS e me filiei à OMB em 1975, da qual fiz questão de me desligar depois de um ano.
Devo considerar porém, que uma certa confusão se estabeleceu a partir do momento em que vários músicos entraram na justiça com uma liminar, mas esta foi uma medida temporária utilizada enquanto a OMB entrava com um recurso junto ao Supremo, que perdeu também nesta instância. E até hoje algumas entidades pedem, ao invés da OMB, a liminar.
Ora, a lei foi promulgada, basta cumprí-la, e não trocar seis por meia dúzia, exigindo a liminar!
Todos os processos movidos contra a OMB foram ganhos, isso pode ser comprovado junto a diferentes órgãos que não vem ao caso citar, porém muitos músicos, acomodados ou intimidados, preferem se filiar à OMB exatamente porque as instituições , projetos culturais, escolas de música, grupos e companhias teatrais, etc, continuam com a exigencia.
Portanto, não sou eu quem quer trabalhar na ilegalidade, muito pelo contrário.
A minha insistência junto à CPT se dá, reafirmo, por reconhecer a seriedade que sempre caracterizou esta entidade. E folgo em saber que o que venho reinvindicando há mais de 20 anos está sendo, enfim, praticado pela CPT: um currículum pode, e deve, comprovar o profissionalismo de um artista.
Basta agora que os grupos de teatro associados à CPT sejam informados sobre essa louvável iniciativa.
Informo também que essa questão está sim, judicialmente fechada, mas a OMB tenta por meios criminosos confundir a opinião pública a fim de interromper a torrente de processos movidos por outros Estados da União.
Atenciosamente,
Márcia Fernandes
Ouvidos Moucos
É lamentável que a Cooperativa Paulista de Teatro
insista em fazer "ouvidos moucos" à solicitação de análise da questão: exigência da Carteira da OMB.
Um erro histórico, porém compreensível.
Afinal, a categoria dos músicos vem preferindo se expressar
através de semínimas e colcheias, símbolos específicos da sua linguagem artística,
em detrimento da palavra, que poderia configurar uma comunicação com a sociedade.
É mais do que curioso que uma lei baseada na Constituição de 1988, pós ditadura, não seja considerada
pela classe teatral. É impressionante e decepcionante.
De minha parte, continuarei insistindo, e agora, através de meios legais, a saber, Sindicatos e Entidades
representativas daquilo que ainda não se configura enquanto classe, mas que está a caminho de sê-lo:
Os músicos do Brasil.
Gostaria de contar com a solidariedade da CPT neste movimento, mas parece que a CPT não está consciente
de sua responsabilidade histórica, preferindo considerar esta exigência como um detalhe sem importância,
negando ao músico o seu direito de liberdade de exercício da profissão, ítem da Constituição Brasileira,
obrigando-o a se inscrever numa organização mafiosa e ilegal com a OMB. A existência da OMB não é ilegal,
o que é ilegal é o poder que ela exerce ao ser reconhecida como órgão representativo dos músicos, o que foi anulado
por uma lei que é descumprida pela CPT, pelo SESC e outras entidades que simplesmente fazem de conta que desconhecem a lei.
A CPT, não se isenta de responsabilidade ao fazer essa exigência, pelo contrário, corrobora com um sistema de exploração e intimidação de cidadãos. É lamentável, eu diria, deplorável, porque conheço e reconheço a luta desta entidade na defesa dos direitos do artista brasileiro. Que pena !
insista em fazer "ouvidos moucos" à solicitação de análise da questão: exigência da Carteira da OMB.
Um erro histórico, porém compreensível.
Afinal, a categoria dos músicos vem preferindo se expressar
através de semínimas e colcheias, símbolos específicos da sua linguagem artística,
em detrimento da palavra, que poderia configurar uma comunicação com a sociedade.
É mais do que curioso que uma lei baseada na Constituição de 1988, pós ditadura, não seja considerada
pela classe teatral. É impressionante e decepcionante.
De minha parte, continuarei insistindo, e agora, através de meios legais, a saber, Sindicatos e Entidades
representativas daquilo que ainda não se configura enquanto classe, mas que está a caminho de sê-lo:
Os músicos do Brasil.
Gostaria de contar com a solidariedade da CPT neste movimento, mas parece que a CPT não está consciente
de sua responsabilidade histórica, preferindo considerar esta exigência como um detalhe sem importância,
negando ao músico o seu direito de liberdade de exercício da profissão, ítem da Constituição Brasileira,
obrigando-o a se inscrever numa organização mafiosa e ilegal com a OMB. A existência da OMB não é ilegal,
o que é ilegal é o poder que ela exerce ao ser reconhecida como órgão representativo dos músicos, o que foi anulado
por uma lei que é descumprida pela CPT, pelo SESC e outras entidades que simplesmente fazem de conta que desconhecem a lei.
A CPT, não se isenta de responsabilidade ao fazer essa exigência, pelo contrário, corrobora com um sistema de exploração e intimidação de cidadãos. É lamentável, eu diria, deplorável, porque conheço e reconheço a luta desta entidade na defesa dos direitos do artista brasileiro. Que pena !
terça-feira, 23 de junho de 2009
Jornalista pode. E o músico ?
Para quem acompanha nosso blog, leiam com atenção o comentário do SIMPROIND à minha postagem: Por que OMB ?
Refere-se à desobrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Transcreve declaração do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que classifica esse tipo de obrigatoriedade como ação coorporativista e iniciativa tomada pelos os órgãos de contrôle e repressão à liberdade de expressão no período da ditadura militar no Brasil. Eu já havia lido a matéria publicada no jornal O Globo e iria publicá-la aqui no palavrademusico, mas fico bastante satisfeita co o fato do SIMPROIND ter se manifestado através do mesmo texto.
O que mais os músicos estão esperando para repudiarem definitivamente a OMB? Uma carta de alforria ? Publico aquí o comentário do SIMPROIND:
SIMPROIND disse...
"STF: exigência de outros diplomas pode cair"
Autor(es): Catarina Alencastro e Jailton de Carvalho - O Globo - 19/06/2009.
Para Gilmar, curso específico só deveria ser cobrado de profissões como as da área de saúde, engenharia e direito.
BRASÍLIA. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, admitiu ontem a possibilidade de outras profissões também terem a exigência de curso específico questionada na Justiça. Gilmar previu uma "derrocada" de leis, a partir da decisão do STF que acabou com obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão.
A declaração foi feita um dia após a decisão da Corte de derrubar parte do decreto-lei 972, de 1969, que obrigava jornalistas a apresentar o diploma da área para obter o registro profissional.
- Em Direito, há uma tradição diferenciada.
Antes da faculdade de Direito, tivemos os rábulas (pessoas que advogavam sem ter uma formação específica).
Tenho segurança que a decisão de ontem (anteontem) vai produzir uma derrocada de muitas leis.
Tínhamos uma mentalidade corporativa. Se não houver necessidade de conhecimento científico, (o pré-requisito do diploma)
vai ser considerado inconstitucional - disse.
Para Gilmar, jornalismo não expõe terceiros a risco. Gilmar lembrou que o ministro Celso de Mello, em seu voto contra a
obrigatoriedade do diploma, questionou a necessidade de algumas atividades serem regulamentadas por lei.
- Vamos certamente ter outras discussões no que diz respeito à liberdade de profissão.
Ontem, os senhores viram, por exemplo, a partir da manifestação do ministro Celso de Mello, que apontava já algumas iniciativas de
corporações no sentido de reconhecimento de profissão.
Ele já dizia:
"Faz sentido que determinada profissão, por mais digna que seja, esteja regulamentada em lei, tenha essa organização corporativa? " Ele respondia que não".
Temos muitas leis que certamente não vão se enquadrar nos paradigmas estabelecidos nesta decisão do STF - afirmou.
No voto na sessão de anteontem, o presidente do STF, que era o relator do caso, destacou que um dos principais argumentos para revogar trecho da lei de imprensa foi o de que a legislação impôs uma restrição ao livre exercício das profissões previsto na Constituição.
Gilmar lembrou ainda que função de jornalista não expõe a risco terceiros, em caso de erro.
- A doutrina constitucional entende que as qualificações profissionais de que trata o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição somente podem ser exigidas, pela lei, daquelas profissões que podem trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas, tais como a medicina e demais profissões ligadas à área de saúde, a engenharia, a advocacia e a magistratura, dentre outras várias.
O presidente do STF também declarou que a atividade jornalística não pode ser objeto de fiscalização de um conselho profissional:
- A impossibilidade do estabelecimento de controles estatais sobre a profissão jornalística também leva à conclusão de que não pode o Estado criar uma ordem ou um conselho profissional (autarquia) para a fiscalização
desse tipo de profissão.
O exercício do poder de polícia do Estado é vedado nesse campo em que imperam as liberdades de expressão e de informação.
Na conclusão de seu voto, anteontem, ele afirmou:
- O decreto-lei 972, também de 1969, foi editado sob a égide do regime ditatorial instituído pelo AI-5, de 1968. Está claro que a exigência de diploma de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão tinha uma finalidade de simples entendimento: afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime militar.
Fica patente, assim, que o ato normativo atende a outros valores que não estão mais vigentes em nosso estado democrático de direito.
23 de Junho de 2009 10:57
Refere-se à desobrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Transcreve declaração do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que classifica esse tipo de obrigatoriedade como ação coorporativista e iniciativa tomada pelos os órgãos de contrôle e repressão à liberdade de expressão no período da ditadura militar no Brasil. Eu já havia lido a matéria publicada no jornal O Globo e iria publicá-la aqui no palavrademusico, mas fico bastante satisfeita co o fato do SIMPROIND ter se manifestado através do mesmo texto.
O que mais os músicos estão esperando para repudiarem definitivamente a OMB? Uma carta de alforria ? Publico aquí o comentário do SIMPROIND:
SIMPROIND disse...
"STF: exigência de outros diplomas pode cair"
Autor(es): Catarina Alencastro e Jailton de Carvalho - O Globo - 19/06/2009.
Para Gilmar, curso específico só deveria ser cobrado de profissões como as da área de saúde, engenharia e direito.
BRASÍLIA. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, admitiu ontem a possibilidade de outras profissões também terem a exigência de curso específico questionada na Justiça. Gilmar previu uma "derrocada" de leis, a partir da decisão do STF que acabou com obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão.
A declaração foi feita um dia após a decisão da Corte de derrubar parte do decreto-lei 972, de 1969, que obrigava jornalistas a apresentar o diploma da área para obter o registro profissional.
- Em Direito, há uma tradição diferenciada.
Antes da faculdade de Direito, tivemos os rábulas (pessoas que advogavam sem ter uma formação específica).
Tenho segurança que a decisão de ontem (anteontem) vai produzir uma derrocada de muitas leis.
Tínhamos uma mentalidade corporativa. Se não houver necessidade de conhecimento científico, (o pré-requisito do diploma)
vai ser considerado inconstitucional - disse.
Para Gilmar, jornalismo não expõe terceiros a risco. Gilmar lembrou que o ministro Celso de Mello, em seu voto contra a
obrigatoriedade do diploma, questionou a necessidade de algumas atividades serem regulamentadas por lei.
- Vamos certamente ter outras discussões no que diz respeito à liberdade de profissão.
Ontem, os senhores viram, por exemplo, a partir da manifestação do ministro Celso de Mello, que apontava já algumas iniciativas de
corporações no sentido de reconhecimento de profissão.
Ele já dizia:
"Faz sentido que determinada profissão, por mais digna que seja, esteja regulamentada em lei, tenha essa organização corporativa? " Ele respondia que não".
Temos muitas leis que certamente não vão se enquadrar nos paradigmas estabelecidos nesta decisão do STF - afirmou.
No voto na sessão de anteontem, o presidente do STF, que era o relator do caso, destacou que um dos principais argumentos para revogar trecho da lei de imprensa foi o de que a legislação impôs uma restrição ao livre exercício das profissões previsto na Constituição.
Gilmar lembrou ainda que função de jornalista não expõe a risco terceiros, em caso de erro.
- A doutrina constitucional entende que as qualificações profissionais de que trata o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição somente podem ser exigidas, pela lei, daquelas profissões que podem trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas, tais como a medicina e demais profissões ligadas à área de saúde, a engenharia, a advocacia e a magistratura, dentre outras várias.
O presidente do STF também declarou que a atividade jornalística não pode ser objeto de fiscalização de um conselho profissional:
- A impossibilidade do estabelecimento de controles estatais sobre a profissão jornalística também leva à conclusão de que não pode o Estado criar uma ordem ou um conselho profissional (autarquia) para a fiscalização
desse tipo de profissão.
O exercício do poder de polícia do Estado é vedado nesse campo em que imperam as liberdades de expressão e de informação.
Na conclusão de seu voto, anteontem, ele afirmou:
- O decreto-lei 972, também de 1969, foi editado sob a égide do regime ditatorial instituído pelo AI-5, de 1968. Está claro que a exigência de diploma de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão tinha uma finalidade de simples entendimento: afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime militar.
Fica patente, assim, que o ato normativo atende a outros valores que não estão mais vigentes em nosso estado democrático de direito.
23 de Junho de 2009 10:57
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