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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Daniel Zamalloa : Llaqtaypa Violincha




"The 20-page booklet that accompanies the CD contains lyrics, translations, explanatory notes, violin tunings, instrumental configurations, and the history of the violin in Peru, beginning with the arrival of the rabel - a precursor of the violin - in the 16th century."

 http://www.cdbaby.com/cd/zamalloa
http://www.danielzamalloa.com/home.html



Daniel Zamalloa nasceu em Cusco e toca violino desde criança. É também exímio violonista, bandolinista, maestro, compositor e arranjador.
Além de excelente músico Daniel impressiona por sua generosidade e delicadeza que se revelam não só no cuidado com a sua arte mas também no trato com as pessoas que dele se aproximam. Foi o que pude constatar quando, em 1974, tive o imenso prazer de conhecê-lo. Já naquela época, há 36 anos atrás e portanto bastante distante da idade da razão, o que importava para ele era tocar o máximo de tempo possível. Compartilhei dessa imensa voracidade musical ao seu lado e tocávamos durante horas a fio num lindo pátio da casa de Vladimir Herrera em Cusco, outro grande personagem, poeta e escritor peruano, mas que, na época, ainda sonhava sê-lo.
Daniel me levou através de pequenas cidades e povoados incrustrados nas serras e vales de Cusco onde tocávamos em lugares que eu nem suspeitava pudessem existir. É difícil imaginar a música que fazíamos mas o fato é que este som ainda hoje é lembrado por pessoas que o compartilharam conosco como "momentos  de um raro entrosamento e cumplicidade". É também assim que hoje me lembro deles, e dele.
Mas, então, esse encontro nada mais era do que algo efêmero e passageiro que ocorria na vida de dois jovens apaixonados. O que torna o momento valioso é a recordação e, através dela, a imagem, o que está além de e imerso na semelhança. Ano passado encontrei o site de Daniel Zamalloa na Internet, inúmeros vídeos no youtube, comentários sobre seus CDs. Com muita alegria reestabelecemos a comunicação. A profusão de detalhes que encontramos em nossas reminiscências foi muito bem qualificada por um querido amigo como "uma experiência proustiana".
Há sinais evidentes na música que ambos compomos atualmente  daquilo que um dia compartilhamos: minhas melodias modais, suas harmonias caminhantes. Recebí dele tres CDs e uma canção de sua autoria: Alfamayo, que transpõe para a arte os momentos vividos em uma cabana de pedra e palha numa aldeia homônima de la sierra cusqueña. Dessa maneira a recordação adquire significado além do pessoal. O álbum de recordações é libertado, sai do armário, da sala de visitas.

Hoje Daniel Zamalloa vive na Califórnia e frequentemente retorna à sua cidade natal para documentar e gravar os músicos tradicionais peruanos. (E às vezes para alimentar filhotes de llama).
Neste CD de Daniel Zamalloa: Llaqtaypa Violincha - está registrado mais do que a dedicação laboriosa de um grande músico. A riqueza de detalhes na interpetação de cada ornamento delicado,  a preocupação em definir cada característca regional revelam sabedoria e conhecimento adquiridos durante toda uma vida.
Nos demais CDs, a busca de novas configurações para o motivo regional, de extrema sutileza. Pretendo postá-los aqui, com a devida autorização do autor, mas há referências em seu site oficial.

Não me surpreendeu, absolutamente, o alto nível de qualidade deste trabalho, não se poderia esperar outra coisa vinda de tão rica fonte.
O que intriga é o fato de que o Peru é um país que faz fronteira com o nosso, de que Cusco é muito próximo e de que quase nada sabemos de sua música, de suas semelhanças e diferenças, por exemplo, com  a nossa rabeca do sul e do norte. De fato isso não é surpreendente, visto que somos todos títeres teleguiados pelas  estratégias e leis de um mercado truculento onde o gosto e a afinidade carecem de significado. Aceitamos plácidamente nossa ignorância e como artistas nos comportamos como os turistas que cristalizaram o Peru no tempo dos Incas. Os novos músicos peruanos seguem trabalhando e compondo. A música Criolla peruana, de origem negra, tem grande circulação e expressão em outros países em que o público não permanece tão alheio. Neste exato momento acontece em Lima um Festival de percussão http://www.cajonfestival.com/ . (Há um grupo brasileiro participando: Trio Mano a Mano que tem o clarinetista Sergio Albach entre seus integrantes). E não há nem vestígio de divulgação. Será que não há afinidades ou interesse? A mídia brasileira acha que não. E os artistas brasileiros...

Transcrevo o que o poeta Vladimir Herrera comenta a esse respeito em nossa correspondência:
" - Es curioso cómo la separación histórica de Portugal y España viviendo de espaldas la hemos trasladado a nuestro continente. Da risa que fascistas como Franco y Salazar se ignoraran hasta el sarcasmo. Todo eso no podrá suceder en esta parte de américa del sur."

Que se cumpra a inspiração do poeta!