sexta-feira, 3 de julho de 2009

Reflexões

Estava observando minha foto ao mudar o visual do blog e tive a impressão de que, apesar do sorriso, a flauta aparece mais como ferramenta do que instrumento. E descobrí que é esta foto ainda a mais adequada como apresentação do blog , pois se também quero fazer uso da palavra...digo de outro modo: não dá pra chupar cana e assobiar.

Muita vontade eu tenho de tocar, e o faço. Mas, do jeito que a coisa anda, tenho usado este espaço e a flauta, muito mais para distribuir pauladas (ou flautadas) do que pra falar de música ou compartilhar de assuntos mais amenos, ou ao menos, propriamente musicais.

Outro dia me disseram que eu deveria fazer crítica musical, Deus meu! Dito por um amigo, vejam só! Acho que não existe ofício mais árduo do que este, só de pensar sinto calafrios...Imaginar-me dizendo coisas que penso sobre o que ouço e, o que é pior: tendo que ouvir e ir aos shows e concertos que se anunciam, identificando tendências que a mídia indica como real expressão cultural mas que de fato é apenas a produção de uma certa fatia da população, pressupondo um gôsto musical. Porque infelizmente é isso que tem caracterizado a crítica musical na imprensa brasileira: - o que é que está vendendo ? Uma espécie de jabá temporário, até o próximo artigo.

Pois é, prefiro fazer a crítica da crítica. Por exemplo, Nelson Motta. Ele se anuncia como um decobridor de talentos, arauto dos novos valores. Corro até lá, consulto seu blog ou site, e o que aparece? Rita Lee e Ed Motta. Ótimos os dois mas, tenha dó, tenho autógrafos de ambos datados de quando eu tinha 16 anos de idade...

E o que será que está acontecendo com o Arrigo Barnabé, por exemplo, outro ícone da vanguarda, que agora afirma que descobriu o Lupicínio Rodrigues ?
Pô, Arrigo, na época em que você lançou Clara Crocodilo, ai de mim se dissesse que já gostava de Lupicínio! Mas que bom que ele se livrou desse compromisso com a vanguarda, bandeira tirânica por demais.

Ah, e tem as novas cantoras. Não sei bem quem são, mas cantam Samba, Partido Alto e Bossa Nova. Salvo exceções, o jeito pop com que caracterizam suas interpretações, me faz correr pro colo de Aracy de Almeida, Clara Nunes, Elis Regina. E depois o Nelson Motta ainda diz que o massacre imperialista na cultura brasileira foi apenas uma "paranóia do perfeito idiota latinoamericano", aff...ele diz isso lá no site dele.
Mas aqui estou eu fazendo crítica, deixa as meninas em paz...afinal, pra que tanto saudosismo?

Já pensou se a gente percebesse que só ouve bossa nova porque a novela da globo deixou? Ou que o Tom Zé só virou gênio de uns tempos pra cá porque descobriram ele lá? E que a música indiana não é aquela gritaria na TV e que o Ravi da novela não é o Ravy Shankar?

Dizem que a internet vai resolver tudo isso, mas não é assim tão simples. Os grandes manipuladores da opinião adoram novas ferramentas.
Eu continuo a dar pauladas, digo, flautadas, com meu velho tacape: "É a cabeça, irmão!", aliás, Walter Franco (Nossa!)

2 comentários:

  1. Ótimo, o texto, mas, sobre o Nelson Motta, ele não foi só infeliz, foi também maldoso. A afirmação dele cita o título de um livro liberal chamado "o manual do perfeito idiota latino-americano", que pretende combpater as falácias das idossincrasias da esquerda sul-americana. O livro é escrito por intelectuais que, assim como Nelson Motta, são muito bem pagos pela mídia. Pois ninguém nega que a esquerda tenha demagogia, ideologia e etc. Mas talvez fosse melhor se o Ed se submetesse a uma auto-crítica. PAra isso, pode começar com "As idéias fora do lugar", só pra entender o significado do liberalismo no Brasil.

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  2. Viva o Ravy! Shankar, claro! beijo, amiga.

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