domingo, 29 de novembro de 2009

Em 5 de dezembro de 2008 Caderno 2 do Estadão:

Entre 1972 e 1978, Wanderléa registrou quatro álbuns com os quais tentava se afastar da imagem da ''Ternurinha'' da jovem guarda.
"Há muita coisa legal pra gravar. É que não me deixaram. Agora não tem mais pressão de gravadora e não preciso provar mais nada", diz a cantora.

Alguém que assina o musical codinome "lallasmello" postou um comentário no meu perfil do youtube:
"Comentários toscos os seus em relação à Wanderlea...precisa se informar mais antes de emitir juizos.Cada artista tem suas peculiaridades...isso me lembrou muito a crítica purista e anti-democrática da década de 70."

E ainda lallas: "A guerrilheira Marcia Fernandes está com inveja da wandeka...aguardemos o cd da loira cantando só chorinhos."

Realmente tôsco.

É impressionante como pessoas que não conseguem nem ajudar um cego a atravessar a rua arrotam a palavra Democracia como se ela fizesse parte do seu cardápio conceitual.
Uma pequena introdução pra refletir um pouco,

"A sociedade civil moderna, que segue ao Estado moderno, funda-se no individualismo e é incapaz de fazer do homem um ser social. Impondo aos indivíduos relações competitivas e conflitivas, a sociedade civil os torna seres isolados. Seus "atos políticos" – como é o caso do sufrágio e da representação – apenas aprofundam esse individualismo, restando aos homens viver em uma situação de atomismo que os separa até mesmo de si próprios. Não há outra conseqüência senão o encontro entre o estranhamento (Entfremdung) e a alienação (Entäusserung). É aqui que a verdadeira democracia se revela como enigma resolvido e apresenta-se como aquilo que pode interromper essa seqüência: a verdadeira democracia pressupõe a comunidade, que, por sua vez, transforma os indivíduos isolados em seres sociais justamente por meio do caráter político que assumem quaisquer de suas atividades, mesmo enquanto atividades individuais. Como na Grécia antiga, a separação entre o mundo privado e o mundo público se desfaz em nome da democracia verdadeira. Este desfazimento, contudo, não teria mais o custo da liberdade. Essa, afinal, a verdadeira unidade entre o político e o social a ser propiciada pela democracia."(Rev. bras. Ci. Soc. vol.22 no.63 São Paulo Feb. 2007)


Em primeiro lugar os leitores, e nessa categoria me refiro a todos os que lêem um texto crítico, deveriam deixar um pouco de lado o seu hábito de tecer considerações em relação a atitudes e posturas públicas, no caso a expressão artística veiculada,como a uma fofoca entre vizinhos do quarteirão.
Algumas pessoas me escreveram dizendo das qualidades pessoais da cantora, de como ela teve dificuldades na vida, de como sua família é legal.
Ora, a cidadã Wanderléa Charlup Boere Salim não está sendo avaliada, julgada ou invejada por mim, como diz o Lalá. O que está sim, sendo criticado por mim é o valor estético de sua performance enquanto cantora e a sua postura política, carona que ela mesma menciona quando tenta se justificar, e não eu) exercida durante os anos 70 através da personagem Ternurinha, imagem por ela assumida e praticada e da qual ela mesma diz vir tentando, há anos, se afastar. Coisa que a tal "democracia", até mesmo a do quarteirão, autoriza. Minha condição (também muito batalhada em minha vida, e minha família também é muito legal...) de musicista e pesquisadora, me autoriza a crítica, seja na democracia ou na ditadura.
Há uma tendência generalizada de anistia, de perdão, de recuperar os perseguidos pela ditadura ou pelas patrulhas ideológicas de esquerda. O que se esquece é que os perseguidos de então ou de hoje continuam sendo os mesmos. Muito se engana quem pensa que a Jovem Guarda representava a voz dos perseguidos, muito pelo contrário, o que se estabelecia naquele momento era uma nova fase da guerra comercial entre gravadoras disputando um mercado que se revelou altamente lucrativo. E hoje quando a propria cantora afirma que:
"É que não me deixaram. Agora não tem mais pressão de gravadora e não preciso provar mais nada"
E quem disse que o "so ponho beebop no meu samba" representa a voz dos perseguidos, ora ainda bem que botaram um pouco de swing no pedaço, a começar pelo proprio Jackson.
As classes populares que então ouviam Agostinho dos Santos, Altemar Dutra e Nelson Ned, entre outros, não eram o público da Jovem Guarda.O pessoal das Escolas de Samba, não ouvia Jovem Guarda. Mas a classe média meio esvaziada e pronta para ser treinada no consumo do que estivesse na prateleira, de Rita Pavone a Beatles, não importa (TV, Rádio) uma "juvenilidade" que surgia à reboque daquela outra juventude (já com seus 20 anos de idade) que associava à canção brasileira um caráter "político". Esta outra, dita politizada, já estava se dirigindo para a militância, para os movimentos de esquerda, etc. O público ao qual se destinava a jogada comercial da Jovem Guarda tinha entre 11 e 18 anos, não era politizada coisa nenhuma. Nem teve chance de saber o que era isso! Che Guevara para nós era um guerrilheiro bonito, ditadura era um regime lá, coisa lá de cima, dos militares. É esse pessoal agora que vem falar de democracia! Um dia pintaram a cara de verde e amarelo, para saudar os "90 milhões em ação, prá frente Brasil" e mais tarde para derrubar o Collor, porque alguém mandou dizer que o legal agora era ser democrata. Geração manipulada, de cabo a rabo, pela crescente expansão do sistema de consumo.A meninada queria se divertir, mas os brinquedinhos eram muito ruins.
Tanto melhor que a cantora se declare como alguém a quem "não deixaram" escolher seu repertório, confirmando o caráter político da empresa na qual teve um papel de protagonista. Melhor ainda que faça aulas de canto, como fizeram questão de me informar, o que também confirma o fato de que o "novo" repertório exige uma preparação técnica um pouco melhor do que o anterior.
Impossível colocar fora da discussão todos os artistas da época a quem também "não deixaram" entrar na tão almejada indústria fonográfica.
E caso interesse, não sou guerilheira, mas guerreira. A minha batalha se dá em campo aberto.
Prossigo, mais tarde.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DO PORTO AO BOTEQUIM - UM CHAMADO AO BOM COMBATE

Copiei, porque não poderia dizer melhor,de:

www.hisbrasileiras.blogspot.com
BLOG DE Luiz Antonio Simas

"terça-feira, 3 de novembro de 2009
DO PORTO AO BOTEQUIM - UM CHAMADO AO BOM COMBATE

Ando cabreiro com algumas coisas que estão acontecendo nas ruas cariocas. Aqui perto de casa, por exemplo, as notícias não são das melhores. Um botequim que costumo frequentar, o Bar do Chico, inventou uma reforma meio mandrake, que incluiu pizza no cardápio, visual moderninho, garçom de gravata e, é claro, aumento dos preços dos produtos. Botequim, já não é mais. Periga virar um playground de bêbados com rodízio de pizza depois das seis da tarde.
A reforma da Zona Portuária do Rio de Janeiro também está começando a cheirar mal [sinto um futum de bota-abaixo no ar, com o espectro do Pereira Passos circundando a Guanabara]. Os projetos que vi até agora parecem querer transformar a velha Praça Mauá numa mistura entre dois monstrengos desalmados: Puerto Madero, na Argentina, e a falecida Lapa, aqui mesmo.

Puerto Madero é quase a Barra da Tijuca platina - uma área com ambientes contemporâneos [seja lá o que for esse diabo], com uma concepção de assepsia urbana que abriga restaurantes caros, decorados de formas mequetrefes e cheios de novos ricos. Uma reforma sem caráter, eis o que me pareceu. Duvido que o fantasma de Carlos Gardel caminhe naquelas plagas.

A Lapa, por sua vez, agoniza. Virou valhacouto de adultescentes, simulacro de berço do samba, com bares que vendem bebidas por preços proibitivos e que visualmente lembram a lanchonete da entrada do Memorial do Carmo, no cemitério vertical do Caju - um lugar mais digno para se beber, diga-se.

O Nova Capela [cada vez mais Nova e menos Capela ] hoje é atração turística para uns basbaques que encaram uma ida ao velho bar como uma espécie de safari no Quênia e saem dizendo que foi uma experiência inesquecível. O Bar Brasil resiste com bravura, mas até quando?

Eu quero saber o seguinte: O poder público está escutandoos moradores da Zona Portuária? A ideia é fazer da Praça Mauá um centro financeiro que mande pro lixo a história fabulosa da região? Que venha a revitalização, mas revitalizar é criar um um marco zero de gosto duvidoso, com mais de cinquenta andares, ou recuperar a grandeza da tradição e da memória do cais e de sua gente?

Como estou encafifado com esses troços, reli dia desses um arrazoado que escrevi faz tempo sobre a agonia dos nossos botequins de fé e a necessidade quase quixotesca de se lutar pela preservação de um certo modo de vivenciar a cidade e o bar. São aquelas reflexões que, em boa parte, retomo nesse texto.

Faço isso porque esse combate me parece mais urgente do que nunca. As reformas na região do porto, misturadas ao balacobaco das obras para preparar a cidade para as Olimpíadas de 2016, me fazem ficar com um olho no cavalo, que é bonito, e outro na bosta do bicho, que fede pácas.

Vivemos, e isso não é novidade alguma, tempos de uniformização dos costumes, fruto deste tal de mundo globalizado. Em cada canto desse mundaréu, ligado por redes transnacionais de telecomunicações, as pessoas assistem aos mesmos filmes, vestem as mesmas roupas, ouvem as mesmas músicas, falam o mesmo idioma, cultuam os mesmos ídolos e se comunicam em cento e quarenta toques virtuais.

Nessa espécie de culto profano, em que a vida cotidiana é regida pelos rituais em louvor ao mercado que não é o de Madureira, o bicho pega e as ideias morrem, como outro dia morreu de morte matada o acento em ideia, sem choro nem vela e sem a dignidade de um samba do Noel.


Eu, que trabalho com adolescentes e adultos jovens, percebo que as crenças e projeções de futuro da rapaziada foram substituídas pelo pânico cotidiano - do assalto e das doenças, no âmbito pessoal, às catastrofes ambientais, na esfera coletiva. Cria-se uma lógica perversa : Como posso morrer de bala perdida, pegar gripe suína ou sucumbir ao aquecimento global, preciso viver intensamente o dia de hoje.

Ocorre que essa valorização extremada do tempo presente é acompanhada pela morte das utopias coletivas de projeção do futuro. Não há mais futuro a ser planejado. Somos guiados pelos ritos do mercado e abandonamos o mundo do pensamento, onde se projetam perspectivas e são moldadas as diferenças.
Restam hoje, talvez, duas tristes utopias individuais, em meio ao fracasso dos sonhos coletivos - a de que seremos capazes de consumir o produto tal, cheio de salamaleques, e a de que poderemos ter o corpo perfeito.


Transformam-se , nesse tempos depressivos, os shoppings centers e as acadêmias de ginástica nos espaços de exercício dessas utopias tortas, onde podemos comprar produtos e moldar o corpo aos padrões da cultura contemporânea - o corpo-máquina dos atletas ou o corpo-esquálido das modelos. É a procura da felicidade que não tem, como na esquecida e sábia canção natalina. E tome de caixinhas de Prozac no sapatinho na janela.


É aí, e eu queria falar disso desde o início, que localizo na minha cidade de São Sebastião o espaço de resistência a esses padrões uniformes do mundo global - o botequim. Ele, o velho buteco, o pé-sujo, é a ágora carioca. O botequim é o país onde não há grifes, não há o corpo-máquina, o corpo-em-si-mesmo, a vitrine, o mercado pairando como um deus a exigir que se cumpram seus rituais.


O buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da festa do novo amor, da comemoração do gol, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar. É a República de fato dos homens comuns - cenário não habitado pelos personagens de novelas do Manoel Carlos.

É nessa perspectiva que vejo a luta pela preservação da cultura do buteco como algo com uma dimensão muito mais ampla que o simples exercício de combate aos bares de grife que , como praga, pululam pela cidade e se espalham como metástase urbana.


A luta pelo buteco é a possibilidade de manter viva a crença na praça popular, espaço de geração de ideias e utopias - sem viadagens intelectuais, mas fundadas na sabedoria dos que têm pouco e precisam inventar a vida - que possam nos regenerar da falência de uma (des)humanidade que limita-se a sonhar com o tênis novo e o corpo moldado, não como conquista da saúde, mas como simples egolatria incrementada com bombas e anabolizantes cavalares.

O botequim é, portanto, e não abro mão do hífen, o anti-shopping center, a anti-globalização, a recusa mais veemente ao corpo-máquina dos atletas olímpicos ou ao corpo pau-de-virar tripa das anoréxicas - corpos que se confundem na doença comum desse mundo desencantado: Metáforas da morte.


Ali, no velho buteco, entre garrafas vazias, chinelos de dedo, copos americanos, pratos feitos e petiscos gordurosos, no mar de barrigas indecentes, onde São Jorge é o protetor e mercado é só a feira da esquina, a vida resiste aos desmandos da uniformização e o Homem é restituído ao que há de mais valente e humano na sua trajetória - a capacidade de sonhar seus delírios, festejar e afogar suas dores nas ampolas geladas feito cu de foca. É onde a alma da cidade grita a resistência : Laroiê !

Esse combate, amigos, é muito mais significativo do que imaginam os arautos modernosos e seus programadores visuais.

Botequim tem alma, é entidade, feito os trapiches e sobrados do cais do porto em noite de lua cheia.

Abraços"

Postado por Luiz Antonio Simas às 14:35

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mercedes

Copiado do blog do Edu Goldenberg (Buteco do Edu), postado por alguén que assina: helion

http://www.conicet.gov.ar/NOTICIAS/portal/noticia.php?n=4878&t=4

06-10-2009 | La Nación

Qué simboliza "la Negra"

Por Alejandro Grimson

La conmoción por la muerte de Mercedes Sosa es también una invitación a la reflexión. Sabemos que "la Negra" fue quizás la voz más impresionante de la historia musical argentina reciente, combinando simplicidad y sofisticación de una manera excepcional.
Sobre esa base artística se imprimen en su nombre, en su cuerpo y en su muerte otros significados culturales que es importante considerar.
Primero, "la Negra" no era negra en el sentido en que esta palabra se usa en otros países, como Brasil y Estados Unidos. "La Negra" era indígena en su ascendencia y en su despliegue musical. Era parte de ese país que no existe en el imaginario tradicional que reza que "aquí no hay negros ni indios". Quizás una de las personas más visibles y, además, más exitosas de esa porción invisibilizada de argentinos.
Al mismo tiempo, como muchos otros indígenas y mestizos, "la Negra" se abría a sus contemporáneos incluyendo en su repertorio a lo tradicional y lo moderno, al folklore y el rock nacional, a las músicas de América latina, con fronteras lábiles y porosas.
Desde esa calidad musical internacionalmente reconocida, Mercedes mantuvo y desplegó un compromiso ético y político con dos peculiaridades. Persistió firme en sus convicciones ideológicas respecto de la igualdad entre los seres humanos, en su oposición a todos los autoritarismos, en su convicción de estar junto a los más necesitados, social y culturalmente hablando. Desarrolló esa posición sin fundamentalismos, con claridad y con afecto.
Prohibida por la dictadura, transitando desde el mundo de nuestro folklore a las más diversas músicas populares contemporáneas, con una trayectoria que transmite paz y firmeza de convicciones, obteniendo reconocimiento internacional siendo plenamente ella misma, "la Negra" se convirtió en un símbolo nacional.
Al igual que cualquier país, los argentinos tenemos diversos símbolos. Cabe interrogarnos qué simboliza hoy Mercedes Sosa. Quisiéramos sugerir que en contraposición al relato tradicional del "granero del mundo" y de que descenderíamos de los barcos, "la Negra" muestra que se puede ser exitoso, conmovedor, reconocido, persistente, siendo lo que uno es y no lo que desearía ser.
Además, muestra que cambiar y ser abierto no implica, como muchas veces se supone, perder identidad.
"La negra" prueba que las convicciones instaladas acerca de quiénes somos no sólo ocultan a muchas negras y negros y mestizos. También puede abrir la imaginación para pensar que no era necesario fabricar esas ilusiones discriminatorias para construirnos como comunidad nacional.
Su muerte nos invita a buscar y reconocer a las personas de carne y hueso que viven en nuestro heterogéneo país, encontrar las cualidades que ellos tienen y que han vivido ocultas por las pretensiones europeístas, proyectando un sentido nuevo, más complejo, acerca de los sentidos de lo nacional y lo latinoamericano, tan imbricados en su figura y su voz.

El autor es antropólogo, profesor de la Universidad Nacional de San Martín y del Instituto de Altos Estudios Sociales, e investigador del Conicet.

6 de Outubro de 2009 23:12

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Jovem Guarda no Meu Samba

O Brasil é bom. O Brasil perdoa. Todo mundo pode dizer e fazer de tudo, ações contraditórias, irresponsabilidades históricas, injustiças, ah, gente, sei lá, nem sei. O Brasil é tão legal... Não é assim, com todo mundo, né? Também, tá pensando o que? Mas tem alguns que podem. Eu fico feliz por isso. Daqui de cima ou de dentro dos meus 54 anos, e sempre na obrigatória posição de observadora, já que não faço parte da turma, contemplo a alegria da moçada! Vejamos: E hoje, así, no más, me deparo com dois vídeos da Wanderléa, http://www.youtube.com/watch?v=q0BMax7UNzo

http://www.youtube.com/watch?v=a_wl0uvApfs

vejam bem, a Minha Maninha Wanderléa, a Ternurinha, cantando Brasileirinho (W.Azevedo) e Chiclete com Banana (Jackson do Pandeiro) entre outras (Adeus América, de Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa é indicada no vídeo como de Rosa Passos! Nem tinha nascido ainda...) Que estranha simbiose! Vale a pena assistir. Ela, de oncinha e estilo tigresa tenta ser acompanhada por um dos melhores grupos musicais de samba e choro de S.Paulo no programa Sr. Brasil. O Sr. Brasil, sempre muito cordial, faz as honras da casa. Enquanto Ternurinha erra a letra,faz trejeitinhos no meio do palco, ao fundo o, assinalo, excelente grupo musical, um pouco tenso talvez pela concentração que o disparate exige, mantém a linha tentando salvar a canção das garras da moça que, entre pequenos guinchos, caras e bôcas, desempenha o seu mais recente papel.
Então fui me informar e fiquei sabendo por exemplo, segundo o texto veiculado pela produção da estrela, que: "É tempo de nova estação para Wanderléa, que retorna ao disco com repertório inédito após mais de uma década, no CD Nova Estação.O repertório traz desde um sucesso de Jackson do Pandeiro (Chiclete com banana) a uma balada de Arnaldo Antunes (Se tudo pode acontecer) passando por Martinho da Vila (Choro Chorão), Chico Buarque (Mil perdões), Geraldo Azevedo (Dia Branco), Rodgers & Hart (My Funny Valentine), Thomas Roth (Nova Estação), sem esquecer Roberto & Erasmo Carlos (Samba da preguiça e Todos estão Surdos. Em 1963,na gravadora CBS conhece Roberto e Erasmo Carlos, com quem passa a apresentar, em 1965, o programa Jovem Guarda (TV Record/São Paulo), uma das maiores audiências da TV brasileira e que Wanderléa considera a mais importante experiência na sua vitoriosa carreira de quatro décadas. Com o fim do programa,ela segue firme como estrela do pop brasileiro em discos históricos como Wanderléa Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975), Vamos que eu já vou (1977) e Mais que a paixão (1978)." Isso é o que eles dizem, a verdade histórica que eles inventaram.
É sabido, creio, que Wanderléa é uma das cantoras (sic) mais desentoadas da história da música brasileira. Apresenta visíveis e audíveis dificuldades rítmicas e melódicas, pra não falar das harmônicas, o que já seria pedir demais. Pertencente ao nefasto Movimento(sic) denominado Jovem Guarda que era capitaneado pelo Rei (sic, eu já estou com soluços) Roberto Carlos, Wanderléa representava a sensualidade (sic) e a doçura (sic), o modelo feminino da juventude brasileira que não precisava se incomodar com a ditadura. Uma "garota gostosa", de classe média (reacionária) e sem problemas, a não ser "pedir ao sr. juiz que pare agora! o casamento que vai ser pra mim todo o meu tormento". O programa Jovem Guarda vendia essa imagem: tres jovens legais, dois meninos e uma menina que só queriam nos dar alegria através da música (sic) e de sua saudável amizade. E, claro, vendendo produtos de péssima qualidade, assim como suas canções, da marca "Calhambeque". Umas saiazinhas, cintos e chapéus de uma estampa riscadinha, horríveis, assinados pelo Rei, que naquela época acho que ainda não havia alcançado esse posto. As roupas eram tão feias e tão ruins que o projeto naufragou. Roberto Carlos, como todos sabem, foi reconhecido como grande astro pelos nossos pavões reais, que na época estavam sendo perseguidos(sic) Caetano e Gil. Representante máximo da Cultura de Massa no mercado do disco no Brasil, fenômeno da indústria fonográfica que enriqueceu não só a ele mas a diversos produtores de carater variavel...O Roberto Carlos é legal... Erasmo Carlos, sempre totalmente fora de si, O Tremendão, já exibia umas olheiras enormes que deviam dar muito trabalho pra equipe de maquiagem do programa vespertino. Fazia um tipo meio cafajestão (faz parte do perfil do Brasil cordial), mas no fundo, era legal, bonzinho e tudo. Aquele homenzarrão cantando: "Eu queria ser, o seu caderninho" que Mostrar tudotem um verso impagável: "inclusive, na escola eu iria com você entrar"...Inclusive, é legal. Ah! e tem "A carta", legal também, rimando e com direito à excelente cacofonia: Que tu tiveste só entusiasmo,(...) do sempre, sempre seu, Erasmo". Em comoventes interpretações de extrema carência artística, os rapazes assumiam ares de rebeldia, no melhor estilo "gang" de bairro classe média. Agora, proponho um jogo: Vamos colocar juntas as expressões que estão grifadas no texto acima, e mate a charada: Se tudo pode acontecer; Mil perdões;Dia branco;Samba da Preguiça; Se todos estão surdos; Se não deu ainda, continuemos: 1963-1965 (o que foi que aconteceu mesmo nessa época?);Jovem Guarda; TV brasileira;Vitoriosa carreira de quatro décadas;Estrela do pop brasileiro em discos históricos (que discos históricos? Por acaso alguém conhece esses discos?); Feito gente. O que é mais legal ainda é o recado que envio ao excelente grupo de amigos e instrumentistas, artistas de seriedade e inegável valor, por favor, abram os olhos e os ouvidos: "Só ponho Jovem Guarda no meu samba quando o iêêiê pegar no tamborim"

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Homem Cordial em ação!

Sem dúvida as raízes do Brasil são a base sólida de uma árvore que continua produzindo tantos frutos podres. Sob sua frondrosa sombra vicejam ervas daninhas e flores carnívoras. Para os leigos em biologia e botânica, como eu, um esclarecimento:

"A dieta das plantas popularmente chamadas carnívoras é bem variada. Elas comem organismos aquáticos microscópicos, moluscos (lesmas e caramujos), insetos, aranhas, centopéias e de vez em quando animais pequenos como sapos."(fonte: Google...rsrsrs)
Acabo de engolir um sapo!
Senão, vejamos:

Numa luta totalmente desproporcional e talvez sofrendo das mesmas alucinações de D. Quixote, cavaleiro a quem admiro e respeito, perguntei ao São SESC, divindade extremamente cultuada nessas terras de ninguém (ou de Alguém), porque motivo o SESC ainda continua exigindo a carteira da OMB para que os músicos possam usufruir do privilégio de tocar em suas unidades culturais. Modestamente, argumentei , ao menos em S. Paulo onde vigora a lei 12.457, ela deveria ser cumprida.

O SESC respondeu:

" Márcia: esclarecemos que a Lei Estadual somente isenta o músico da apresentação da carteira de inscrição na OMB durante a apresentação do espetáculo. Portanto, o SESC SP não solicita ao artista a apresentação da carteira da OMB durante o show e sim no momento da contratação. Obrigado"

Rárárárárá!!!!

Ou muito me engano, ou entendí que o músico tem que apresentar a carteira , mas só na hora de assinar o contrato? E não durante o show? Ora, se o show só ocorre depois da assinatura do contrato, me parece que o SESC está afirmando que exige, sim, a apresentação da malfadada carteira, que por sua vez é o objeto que prova que você pertence ou não a essa entidade(OMB)!

Em primeiro lugar, o SESC está mal informado. À lei de 2007 foi incorporado um artigo, em março de 2009, que desobriga também a filiação. Exatamente para eliminar esse tipo de resposta evasiva (tenho outras palavras, mas são piores do que esta) ao qual as entidades, sabe-se lá por qual motivo, que ignoro mas desconfio, recorrem com o intuito de apoiar a existência hegemônica e o poder arbitrário exercido pela OMB durante mais de 40 anos, com truculência, ameaças e perseguições típicas de regimes ditatoriais.
E mesmo se esse artigo não houvesse sido incorporado, qualquer pessoa de mediana inteligência percebe que está implícita na "não apresentação da carteira" a reinvidicação da inutilidade legal da mesma enquanto documento de comprovação profissional.

O Homem Cordial foi um termo sábiamente utilizado por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro "Raízes do Brasil", considerado um dos mais importantes clássicos da historiografia, antropologia e sociologia brasileiras, para qualificar procedimentos dessa natureza. Tenho certeza que o sr. Danilo Santos de Miranda, sociólogo, diretor do Departamento Regional do SESC no Estado de São Paulo, a quem também admiro e respeito, conhece a obra.

Ao vincular a contratação do músico ao registro na OMB, o SESC, além de descumprir uma lei estadual, está ferindo um dos artigos da Constituição Brasileira de 1988 que garante o direito e a liberdade do cidadão em não ser constrangido a se filiar a qualquer tipo de entidade ou organização para o exercício de sua profissão, desde que não ofereça riscos e danos irreversíveis à coletividade. Não sou eu, em minha estropiada armadura quixotesca quem inventou essa frase, mas a Carta Magna da República Federativa do Brasil.

O que causa danos irreversíveis à coletividade é a insistência de entidades que se valem de um poder adquirido sobre a arrecadação de impostos públicos na decisão do que é lei ou não.

Também tenho certeza absoluta de que estou me oferecendo em holocausto ao comprar essa briga, pois "O Homem Cordial" não perdoa aqueles que o contestam. O SESC jamais me incluirá em suas programações, se um dia tiver conhecimento desse artigo.

Alguém duvida?

sábado, 1 de agosto de 2009

Adoniran Barbosa por Antonio Candido

Na contracapa do LP: "Adoniran Barbosa" (Odeon,1975; Dir. Musical de José Briamonte), encontrei este belo texto do mestre Antonio Candido, que transcrevo na íntegra:

" Adoniran Barbosa é um grande compositor e poeta popular, expressivo como poucos; mas não é Adoniran nem Barbosa, e sim João Rubinato, que adotou o nome de um amigo do Correio e o sobrenome de um compositor admirado. A idéia foi excelente, porque um artista inventa antes demais nada a sua própria personalidade; e porque, ao fazer isto, ele exprimiu a realidade tão paulista do italiano recoberto pela terra e do brasileiro das raízes européias. Adoniran é um paulista de cerne que exprime a sua terra com a força da imaginação alimentada pelas heranças necessárias de fora.

Já tenho lido que ele usa uma língua misturada de italiano e português. Não concordo. Da mistura, que é o sal da nossa terra, Adoniran colheu a flor e produziu uma obra radicalmente brasileira, em que as melhores cadências do samba e da canção, alimentadas inclusive pelo terreno fértil das Escolas, se alia com naturalidade às deformações normais de português brasileiro, onde Ernesto vira Arnesto, em cuja casa nós fumo e não encontremo ninguém, exatamente como por todo esse país. Em São Paulo, hoje, o italiano está na filigrana.

A fidelidade à música e à fala do povo permitiram a Adoniran exprimir a sua Cidade de modo completo e perfeito. São Paulo muda muito, e ninguém é capaz de dizer aonde irá. Mas a cidade que nossa geração conheceu (Adoniran é de 1910) foi a que se sobrepôs à velha cidadezinha caipira, entre 1900 e 1950; e que desde então vem cedendo lugar a uma outra, transformada em vasta aglomeração de gente vinda de toda parte. A nossa cidade, que substituiu a São Paulo estudantil e provinciana, foi a dos mestres-de-obra italianos e portugueses, dos arquitetos de inspiração neo-clássica, floral e neo-colonial, em camadas sucessivas. São Paulo dos palacetes franco-libaneses do Ipiranga, das vilas uniformes do Brás, das casas meio francesas de Higienópolis, da salada da Avenida Paulista. São Paulo da 25 de março dos sírios, da Caetano Pinto dos espanhóis, das Rapaziadas do Brás, na qual se apurou um novo modo cantante de falar português, como língua geral na convergência dos dialetos peninsulares e do baixo-contínuo vernáculo. Esta cidade que está acabando, que já acabou com a garoa, os bondes, o trem da Cantareira, o Triângulo, as Cantinas do Bexiga, Adoniran não a deixará acabar, porque graças a ele ela ficará, misturada vivamente com a nova mas, como o quarto do poeta, também "intacta, boiando no ar."

A sua poesia e a sua música são ao mesmo tempo brasileiras em geral e paulistanas em particular. Sobretudo quando entram (quase sempre discretamente) as indicações de lugar, para nos porem no Alto da Mooca, na Casa Verde, na Avenida São João, na 23 de Maio, no Brás genérico, no recente metrô, no antes remoto Jaçanã. Quando não há esta indicação, a lembrança de outras composições, a atmosfera lírica cheia de espaço que é a de Adoniran, nos fazem sentir por onde se perdeu Inês ou onde o desastrado Papai Noel da chaminé estreita foi comprar Bala Mistura: nalgum lugar de São Paulo. Sem falar que o único poema em italiano deste disco nos põe no seu âmago, sem necessidade de localização.

Com os seus firmes 65 anos de magro, Adoniran é o homem da São Paulo entre as duas guerras, se prolongando na que surgiu como jibóia fuliginosa dos vales e morros para devorá-la. Lírico e sarcástico, malicioso e logo emocionado, com o encanto insinuante da sua anti-voz rouca, o chapeuzinho de aba quebrada sobre a permanência do laço de borboleta dos outros tempos, ele é a voz da Cidade. Talvez a borboleta seja mágica; talvez seja a mariposa que senta no prato das lâmpadas e se transforma na carne noturna das mulheres perdidas. Talvez João Rubinato não exista, porque quem existe é o mágico Adoniran Barbosa, vindo dos carreadores de café para inventar no plano da arte a permanência da sua cidade e depois fugir, com ela e conosco, para a terra da poesia, ao apito fantasmal do trenzinho perdido da Cantareira." (Antonio Candido, 1975)


sexta-feira, 31 de julho de 2009

Veja só, que maravilha!

"A procuradora-geral da República, Deborah Duprat, ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra dispositivos da lei que regulamenta a profissão de músico.

Para Duprat, as regras questionadas não foram recepcionadas pela Constituição Federal e são "flagrantemente incompatíveis" com a liberdade de expressão da atividade artística e com a liberdade profissional.

A ação proposta pela procuradora-geral é uma arguição de descumprimento de preceito fundamental, instrumento jurídico próprio para evitar ou reparar uma violação de algum preceito fundamental da Constituição Federal.

Ao todo, a procuradora-geral contesta 22 artigos da lei que criou, em 1960, a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), estabeleceu requisitos para o exercício da profissão de músico e instituiu o poder de polícia sobre essa atividade artística.

O artigo 16 da lei determina que somente pode exercer a profissão de músico quem estiver regularmente registrado no Ministério da Educação e Cultura e no Conselho Regional dos Músicos com jurisdição na região de atividade do artista.

A procuradora-geral lembra que, ao anular a obrigatoriedade do diploma de jornalista, o STF afirmou que as restrições à liberdade profissional somente seriam válidas em relação às "profissões que, de alguma forma, poderiam trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas".

Ela questiona que tipo de interesse justificaria a restrição à liberdade profissional do músico e a qual risco social estaria envolvido nesta profissão. Segundo Duprat, "se um profissional for um mau músico, nenhum dano significativo ele causará a sociedade".

Duprat ressalta ainda que um dos campos mais relevantes da liberdade de expressão é o das manifestações artísticas, inclusive a música. Assim, essa liberdade é violada com a exigência de que músicos profissionais se filiem à Ordem dos Músicos do Brasil."

Da mesma maneira, é indiscutível a ofensa à liberdade de expressão consubstanciada na atribuição a órgão estatal do poder de disciplinar, fiscalizar e punir pessoas em razão do exercício de sua atividade artística", afirmou a procuradora.A procuradora-geral pede a suspensão dos dispositivos até o julgamento final da ação.

Ela alega que "essas normas criam inadmissíveis embaraços aos músicos profissionais, dificultando o exercício da sua profissão e cerceando o seu direito à livre expressão artística", além de privar "toda a sociedade do acesso à obra destes artistas".

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Reflexões

Estava observando minha foto ao mudar o visual do blog e tive a impressão de que, apesar do sorriso, a flauta aparece mais como ferramenta do que instrumento. E descobrí que é esta foto ainda a mais adequada como apresentação do blog , pois se também quero fazer uso da palavra...digo de outro modo: não dá pra chupar cana e assobiar.

Muita vontade eu tenho de tocar, e o faço. Mas, do jeito que a coisa anda, tenho usado este espaço e a flauta, muito mais para distribuir pauladas (ou flautadas) do que pra falar de música ou compartilhar de assuntos mais amenos, ou ao menos, propriamente musicais.

Outro dia me disseram que eu deveria fazer crítica musical, Deus meu! Dito por um amigo, vejam só! Acho que não existe ofício mais árduo do que este, só de pensar sinto calafrios...Imaginar-me dizendo coisas que penso sobre o que ouço e, o que é pior: tendo que ouvir e ir aos shows e concertos que se anunciam, identificando tendências que a mídia indica como real expressão cultural mas que de fato é apenas a produção de uma certa fatia da população, pressupondo um gôsto musical. Porque infelizmente é isso que tem caracterizado a crítica musical na imprensa brasileira: - o que é que está vendendo ? Uma espécie de jabá temporário, até o próximo artigo.

Pois é, prefiro fazer a crítica da crítica. Por exemplo, Nelson Motta. Ele se anuncia como um decobridor de talentos, arauto dos novos valores. Corro até lá, consulto seu blog ou site, e o que aparece? Rita Lee e Ed Motta. Ótimos os dois mas, tenha dó, tenho autógrafos de ambos datados de quando eu tinha 16 anos de idade...

E o que será que está acontecendo com o Arrigo Barnabé, por exemplo, outro ícone da vanguarda, que agora afirma que descobriu o Lupicínio Rodrigues ?
Pô, Arrigo, na época em que você lançou Clara Crocodilo, ai de mim se dissesse que já gostava de Lupicínio! Mas que bom que ele se livrou desse compromisso com a vanguarda, bandeira tirânica por demais.

Ah, e tem as novas cantoras. Não sei bem quem são, mas cantam Samba, Partido Alto e Bossa Nova. Salvo exceções, o jeito pop com que caracterizam suas interpretações, me faz correr pro colo de Aracy de Almeida, Clara Nunes, Elis Regina. E depois o Nelson Motta ainda diz que o massacre imperialista na cultura brasileira foi apenas uma "paranóia do perfeito idiota latinoamericano", aff...ele diz isso lá no site dele.
Mas aqui estou eu fazendo crítica, deixa as meninas em paz...afinal, pra que tanto saudosismo?

Já pensou se a gente percebesse que só ouve bossa nova porque a novela da globo deixou? Ou que o Tom Zé só virou gênio de uns tempos pra cá porque descobriram ele lá? E que a música indiana não é aquela gritaria na TV e que o Ravi da novela não é o Ravy Shankar?

Dizem que a internet vai resolver tudo isso, mas não é assim tão simples. Os grandes manipuladores da opinião adoram novas ferramentas.
Eu continuo a dar pauladas, digo, flautadas, com meu velho tacape: "É a cabeça, irmão!", aliás, Walter Franco (Nossa!)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Boas Novas! CPT não exige mais a OMB

Resposta da Cooperativa Paulista de Teatro ao meu tópico: Ouvidos Moucos:


" Quando entrou em contato pela primeira vez, discutimos entre os membros do Conselho Administrativo, assim como com os advogados da Cooperativa, a questão do registro na OMB.
Sabemos que essa questão não está judicialmente fechada e a Cooperativa busca trabalhar dentro da legalidade. Isso quer dizer que todos os seus associados devem ser profissionais.
Não é mais exigência da Cooperativa de Teatro que o músico, ao se associar à entidade, tenha registro na OMB. Caso, não tenha, poderá comprovar sua atividade profissional através de currículo, portifólio ou com o material que achar adequado.
Quanto a outras entidades, como o Sesc que você citou, não temos como responder.
Por favor, caso tenha alguma notícia diferente sobre os nossos procedimentos, me informe.

Obrigada,

Maysa Lepique"


Minha contra resposta:

Informo que apesar da lei ser datada de 2007, todos os grupos de Teatro exigem do músico sua associação à CPT para que possam receber e participar de processos de incentivo, como a Lei do Fomento, por exemplo. Isso viabiliza a regulamentação de seus pagamentos, visto que a OMB nunca intermediou essa e outras questões, sem ao menos fornecer nota contratual, entre outros direitos.Qualquer músico, em igual situação pode confirmar o mesmo.

A exigência está claramente disposta no site da CPT no tópico "Como se associar", tanto em grupo como individualmente:

"Caso o interessado não tenha cadastro no CCM e INSS e não possua DRT ou OMB, seu pedido de ingresso será negado."

Não está escrito ou , mas e .

Durante todo o ano de 2007 e 2008 eu trabalhei com grupos de teatro filiados à CPT que justificaram, irregularmente, meu pagamento como "despesas de produção", o que me prejudicou em termos de direito trabalhista. Fui convidada e não pude participar de vários projetos ligados à Lei de Incentivo ao Teatro, por não ter a OMB, pois sem ela não pude me filiar à CPT.
Atuo na área de teatro e música desde 1974, tendo trabalhado sob a direção de Jorge de Andrade, Arutin, Abujamra, Sofredinni, Paulo Herculano, Carlos Castilho, Ilo Krugli, entre outros.
Tenho CCM e INSS e me filiei à OMB em 1975, da qual fiz questão de me desligar depois de um ano.

Devo considerar porém, que uma certa confusão se estabeleceu a partir do momento em que vários músicos entraram na justiça com uma liminar, mas esta foi uma medida temporária utilizada enquanto a OMB entrava com um recurso junto ao Supremo, que perdeu também nesta instância. E até hoje algumas entidades pedem, ao invés da OMB, a liminar.

Ora, a lei foi promulgada, basta cumprí-la, e não trocar seis por meia dúzia, exigindo a liminar!

Todos os processos movidos contra a OMB foram ganhos, isso pode ser comprovado junto a diferentes órgãos que não vem ao caso citar, porém muitos músicos, acomodados ou intimidados, preferem se filiar à OMB exatamente porque as instituições , projetos culturais, escolas de música, grupos e companhias teatrais, etc, continuam com a exigencia.

Portanto, não sou eu quem quer trabalhar na ilegalidade, muito pelo contrário.

A minha insistência junto à CPT se dá, reafirmo, por reconhecer a seriedade que sempre caracterizou esta entidade. E folgo em saber que o que venho reinvindicando há mais de 20 anos está sendo, enfim, praticado pela CPT: um currículum pode, e deve, comprovar o profissionalismo de um artista.

Basta agora que os grupos de teatro associados à CPT sejam informados sobre essa louvável iniciativa.

Informo também que essa questão está sim, judicialmente fechada, mas a OMB tenta por meios criminosos confundir a opinião pública a fim de interromper a torrente de processos movidos por outros Estados da União.

Atenciosamente,

Márcia Fernandes

Ouvidos Moucos

É lamentável que a Cooperativa Paulista de Teatro

insista em fazer "ouvidos moucos" à solicitação de análise da questão: exigência da Carteira da OMB.

Um erro histórico, porém compreensível.

Afinal, a categoria dos músicos vem preferindo se expressar

através de semínimas e colcheias, símbolos específicos da sua linguagem artística,

em detrimento da palavra, que poderia configurar uma comunicação com a sociedade.

É mais do que curioso que uma lei baseada na Constituição de 1988, pós ditadura, não seja considerada

pela classe teatral. É impressionante e decepcionante.

De minha parte, continuarei insistindo, e agora, através de meios legais, a saber, Sindicatos e Entidades

representativas daquilo que ainda não se configura enquanto classe, mas que está a caminho de sê-lo:

Os músicos do Brasil.



Gostaria de contar com a solidariedade da CPT neste movimento, mas parece que a CPT não está consciente

de sua responsabilidade histórica, preferindo considerar esta exigência como um detalhe sem importância,

negando ao músico o seu direito de liberdade de exercício da profissão, ítem da Constituição Brasileira,

obrigando-o a se inscrever numa organização mafiosa e ilegal com a OMB. A existência da OMB não é ilegal,

o que é ilegal é o poder que ela exerce ao ser reconhecida como órgão representativo dos músicos, o que foi anulado

por uma lei que é descumprida pela CPT, pelo SESC e outras entidades que simplesmente fazem de conta que desconhecem a lei.

A CPT, não se isenta de responsabilidade ao fazer essa exigência, pelo contrário, corrobora com um sistema de exploração e intimidação de cidadãos. É lamentável, eu diria, deplorável, porque conheço e reconheço a luta desta entidade na defesa dos direitos do artista brasileiro. Que pena !

terça-feira, 23 de junho de 2009

Jornalista pode. E o músico ?

Para quem acompanha nosso blog, leiam com atenção o comentário do SIMPROIND à minha postagem: Por que OMB ?
Refere-se à desobrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Transcreve declaração do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que classifica esse tipo de obrigatoriedade como ação coorporativista e iniciativa tomada pelos os órgãos de contrôle e repressão à liberdade de expressão no período da ditadura militar no Brasil. Eu já havia lido a matéria publicada no jornal O Globo e iria publicá-la aqui no palavrademusico, mas fico bastante satisfeita co o fato do SIMPROIND ter se manifestado através do mesmo texto.
O que mais os músicos estão esperando para repudiarem definitivamente a OMB? Uma carta de alforria ? Publico aquí o comentário do SIMPROIND:
SIMPROIND disse...
"STF: exigência de outros diplomas pode cair"
Autor(es): Catarina Alencastro e Jailton de Carvalho - O Globo - 19/06/2009.
Para Gilmar, curso específico só deveria ser cobrado de profissões como as da área de saúde, engenharia e direito.
BRASÍLIA. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, admitiu ontem a possibilidade de outras profissões também terem a exigência de curso específico questionada na Justiça. Gilmar previu uma "derrocada" de leis, a partir da decisão do STF que acabou com obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão.
A declaração foi feita um dia após a decisão da Corte de derrubar parte do decreto-lei 972, de 1969, que obrigava jornalistas a apresentar o diploma da área para obter o registro profissional.

- Em Direito, há uma tradição diferenciada.
Antes da faculdade de Direito, tivemos os rábulas (pessoas que advogavam sem ter uma formação específica).
Tenho segurança que a decisão de ontem (anteontem) vai produzir uma derrocada de muitas leis.
Tínhamos uma mentalidade corporativa. Se não houver necessidade de conhecimento científico, (o pré-requisito do diploma)
vai ser considerado inconstitucional - disse.

Para Gilmar, jornalismo não expõe terceiros a risco. Gilmar lembrou que o ministro Celso de Mello, em seu voto contra a
obrigatoriedade do diploma, questionou a necessidade de algumas atividades serem regulamentadas por lei.

- Vamos certamente ter outras discussões no que diz respeito à liberdade de profissão.
Ontem, os senhores viram, por exemplo, a partir da manifestação do ministro Celso de Mello, que apontava já algumas iniciativas de
corporações no sentido de reconhecimento de profissão.
Ele já dizia:
"Faz sentido que determinada profissão, por mais digna que seja, esteja regulamentada em lei, tenha essa organização corporativa? " Ele respondia que não".
Temos muitas leis que certamente não vão se enquadrar nos paradigmas estabelecidos nesta decisão do STF - afirmou.

No voto na sessão de anteontem, o presidente do STF, que era o relator do caso, destacou que um dos principais argumentos para revogar trecho da lei de imprensa foi o de que a legislação impôs uma restrição ao livre exercício das profissões previsto na Constituição.
Gilmar lembrou ainda que função de jornalista não expõe a risco terceiros, em caso de erro.

- A doutrina constitucional entende que as qualificações profissionais de que trata o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição somente podem ser exigidas, pela lei, daquelas profissões que podem trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas, tais como a medicina e demais profissões ligadas à área de saúde, a engenharia, a advocacia e a magistratura, dentre outras várias.

O presidente do STF também declarou que a atividade jornalística não pode ser objeto de fiscalização de um conselho profissional:

- A impossibilidade do estabelecimento de controles estatais sobre a profissão jornalística também leva à conclusão de que não pode o Estado criar uma ordem ou um conselho profissional (autarquia) para a fiscalização
desse tipo de profissão.
O exercício do poder de polícia do Estado é vedado nesse campo em que imperam as liberdades de expressão e de informação.

Na conclusão de seu voto, anteontem, ele afirmou:

- O decreto-lei 972, também de 1969, foi editado sob a égide do regime ditatorial instituído pelo AI-5, de 1968. Está claro que a exigência de diploma de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão tinha uma finalidade de simples entendimento: afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime militar.
Fica patente, assim, que o ato normativo atende a outros valores que não estão mais vigentes em nosso estado democrático de direito.


23 de Junho de 2009 10:57

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Todo apoio à greve da USP



A USP está em greve. Iniciada pelos funcionários, a greve foi contando com a adesão de outros corpos da universidade. Os professores iniciaram a paralisação na segunda-feira. Os estudantes também estão com as atividades paralisadas. Na Unesp, os funcionários estão parados em ao menos 11 campi.

" Mais de 200 policiais militares acompanham a passeata e outros 50 aguardam os manifestantes no destino final da passeata, segundo o sargento da PM Vanderlei Barbosa, que comanda a operação. "Não acredito em novo confronto durante a manifestação. Os grevistas querem apenas expor à sociedade os problemas que encontram na USP", afirmou.(Folha on line, 18/06/2009)"

E viva o sargento! O responsável por esta afirmação: "Os grevistas querem apenas expor à sociedade os problemas que encontram na USP", pasmem, é o sargento que comanda a "operação" - um policial da PM. Mas as garrafas que feriram uma universitária foram atiradas, pasmem novamente, pelo zelador de um edifício. Aliás é impressionante como os zeladores, síndicos e seguranças de edifícios e condomínios estabeleceram, de uns tempos pra cá um poder paralelo com plenos poderes de julgamento, atribuição de penas e multas, regras e horários, obrigações e deveres dignos de uma colônia penal. "Colônia Penal" é também o título de um dos livros mais enigmáticos de Franz Fafka. Mas esse é um outro assunto, apesar de estar diretamente relacionado ao tema em questão.
A reitora Suely, que há pouco tempo atrás dedicava-se à pesquisa de venenos de serpentes, parece ter deixado escapar uma substância equivalente ao seu objeto de estudo científico e, continuando o xiste, o feitiço está mesmo virando contra o feiticeiro, no caso, a Magnífica Reitora. Assim como "Bush,mesmo sem a ajuda da esquerda, foi uma verdadeira catástrofe" (segundo Zizek no Roda Viva),a reitora conseguiu algo que parecia remotamente possível, dada a aparente inércia de manifestações políticas tornadas públicas pela USP nos últimos 30 anos. Digo "tornadas públicas" porque nem sempre o silêncio é indicador de marasmo intelectual e político. Mas o isolamento ao qual é submetido o Pensamento e a Crítica fazendo com que sejam confinados ao espaço físico das universidades nos leva a imaginar que a manifestação coletiva (e pública)no Brasil, fora o Carnaval, pertence ao passado.
Ao contrário do que formulou o sargento, há muitas outras intenções e significados no gesto dos estudantes. Muito mais convincente e honesto do que a manifestação pelo impeachment de Collor, onde os "caras pintadas" mais se pareciam a bonecos manipulados pelo marketing da hora à serviço de interesses aos quais os próprios manifestantes não tinham acesso ou mesmo interesse. No caso da atual greve e passeata o cenário é outro. E o argumento também. A greve da USP demonstra, mesmo à quem dele não participa diretamente, um processo de elaboração de denúncias e respostas às inúmeras tentativas de esvaziamento mental que os poderes públicos vem realizando na área da educação. A proliferação de universidades particulares que transforma a formação superior num mero degrau para o mercado de trabalho, além de não corresponder aos seus objetivos declarados (o acesso ao mercado)e a polêmica questão do ensino à distância acabam por minimizar a função da Universidade enquanto espaço de reflexão e debate. A convivência num espaço de reflexão e elaboração do pensamento é um dos maiores benefícios e oportunidades que a vida universitária proporciona.
Há algum tempo atrás a USP era um espaço público frequentado pela comunidade, ainda que de classe média. Havia shows musicais abertos e divulgados ao grande público.Na concha acústica pude assistir gratuitamente e ao ar livre à Milton Nascimento, Mercedes Soza, Astor Piazolla, entre outros. Os bosques eram abertos, todos os dias da semana. Sob o pretexto da segurança, assim como nos condomínios, esses espaços hoje são fechados ou reduzidos pela colocação de obstáculos, físicos e psicológicos.

Mas como este é um blog que pretende se referir principalmente à opinião e situação dos músicos, eu não poderia deixar de citar a posição lamentável do Departamento de Música e das Orquestras que, querendo ou não, são parte desse organismo. Silenciosos, e este silêncio sim, alienado e acomodado, os músicos com quem pude conversar estão extremamente incomodados com a greve. É como se a pretensa harmonia de sua arte não pudesse ser abalada pelas dissonâncias da transformação. Reacionários, como sempre, os músicos de uma das orquestras preocupam-se com os assinantes que garantem seu salários. Os murmúrios sobre corrupção e desvio de verbas, o afastamento de um dos regentes, não conseguem perfurar a barreira do som alienado de seus corações e mentes. Até quando os acordes da mesma sinfonia irão soar nestes ouvidos moucos?

Em tempo, uma correção: As garrafas foram atiradas por um estudante de Direito. Um jovem promissor, sem dúvida.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Resposta da CPT (Cooperativa Paulista de Teatro)

A Cooperativa Paulista de Teatro enviou-me um e-mail, que segue abaixo:

"Recebemos seu email referente à exigência indevida por parte da Cooperativa Paulista de Teatro de registro dos músicos na OMB para filiação em nossa entidade.
Vou encaminhar essa questão ao Conselho Administrativo da Cooperativa e te retorno até início da semana que vem.
Gostaria apenas de lembrá-la que é regra para filiação à Cooperativa que a/o artista interessada/o deve apresentar seu registro profissional.
No caso dos músicos, o que pode substituir a carteria de filiação na OMB?
Muito obrigada,
Maysa Lepique
____________________________
Maysa Lepique
Cooperativa Paulista de Teatro
secretaria@cooperativadeteatro.com.br"


A pronta resposta da CPT confirma a seriedade da entidade.
A pergunta é bastante pertinente: " No caso dos músicos, o que pode substituir a carteira de filiação na OMB?"
Boa pergunta!
É a ela que estamos tentando responder, há décadas.
Um Sindicato deveria abrigar a categoria, porém, para nenhuma surpresa, a diretoria do Sindicato dos Músicos é composta pelos mesmos integrantes da diretoria da OMB. Quando uma máfia tem a oportunidade de desenvolver seus tentáculos durante 40 anos, é natural que o tamanho do monstro seja avantajado.
Cabe às entidades sérias optar entre um currículo e um número. Aíás, ter um número na OMB jamais foi atestado de qualidade ou profissionalismo.
Quando uma entidade é questionada significa que a entidade é questionada, e não a categoria que ela supostamente representa.Em outras palavras, os músicos continuam existindo e trabalhando, antes, durante e depois da existência ou não da OMB.

domingo, 12 de abril de 2009

Por que OMB ?

Enviei este texto em e-mail para diversos pessoas e não poderia deixar de publicá-lo também aqui pelo nosso blog:

"Amigos músicos e simpatizantes,

Sei que já os venho molestando, com uma certa frequência, através de comunicações a respeito da luta contra a Ordem dos Músicos do Brasil.Creio, porém, que é de fundamental importância que nos posicionemos diante dessa questão, senão por uma motivação histórica ao menos por um interesse pessoal no que se refere à dignidade e melhoria de condições de trabalho de uma categoria que nem siquer assimila essa denominação.
Encaminhei à Cooperativa Paulista de Teatro uma carta, cujo teor é trancrito integralmente abaixo, e pretendo elaborar um abaixo assinado a ser enviado a diversas entidades que continuam indiferentes á Lei que desobriga a filiação dos músicos à tão malfadada OMB. Entidades estas que sempre primaram pela defesa dos direitos do artista.Em breve enviarei o texto do abaixo assinado para apreciação daqueles que porventura queiram participar da elaboração do texto."

Senhores,
Gostaria de saber por que a Cooperativa Paulista de Teatro exige que o músico apresente a Carteira da OMB para se filiar à Cooperativa. A pergunta é fundamentada no que se segue abaixo:

Lei Estadual 12.457 de 31 de Janeiro de 2007
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Lei nº 12.547, de 31 de janeiro de 2007
Dispõe sobre a dispensa de apresentação da Carteira da Ordem dos Músicos do Brasil, na participação de músicos em shows e espetáculos afins que se realizem no Estado de São Paulo.

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1º - Ficam os músicos, no Estado de São Paulo, dispensados da apresentação da Carteira da Ordem dos Músicos do Brasil na participação de shows e afins.

Artigo 2º - Esta lei será regulamentada no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar de sua publicação, estabelecendo-se os critérios e as penalidades a serem impostas aos infratores.

Artigo 3º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, aos 31 de janeiro de 2007.
José Serra, João Sayad, Secretário da Cultura, Aloysio Nunes Ferreira Filho, Secretário-Chefe da Casa Civil. Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 31 de janeiro de 2007.

Publicado em : D.O.E. de 1º/02/2007 - Seção I - pág. 01


Em tempo: no dia 6 de fevereiro, a pretensão de organismos que apóiam a OMB de argüir a inconstitucionalidade da lei foi derrubada pelo Supremo.

No dia 12 de março de 2009 em seção na Assembléia Legislativa de São Paulo foi determinado que um novo inciso seria acrescentado à lei, desobrigando também a Filiação a Ordem dos Músicos do Brasil.

Ainda em março este inciso foi promulgado, aprovado e o atual presidente da OMB declarou, diante da Assembléia Legislativa que cumpriria as determinações da referida lei.

Os motivos que determinaram essas decisões são parte de um longo e extenso histórico de desmandos que a corrupta OMB vem realizando desde 1960, quando o presidente Wilson Sândoli assumiu sua direção, só saindo de lá quando foi declarada a ilegalidade de sua permanência na direção nacional e regional, acumulando cargos.
As eleições foram consideradas fraudulentas, pois nunca são comunicadas aos membros da OMB com a antecedência necessária. É sabido, pública e notóriamente, que o atual presidente, que não foi eleito, é apenas um "testa de ferro" do sr. Wilson Sândoli.
A OMB é um dos últimos bastiões da corrupção e do autoritarismo oportunista que se instituiu no Brasil desde os tempos da ditadura e se especializou na perseguição aos músicos deste país.

Portanto, é no mínimo incoerente que uma instituição como a Cooperativa Paulista de Teatro, que é conhecida pela sua atuação na defesa dos direitos do artista e da liberdade de expressão, continue a exigir esse documento que por lei é considerado inconstitucional.
Já entrei em contato com a Cooperativa, por telefone, e não obtive resposta. Quando abro o site da Cooperativa, vejo que permanece alí a exigência.

O músico não tem para onde correr. A OMB é considerada inconstitucional, ao menos no Estado de São Paulo. A Cooperativa Paulista de Teatro e a Cooperativa Paulista de Músicos, mantém a exigência. O SESC desconhece a Lei.

E então ?
Como fica o Movimento 27 de março? Como fica o sr. Sergio de Carvalho (Cia do Latão)? Como fica o sr. Ney Piacentinni diante dessa questão ?
Estou encaminhando esta carta a diversos artistas para que componham um abaixo assinado, já que aqueles que se declaram publicamente partidários de transformações
(para não dizer "revolucionários") permanecem indiferentes diante dessa dramática situação.
Que ao menos sejam legalistas e cumpram a lei.

Cordialmente,

Márcia Fernandes dos Santos

P.S. Sobre cordialidade, há no Brasil extensa bibliografia a respeito.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

O compositor e a burocracia

Para abrir os trabalhos, tomei a liberdade de postar essa música do Douglas Germano e Kiko Dinucci, autores da mais alta categoria.


O Retrato do Artista Quando Pede (Kiko Dinucci e Douglas Germano)

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o Sesc, tenta o Sesc
Mas se o programador
Não for com a tua cara
Esquece, esquece

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Tenta o Pac, tenta o Pac
Mas se acaso, no projeto
Faltar Cep
Se estrepe, se estrepe

Você gasta o que não tem no xerocão
E a tiazinha sempre diz
Que tá faltando
Um carimbinho de uma data esquecida
Assinatura com firma reconhecida

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Lei Mendonça, Lei Mendonça
Mas se não tiver contra-partida social
Babáu, a água bebe a onça

Pra sobreviver de arte em São Paulo
Vai e tenta a Rouanet
E se o empresário fala
Em custo/benefício
Manda ele se pentear.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Capacitação

Com o perdão da palavra, essa palavra não merece perdão. Os processos amplamente utilizados sob essa denominação pressupõem a atribuição e ampliação de conteúdos necessários ao exercício de certas atividades. Não querendo fugir ao nosso tema, pretendo tecer algumas considerações sobre a aplicação dessa modalidade de treinamento no campo da educação artística e musical, mais específicamente nos chamados "Projetos de inclusão social através da arte". Em primeiro lugar, nesse contexto o conceito de inclusão já é bastante questionável e vago. Parte do pressuposto de que os excluídos estão fora de algo ou de algum lugar onde supostamente deveriam estar e que não estão porque lhes falta outro algo que os incluídos têm e que, se transmitido os tornará também, enfim, incluídos. Outro pressuposto é o de que os primeiros desejam veementemente pertencer ao segundo grupo. De forma didática a teoria dos conjuntos é clara a esse respeito quando nos expõe áreas de intersecção entre diferentes agrupamentos. Definidas as características de cada um procede-se a determinação de critérios que podem ser , por exemplo, os de identificação de semelhanças. Esta área de intersecção pode formar um novo conjunto. Diriam alguns que essa clareza matemática não é adequada a uma prática humanizada de atuação em comunidades carentes. Ocorre que não são poucos os projetos que recorrem à matemática, porém apenas nos quesitos da estatística e da visibilidade. A partir de uma postura salvacionista e atribuindo à arte um não sei quê de magia e sedução, eu diria até de profilaxia , pretendem transformar o mundo, aquele mundo mau dos excluídos, no mundo bom (melhor) através do ensino da arte (a sua, a verdadeira) aos excluídos (imput, output, insider, outsider, impossível não fazer o link...). A propósito, graças à intervenção do Governo Federal no que diz respeito à liberação de verbas algumas ONGs só muito recentemente estão adotando o regime contratual pela CLT, incluindo seus funcionários na categoria de trabalhadores. Este tema será desenvolvido em um futuro tópico e cabe aqui como introdução ao nosso assunto.
Voltemos então à Capacitação. Desde que inventaram a Ong, eu estava lá. Participei de inúmeros projetos inventados por instituições dessa natureza. Portanto minha experiência me capacita, por assim dizer, à uma ampla discussão sobre o assunto.
Os cursos de capacitação (e em alguns casos também os processos de seleção) promovidos por essas instituições chegam a ser constrangedores. Na tentativa de aliar ao ensino das artes uma preocupação social e promover a integração entre funcionários aplicam aos participantes técnicas e dinâmicas de grupo que passeiam entre a afirmação de princípios básicos judaico-cristãos de convivência e as mais recentes versões do "yes, we can! ". Uma dessas técnicas à qual fui recente apresentada chama-se "Jogos cooperativos". Sem o menor constrangimento nosso instrutor nos informou que alguns dos exercícios eram aplicados em setores e empresas com o objetivo de aumentar a produtividade. A partir daí , numa clara adaptação de modêlos norte- americanos à realidade tupiniquim passamos a representar coreografias e a recitar quadrinhas assim como: "Eu vou bem, eu vou bem, e você vai bem também! Legal, legal, legal..." e etc. Outra técnica à qual fui submetida em outra instituição, e nesse caso era um processo de seleção, pedia que preenchêssemos um desenho muito precário onde havia uma figura humana com uma mala e um balãozinho. Na mala deveríamos escrever o que carregamos e não desejamos, no balãozinho o nosso ideal. Não passei.
Chego a pensar se realmente pretendem mudar o mundo utilizando essa série de bobagens. Parece que o mundo já mudou, e pra pior pois, como compreender que educadores, sejam eles graduados ou não, admitam que esse tipo de atividade esteja realmente acrescentando alguma coisa de substancial ao seu conhecimento? Pelo menos é o que afirmam. Parece certo que um abismo de enormes proporções verticais e horizontais vem se ampliando para nos mostrar o quanto os incluídos estão afastados dos excluídos. E nesse processo, ainda que declarações dessa natureza tendam a me colocar ràpidamente no segundo grupo, devemos nos recusar a participar dessas práticas inomináveis se não quisermos colocar em risco a integridade do nosso próprio conhecimento.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O músico brasileiro: esse desclassificado

O músico brasileiro: esse desclassificado

A falta de consciência do músico brasileiro é impressionante. O nível de alienação no que diz respeito não só ao seu papel social mas à sua própria condição profissional é simplesmente incomensurável. É difícil até começar a analisar a questão, tão impalpável é a sua condição. Explicar a um profissional de qualquer outra área, ainda que artística, sob quais condições se abriga o músico, é uma tarefa constrangedora. Não obstante, vamos a ela:
Para atuar profissionalmente requer-se de qualquer cidadão um certificado ou a filiação a um órgão que regulamente a profissão. No caso do músico exige-se a filiação à Ordem dos Músicos do Brasil, instituição cujos desmandos praticados ao longo de décadas são conhecidos pela grande maioria de seus associados, bem como as inúmeras denúncias e tentativas de desautorizá-la a exercer seu poder, poder este cristalizado por uma sucessão de abusos, corrupções, ameaças de morte e perseguição, eleições fraudulentas, entre outros crimes. A começar pelo exame de qualificação, que se assemelha a uma farsa cujo objetivo principal, já que outro benefício não há, é a apropriação do dinheiro pago pelo futuro profissional no ato do exame e nas sucessivas anuidades. Detalhes à parte, pois não é o objetivo dessa análise esmiuçar, mas apenas citar por quem o músico brasileiro se vê representado enquanto categoria, é importante assinalar que durante o tão afamado processo de democratização em nosso país, uma grande conquista se realizou, em parte através de ações isoladas de músicos do sul do Brasil que, requerendo judicialmente a não obrigatoriedade à filiação, apesar do inicial descrédito geral, obtiveram ganho de causa, e em parte por iniciativa de outros músicos que, já filiados à Ordem, conseguiram uma liminar que, vezes sim, vezes não, também os desobriga da apresentação.
Possuidor da Carteira da Ordem, tem então o músico autorização para tocar e receber. Receber o quê? - O Cachet, que teoricamente é estipulado pela OMB mas que de fato é uma fantasia raramente realizada, mesmo porque a citada entidade jamais intercede em nome do artista. No caso de contratos por tempo limitado em instituições sociais (SESC, por exemplo), a quantia é negociada diretamente entre o artista e a instituição, segundo critérios desconhecidos ou ausentes. Não falarei aquí de direitos autorais, pois a náusea se espalharia por todo o texto.
Mas o desconforto ainda pode se expandir ao considerarmos outro aspecto, o mais comum entre os profissionais poéticamente denominados “músicos da noite”. Essas figuras que participam ativamente da vida noturna das cidades e que alimentam uma das atividades mais lucrativas das metrópoles, a saber, a do entretenimento, sejam elas artistas profissionais (portadores da Carteira da Ordem) ou amadores, estão igualmente sujeitas a receberem um pagamento designado por outro termo, também francês: o Couvert artístico. Bien, esse, além de não ser obrigatório, é pago pelo cliente e não pela casa comercial, cujo dono assimilou e atualmente pratica, a ponto de ter se transformado em regra geral, o hábito de retirar de 30 a 50% desse valor para si. Inúmeros são também os casos em que o controle dessa quantia é mais um elemento de ficção. Esse realismo fantástico é mais contundente, a meu ver, quando a isto se agrega o fato de que tal circunstância é acatada pelos músicos enquanto norma (e normalidade) de sobrevivência.
Nem mesmo exceções que se revelam através da procura de soluções satisfatórias a ambos os lados (mesmo porque existem muito mais que dois lados nesta questão) o que nos importa é assinalar que quaisquer que sejam as alternativas, nenhuma delas atribui ao músico a condição de profissionalismo, eu diria, de dignidade profissional. Porque nenhum direito lhe é assegurado, por tributo ou imposto que reverta em aposentadoria ou coisa que o valha, pois o músico nesta condição não é contratado. Ele é, por assim dizer, um agregado.
Há pouco mais de um mês atrás o Jornal da Globo exibiu matéria referente aos 10% atribuídos aos garçons (curiosamente, mais um termo francês! ). E entre uma e outra alusão à instabilidade desse costume, porque também não obrigatório, a reportagem se caracterizava por um tom de indignação chegando até a citar o fato de que, em alguns países a gorjeta (creio que agora em italiano) é considerada humilhante e vergonhosa porque insinua a intenção de esmola (agora em português). Também foi denunciado que vários proprietários de restaurantes ficam com parte significativa dos 10%. Não me foi difícil a comparação, e vale dizer , a evidente desvantagem dos músicos, apesar da semelhança.
Concluindo: o músico paga para a OMB o direito de receber uma esmola que por sua vez, é dividida com o proprietário do estabelecimento e este, a qualquer momento pode dispensá-lo sem maiores ou menores compensações, já que não foi estabelecido qualquer tipo de contrato ou vínculo empregatício. E isso ocorre frequentemente. Não se trata de crucificar o comerciante, na verdade ele cumpre aqui muito mais o papel de Pilatos, lavando oportunamente suas mãos diante da incontestável sentença. E o papel do músico, bem, é o de entreter a clientela pelo maior tempo possível “tocando aquela” durante seis a oito horas por noite. Ao contrário do que se pensa, esta situação não se repete em países onde os sindicatos são organizados, vale dizer, onde a consciência política e de classe é condição de sobrevivência social. Mas no Brasil e similares, o artista se enclausurou na ilusão do exotismo, e dentro de seu casulo criativo sofre as consequências de uma alergia política, mais corretamente denominada: alienação.
É costume dizer que o músico não gosta de pensar, de falar, de questionar, pois a sua linguagem é outra, quase que superior, sensível (há uma comunidade no Orkur denominada: “Cala a boca e toca!”) Ora, a linguagem musical exige reflexão, acuidade, discernimento, crítica, escolha, disciplina, constante estudo e renovação. Falta ao músico consciência e prática política e ética. Acima de tudo falta-lhe coragem e iniciativa para transformar a sua condição de sub-empregado à espera de uma chance e de um prêmio que o mercado só lhe dará se ele adaptar sua arte ao formato de produto. Dois conceitos distintos e discutíveis.
A cada vez que há um salto tecnológico mais se encerram antigos meios de obtenção de renda.Todas as categorias profissionais questionam esse movimento que não traz junto de si apenas a expansão, mas também o retraimento. É necessário saber pensar, raciocinar, questionar, procurar soluções, comprender a função e posição do músico na sociedade, estudar não só música mas, ao menos, a história social da música. Garantir um mercado e não apenas “garantir o seu barzinho”, ou tentar garantir a liberdade de expor o público a diversos gêneros musicais, ao invés de impor um gosto exclusivo como verdade musical, prática esta amplamente difundida pela indústria fonográfica no auge de sua gula mercadológica.
Essa lamentável timidez, preguiçosa e lastimosa, em relação a lutar pelos direitos mais básicos de uma profissão é um atestado histórico de irresponsabilidade. O músico brasileiro ainda vive no Brasil colonial e pensa que a decifração de um código “sentido por muitos, mas comprendido por poucos”o qualifica como artista. A atitude consciente e crítica não impediu que grandes artistas brasileiros e estangeiros, eruditos, populares, cantores, compositores, instrumentistas nos dessem, em condições muito mais precárias, exemplos de dignidade e competência. E isso não prejudicou a qualidade de sua arte,muito pelo contrário.
Pode-se até virar músico na carteirinha. Mas para se qualificar como cidadão e artista, é preciso um pouco mais.