quinta-feira, 18 de junho de 2009

Todo apoio à greve da USP



A USP está em greve. Iniciada pelos funcionários, a greve foi contando com a adesão de outros corpos da universidade. Os professores iniciaram a paralisação na segunda-feira. Os estudantes também estão com as atividades paralisadas. Na Unesp, os funcionários estão parados em ao menos 11 campi.

" Mais de 200 policiais militares acompanham a passeata e outros 50 aguardam os manifestantes no destino final da passeata, segundo o sargento da PM Vanderlei Barbosa, que comanda a operação. "Não acredito em novo confronto durante a manifestação. Os grevistas querem apenas expor à sociedade os problemas que encontram na USP", afirmou.(Folha on line, 18/06/2009)"

E viva o sargento! O responsável por esta afirmação: "Os grevistas querem apenas expor à sociedade os problemas que encontram na USP", pasmem, é o sargento que comanda a "operação" - um policial da PM. Mas as garrafas que feriram uma universitária foram atiradas, pasmem novamente, pelo zelador de um edifício. Aliás é impressionante como os zeladores, síndicos e seguranças de edifícios e condomínios estabeleceram, de uns tempos pra cá um poder paralelo com plenos poderes de julgamento, atribuição de penas e multas, regras e horários, obrigações e deveres dignos de uma colônia penal. "Colônia Penal" é também o título de um dos livros mais enigmáticos de Franz Fafka. Mas esse é um outro assunto, apesar de estar diretamente relacionado ao tema em questão.
A reitora Suely, que há pouco tempo atrás dedicava-se à pesquisa de venenos de serpentes, parece ter deixado escapar uma substância equivalente ao seu objeto de estudo científico e, continuando o xiste, o feitiço está mesmo virando contra o feiticeiro, no caso, a Magnífica Reitora. Assim como "Bush,mesmo sem a ajuda da esquerda, foi uma verdadeira catástrofe" (segundo Zizek no Roda Viva),a reitora conseguiu algo que parecia remotamente possível, dada a aparente inércia de manifestações políticas tornadas públicas pela USP nos últimos 30 anos. Digo "tornadas públicas" porque nem sempre o silêncio é indicador de marasmo intelectual e político. Mas o isolamento ao qual é submetido o Pensamento e a Crítica fazendo com que sejam confinados ao espaço físico das universidades nos leva a imaginar que a manifestação coletiva (e pública)no Brasil, fora o Carnaval, pertence ao passado.
Ao contrário do que formulou o sargento, há muitas outras intenções e significados no gesto dos estudantes. Muito mais convincente e honesto do que a manifestação pelo impeachment de Collor, onde os "caras pintadas" mais se pareciam a bonecos manipulados pelo marketing da hora à serviço de interesses aos quais os próprios manifestantes não tinham acesso ou mesmo interesse. No caso da atual greve e passeata o cenário é outro. E o argumento também. A greve da USP demonstra, mesmo à quem dele não participa diretamente, um processo de elaboração de denúncias e respostas às inúmeras tentativas de esvaziamento mental que os poderes públicos vem realizando na área da educação. A proliferação de universidades particulares que transforma a formação superior num mero degrau para o mercado de trabalho, além de não corresponder aos seus objetivos declarados (o acesso ao mercado)e a polêmica questão do ensino à distância acabam por minimizar a função da Universidade enquanto espaço de reflexão e debate. A convivência num espaço de reflexão e elaboração do pensamento é um dos maiores benefícios e oportunidades que a vida universitária proporciona.
Há algum tempo atrás a USP era um espaço público frequentado pela comunidade, ainda que de classe média. Havia shows musicais abertos e divulgados ao grande público.Na concha acústica pude assistir gratuitamente e ao ar livre à Milton Nascimento, Mercedes Soza, Astor Piazolla, entre outros. Os bosques eram abertos, todos os dias da semana. Sob o pretexto da segurança, assim como nos condomínios, esses espaços hoje são fechados ou reduzidos pela colocação de obstáculos, físicos e psicológicos.

Mas como este é um blog que pretende se referir principalmente à opinião e situação dos músicos, eu não poderia deixar de citar a posição lamentável do Departamento de Música e das Orquestras que, querendo ou não, são parte desse organismo. Silenciosos, e este silêncio sim, alienado e acomodado, os músicos com quem pude conversar estão extremamente incomodados com a greve. É como se a pretensa harmonia de sua arte não pudesse ser abalada pelas dissonâncias da transformação. Reacionários, como sempre, os músicos de uma das orquestras preocupam-se com os assinantes que garantem seu salários. Os murmúrios sobre corrupção e desvio de verbas, o afastamento de um dos regentes, não conseguem perfurar a barreira do som alienado de seus corações e mentes. Até quando os acordes da mesma sinfonia irão soar nestes ouvidos moucos?

Em tempo, uma correção: As garrafas foram atiradas por um estudante de Direito. Um jovem promissor, sem dúvida.

Um comentário:

  1. Muito bom, o texto, mas peço outra errata: nossa ilustre reitora, antes de dedicar-se ao ofício administrativo, pesquisava o veneno do escorpião brasileiro. Curiosa, sem dúvida, a crença popular que afirma ser o escorpião um bicho que, em situações de perigo, atinge a própria cabeça com seu ferrão, morrendo pouco depois por ação de seu próprio veneno.

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