sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Jovem Guarda no Meu Samba

O Brasil é bom. O Brasil perdoa. Todo mundo pode dizer e fazer de tudo, ações contraditórias, irresponsabilidades históricas, injustiças, ah, gente, sei lá, nem sei. O Brasil é tão legal... Não é assim, com todo mundo, né? Também, tá pensando o que? Mas tem alguns que podem. Eu fico feliz por isso. Daqui de cima ou de dentro dos meus 54 anos, e sempre na obrigatória posição de observadora, já que não faço parte da turma, contemplo a alegria da moçada! Vejamos: E hoje, así, no más, me deparo com dois vídeos da Wanderléa, http://www.youtube.com/watch?v=q0BMax7UNzo

http://www.youtube.com/watch?v=a_wl0uvApfs

vejam bem, a Minha Maninha Wanderléa, a Ternurinha, cantando Brasileirinho (W.Azevedo) e Chiclete com Banana (Jackson do Pandeiro) entre outras (Adeus América, de Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa é indicada no vídeo como de Rosa Passos! Nem tinha nascido ainda...) Que estranha simbiose! Vale a pena assistir. Ela, de oncinha e estilo tigresa tenta ser acompanhada por um dos melhores grupos musicais de samba e choro de S.Paulo no programa Sr. Brasil. O Sr. Brasil, sempre muito cordial, faz as honras da casa. Enquanto Ternurinha erra a letra,faz trejeitinhos no meio do palco, ao fundo o, assinalo, excelente grupo musical, um pouco tenso talvez pela concentração que o disparate exige, mantém a linha tentando salvar a canção das garras da moça que, entre pequenos guinchos, caras e bôcas, desempenha o seu mais recente papel.
Então fui me informar e fiquei sabendo por exemplo, segundo o texto veiculado pela produção da estrela, que: "É tempo de nova estação para Wanderléa, que retorna ao disco com repertório inédito após mais de uma década, no CD Nova Estação.O repertório traz desde um sucesso de Jackson do Pandeiro (Chiclete com banana) a uma balada de Arnaldo Antunes (Se tudo pode acontecer) passando por Martinho da Vila (Choro Chorão), Chico Buarque (Mil perdões), Geraldo Azevedo (Dia Branco), Rodgers & Hart (My Funny Valentine), Thomas Roth (Nova Estação), sem esquecer Roberto & Erasmo Carlos (Samba da preguiça e Todos estão Surdos. Em 1963,na gravadora CBS conhece Roberto e Erasmo Carlos, com quem passa a apresentar, em 1965, o programa Jovem Guarda (TV Record/São Paulo), uma das maiores audiências da TV brasileira e que Wanderléa considera a mais importante experiência na sua vitoriosa carreira de quatro décadas. Com o fim do programa,ela segue firme como estrela do pop brasileiro em discos históricos como Wanderléa Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975), Vamos que eu já vou (1977) e Mais que a paixão (1978)." Isso é o que eles dizem, a verdade histórica que eles inventaram.
É sabido, creio, que Wanderléa é uma das cantoras (sic) mais desentoadas da história da música brasileira. Apresenta visíveis e audíveis dificuldades rítmicas e melódicas, pra não falar das harmônicas, o que já seria pedir demais. Pertencente ao nefasto Movimento(sic) denominado Jovem Guarda que era capitaneado pelo Rei (sic, eu já estou com soluços) Roberto Carlos, Wanderléa representava a sensualidade (sic) e a doçura (sic), o modelo feminino da juventude brasileira que não precisava se incomodar com a ditadura. Uma "garota gostosa", de classe média (reacionária) e sem problemas, a não ser "pedir ao sr. juiz que pare agora! o casamento que vai ser pra mim todo o meu tormento". O programa Jovem Guarda vendia essa imagem: tres jovens legais, dois meninos e uma menina que só queriam nos dar alegria através da música (sic) e de sua saudável amizade. E, claro, vendendo produtos de péssima qualidade, assim como suas canções, da marca "Calhambeque". Umas saiazinhas, cintos e chapéus de uma estampa riscadinha, horríveis, assinados pelo Rei, que naquela época acho que ainda não havia alcançado esse posto. As roupas eram tão feias e tão ruins que o projeto naufragou. Roberto Carlos, como todos sabem, foi reconhecido como grande astro pelos nossos pavões reais, que na época estavam sendo perseguidos(sic) Caetano e Gil. Representante máximo da Cultura de Massa no mercado do disco no Brasil, fenômeno da indústria fonográfica que enriqueceu não só a ele mas a diversos produtores de carater variavel...O Roberto Carlos é legal... Erasmo Carlos, sempre totalmente fora de si, O Tremendão, já exibia umas olheiras enormes que deviam dar muito trabalho pra equipe de maquiagem do programa vespertino. Fazia um tipo meio cafajestão (faz parte do perfil do Brasil cordial), mas no fundo, era legal, bonzinho e tudo. Aquele homenzarrão cantando: "Eu queria ser, o seu caderninho" que Mostrar tudotem um verso impagável: "inclusive, na escola eu iria com você entrar"...Inclusive, é legal. Ah! e tem "A carta", legal também, rimando e com direito à excelente cacofonia: Que tu tiveste só entusiasmo,(...) do sempre, sempre seu, Erasmo". Em comoventes interpretações de extrema carência artística, os rapazes assumiam ares de rebeldia, no melhor estilo "gang" de bairro classe média. Agora, proponho um jogo: Vamos colocar juntas as expressões que estão grifadas no texto acima, e mate a charada: Se tudo pode acontecer; Mil perdões;Dia branco;Samba da Preguiça; Se todos estão surdos; Se não deu ainda, continuemos: 1963-1965 (o que foi que aconteceu mesmo nessa época?);Jovem Guarda; TV brasileira;Vitoriosa carreira de quatro décadas;Estrela do pop brasileiro em discos históricos (que discos históricos? Por acaso alguém conhece esses discos?); Feito gente. O que é mais legal ainda é o recado que envio ao excelente grupo de amigos e instrumentistas, artistas de seriedade e inegável valor, por favor, abram os olhos e os ouvidos: "Só ponho Jovem Guarda no meu samba quando o iêêiê pegar no tamborim"

4 comentários:

  1. Olá, Márcia! Bom descobrir o teu canto virtual! Gostei de ver, sentando a madeira, no estilo que a gente gosta. Devagar vou me inteirando do conteúdo. Abraço grande!

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  3. Wanderléa atacando de brasileirinho... mas sempre que for criticada ela pode apelar para a dignidade de suas rugas de colaboracionista decadente, disso não duvidamos. As letras da jovem guarda são óbvias e tediosas, mas, cá entre nós, a letra do brasileirinho não é nenhum canto de resitência. A melodia, é claro, tem muito mais qualidade, embora, como todo chorinho, caia às vezes num virtuosismo de salão. Mas o que dizer da música de Jackson do Pandeiro? Será ela somente um hino ao conformismo, já que produz musicalmente a reconciliação que sua letra nega? Não saberia confirmar isso, mas me parece que o nacionalismo utópico da música brasileira pré tropicalista,tornou-se um conceito conservador (e isso acabou acontecendo ao tropicalismo também, vide Caetano e sua trupe). Digo isso do ponto de vista de quem não viveu o momento que o seu texto reconstrói. Por isso, para mim, a tensão entre as correntes musicais mencionadas nunca aparecem de forma clara. ignorância minha, óbvio, mas também adensamento histórico. Não que essas tensões estejam resolvidas hoje, mas elas migraram para outras regiões. O texto traz à tona o passado vivo, com suas tensões e conflitos. Pra quem como eu, só apareceu em cena depois que a cortina fechou isso incita a imaginação. Gostaria de ler mais textos empenhados na reconstrução desse cenário. Pelo que pude pesquisar, não existem muitos.

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  4. Caro Cronópio,
    Muito incitante o seu comentário e já me ponho em marcha para compor alguns elementos desse cenário.Muitas vêzes nos esquecemos de que a cena vivida passa a ser história e últimamente temos visto iniciativas que se pretendem biográficas na assustadora exaltação de nomes que estão mais para Famas do que para Cronópios, vide Simonal e até mesmo Arnaldo dos Mutantes. Abramos a cortina, pois. Abraços.

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